Essa Classe C emergente tem arte e é plena felicidade na praia de todos nós
Estamos bastante ocupados nesta tempoarada de verão diante da grande quantidade de turistas que circula no Pelourinho, daí que aumentei bastante a venda de toucas e também estou sendo mais requisitado para tocatas com meu tamborim nos ensaios carnavalescos e lavagens; e dona Celeste Esmeraldina Silva, minha consorte que vocês conhecem como Dona Céu, também está fazemto muitos tererês nos cabelos das gringas. Portanto, Nosso caixa está em alta.
Claro que a temporada de verão passa e temos que nos resguardar, segurar as economias porque tá todo mundo dizendo que teremos um ano de 2015 dificil, de crise, dessas coisas que os economistas falam e ninguém entende, da anarquia que são os governos que nunca se consertam e só querem gastar mais do que arrecadam.
Por isso, lá em casa, a lei é dura. Não diria que seja igual a da Idonésia, mas, é firme. A gente só gasta o que pode. Nada de puxadinhos, de aditivos, nem de jeitinhos.
Também é obvio que, mesmo diante desse movimento todo de turistas, eu e Céu de vez em quando damos uma escapulida no domingo para ir a praia, pois, ninguém é de ferro, tudo como moderação, porque nós não temos empregos no TCE nem no TCM, nem somos da Assembleia como a doutora Rita da Harley Davidson, mas damos nossos pulinhos, sempre com moderação.
Tamto que no último domingo fomos a praia e tive uma discussão braba com Céu, justo porque quando falei que já tinha organizado as bebidas e os tira-gostos de frios no 'isoporzinho', a mulher subiu nas tamancas, a 'madame' rodou a baiana parecendo uma pomba-gira, dizendo que ela era uma Emergente da classe C, futura chique, e não iria à praia carregando alça de 'isoporzinho' nem que a 'vaça tuça', 'nem que a porca torça o rabo' e tive que ponderar, tive que dialogar como faz esse pessoal do PT, tive que reunir o meu conselho familiar, para dizer que não via nada demais, que a gente iria era economizar porque a cerveja está custando os olhos da cara nas praia, o queijo coalho idem, o acarajé já custava R$8,00 o completo, e o que fiz foi 'conter gastos'.
- Imagina se vou chegar no Farol da Barra, no novo calçadão de Neto - fala assim com intimidade ao se referir ao prefeito - carregando 'isoporzinho'. Se vou colocar minha sandália salto alto Carmen Stefanes, minha canga com motivos de Romero Brito, meu pana-China, meu batom Hydra Extreme Color, levando 'isoporzinho'. Nem morta. Essa fase de pobreza minha já passou', comentou.
- Não vejo nada depreciativo nisso.
- E você já viu alguma Catarino! alguma Góes! alguma Albuquerque! alguma Calmon! alguma Dumet! indo a praia lvando isoporzinho?
- Entenda que você é uma Silva e ainda não pode se comparar com essas madames chiques da Barra e da Graça, que nós moramos na Caixa D'Água, que nós temos Fiat Uno, que nosso dinheiro é curto e esse 'isoporzinho' aqui - apontei para o artefato - tá repleto de periguetes, 6 empadinhas, um proseco, duas taças e duas coxas de galinha e tudo isso só nos custou R$40,00.
- Tudo bem! Nós vamos pra praia e você leva esse tal de 'isoporzinho' em suas costas e eu armo minha tenda distante uns 5 metros pra não passar vergonha.
- Tá certo 'madame Silva', arreliei.
- Lembre que sou uma Silva como o nosso 'eterno presidente', como muito orgulho, e ele também evoluiu e anda é vestindo Armani e usando Panamá legitimo.
- Lá vem você sempre falando do presidente. Daqui a pouco também vai elogiar o 'galego', agora ministro.
- Este eu votei nele, mas, prefiro não elogiar porque fiz muita força para conseguir um Reda e o governo dele passou e não arrajei nada. Fiquei com a mão abanando e a sola do sapato gasta de tanto andar pro CAB, comentou.
- Quem manda ser Silva! - voltei a pilheriar. Se fosse uma Duarte, uma Viana, uma Fernandes, tava colocada.
- Não sou mal-agradecida. Temos agora novo governo e quem sabe não serei contemplada! frisou dando por encerrada a conversa dizendo que, em 2018, vai votar no Silva para presidente.
E assim, passado esse primeiro entrevero, seguimos para o Farol da Barra, o 'burro de carga' carregando o 'isoporzinho' e os sombreiros e a madame à distância com todo seu charme, o bico pintado de vermelho, uma bolsa amarela com a toalha e protetor solar.
Armadas as tendas, cada qual no seu canto, Céu se lambuzou toda de óleo de amêndoa, se expôs ao sol e eu fiquei na minha tomando minhas 'periguetes' e, claro, paquerando-a de longe.
Como vi que ela não estava comprando nada, só tomando sol, levei uma latinha para ela e uma empadinha de frango.
- Vou aceitar por educação, mas, fique sabendo que tenho dinheiro para comprar minha cerveja e meu queijo coalho.
- Se quiser outra é só pedir que lhe trago, poderei voltando para meu sombreiro.
Nesse vai e vem, já tinha ofertado três latinhas a Céu, diria que ela aprendeu a gostar de cerveja com a irmã Rilza Cervejão e com Andrea do Lady Lú, dignissimas cervejeiras, praia lotada, gente como quê, vem um camarada com pinta de galã e arma sua cadeira entre nossos sombreiros.
Aí já fiquei invocado, já comecei a não gostar da coisa, pois, vai que o posudo resolve dar um mergulho e pede a Céu pra olhar sua sandália, para ficar de olho em sua camisa, e eu de lá olhando aquilo e me inchando, me retando, a ponto de me dirigir a madame e dizer: - Ou você vai lá pra minha tenda ou volta pra casa de buzú.
Seu moço...foi um panavueiro, um pau da zorra na praia, mas, com a minha arte do convencimento ela acabou cedendo e trouxe sua cadeira de praia para junto da minha, tive o cuidado de colocar o 'isoporzinho' entre as duas cadeiras, retirei a garrafa de Proseco que tava geladinho, passei o guardanapo na boca das taças e alí mesmo espoucamos a rolha ao ar fazendo um brinde ao verão.
De quebra, taças em mãos, foto para a posteridade, coloquei duas coxinhas da galinha num prato e aí mesmo traçamos as ditas com Proseco.
É a vida...o amor é lindo, a classe C também tem seus encantos.