Barra residencial se torna Barra eventos e vira terra forasteira onde tudo pode
Tasso Franco , da redação em Salvador |
17/12/2025 às 09:41
Carlos Muniz promete analisar problema da Barra
Foto: BJÁ
Por enquanto, a CMS (Câmara de Vereadores) está distante dos problemas enfrentados pelos moradores do bairro da Barra, um dos mais antigos da cidade, local da chegada de Thomé de Souza para fundá-la, em 1549, integrante do quadrilátero ampliado do Centro Histórico de Salvador e que se transformou numa babel, numa terra de ninguém e de todos, como local de eventos de toda natureza sem respeito e atenção a quem reside no local.
A Barra abrigou o núcleo inicial da Capitania da Bahia, em 1538, com a instalação do povoamento da Vila Velha do Pereira até que a Coroa Portuguesa decidiu instalar um governo Geral no Brasil com sede na Bahia. Bairro de muita história e único da cidade que abriga três museus-fortes militares, hoje, de Cultura.
No último final de semana, além de uma manifestação de protesto contra o feminicídio com bandas de percussão, houve um carnaval antecipado com desfile de 6 trios elétricos, uma bagunça geral com ruas interditadas sem quaisquer avisos antecipados aos moradores que ficaram isolados, ilhados e desamparados. E, de quebra um lual no Porto da Barra madrugada à dentro até o raiar do sol de domingo.
Os vereadores da capital não estão discutindo esse tema e parecem pouco interessados nele, salvo ações pontuais da vereadora Aladllce Souza diante da implantação de um cojunto de edifícios na Rua Barão de Itapoan, da Consbat, assim como da mesma vereadora uma mobilização para impedir o fim de uma área verde no Morro Ipiranga.
A Barra já teve um representante na CMS, Pedro Godinho, mas não foi reeleito. Hoje é um bairro órfão de representação política na CMS e na Assembleia Legislativa onde alguns deputados moram nele. Mas a Barra, pelo visto, só é boa para usufruto. O prefeito Bruno Reís, só lembrando, foi bem votado na Barra, mas, a Prefeitura liberou geral a Barra.
O presidente da CMS, Carlos Muniz, disse ontem aos jornalistas em café da manhã do final de ano, que a Casa Legislativa vai analisar essa questão da Barra/eventos ouvindo as partes, os atores interessado nesse tema e adotar alguma providência.
A questão é que a CMS entra em recesso hoje e só volta em fevereiro; e a Assembleia também. E, nessa época do ano, é quando se tem mais eventos na Barra desde lual, marchas evangélicas, corridas de rua, carnavais, protestos políticos, pagodes, trotois e assim por diante. E o Carnaval, por posto, é no início de fevereiro. Portanto, o inferno vai se instalar na Barra até, ao menos, a quarta-feira de cinzas. Aliás, a quinta feira de cinzas pois os carnavalescos não respeitam sequer a quarta de cinzas dos católicos.
A pergunta que se faz é a seguinte? Por que tudo relacionado a eventos - e 2026 é ano eleitoral vai se ampliar o inferno astral - acontece na Barra no trecho Barra-Barra, entre o Porto da Barra e o Morro do Cristo, numa distância de pouco mais de 2km quando a cidade tem muitas áreas para abrigar esses eventos.
Por que não levá-los para o CAB? O deputado Hilton Coelho (PSOL) propôs em indicação na ALBA fechar o CAB aos domingos para a prática esportiva e de eventos.
Por que não fazem as marchas, corridas, protestos, nas áreas do CAB, Pituaçu e Parque dos Ventos ou mesmo no Parque da Cidade?
Não. Tudo acontece na Barra um bairro residencial da classe média, provavelmente por sua história e idade, o que abriga a maior quantidade de velhos (e eu sou um deles e no meu prédio de 9 andares tem mais 20 como eu, todos velhinhos) e não há o mínimo respeito. Na época do Carnaval, absurdamente 10 dias, quem mora na Barra ou se muda para algum lugar; ou fica na prisão, enjaulado.
Nesses últimos três anos subiram na Barra entre 25 a 30 novos prédios de apartamentos, a maioria residenciais ou mistos. Só no Jardim Brasil foram 6 novos prédios e mais um vem por lá já com placa no local. A infra do bairro é a mesma. Entre a Marques de Caravelas, a Afonso Celso e a Marques de Leão são mais de 10 novos prédios; e no Morro Gavazza mais dois gigantes arranha-céus. Todos são residenciais e sequer analisasse a questão da proximidade dotando-os de áreas de serviços em padarias, lavanderias, salões de cortes de cabelos, etc.
Há inclusive uma especulação em torno desse sub-item de investidores comprando apartamentos menos para realuga-los uma vez que o digito promocional é a Barra eventos, a Barra Carnaval.
Está na hora, pois, dos vereadores de Salvador analisarem essa questão com profundidade e estabelecerem algumas normas em lei. Se é para a Barra ser transformado num bairro carnavalesco e de eventos que se estabeleça no papel, na lei. A cidade está em movimento e os vereadores não estão observando essa nova realidade. (TF)