Política

O QUE REVELAM MENSAGENS RELATÓRIO PF SOBRE BOLSONARO, FILHO E MALAFAIA

Uma trapalhada sem fim que pode resultar na prisão antecipada de JB
Da Redação ,  Salvador | 21/08/2025 às 09:50
Briga entre pai e filho
Foto: Marcos Corrêa PR
O relatório da Polícia Federal, que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), levou à tona tensões na relação entre pai, filho e aliados. Mensagens expostas no documento, obtidas por meio de perícia em telefones apreendidos do ex-chefe do Executivo, mostram ofensas e preocupações com uma possível perda de apoio de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. 

Uma das trocas de mensagem entre Jair Bolsonaro e Eduardo que mais chamou a atenção ocorreu na tarde do dia 15 de julho, após entrevista do ex-presidente ao Poder360. Na ocasião, citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como aliado e, ao falar do filho, disse: "Ele (Eduardo Bolsonaro), apesar de ter feito 40 anos de idade agora, né... ele não é tão maduro assim, vamos assim dizer, talhado para a política... tá bem. Ele acerta 90% das vezes, 9% quando meio e 1% está errando".

As declarações irritaram Eduardo, que reagiu de forma explosiva em mensagens de WhatsApp: "Eu ia deixar de lado o histórico do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360, estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende. Vtnc seu ingrato do c******".

O deputado prosseguiu com as reclamações: "Me f****** aqui. Você ainda ajuda a se f**** aí!" e "Se o imaturo do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, porque você me joga para baixo, quem vai se f*** é você e vai decretar o resto da minha vida nesta p**** aqui. Tenha responsabilidade!"

BRIGA PAI E FILHO
 
Pai e filho também discutiram ações levando em conta o apoio do governo estadunidense, com o qual Eduardo se tornou interlocutor, ao lado do blogueiro Paulo Figueiredo. Nas mensagens, o parlamentar sugere manifestações ao ex-presidente, visando agradar a gestão de Trump

No dia 10 de julho, por exemplo, Eduardo critica o pai por não ter publicado um "tweet vaselina", ou seja, um gesto de agradecimento a Trump. "Uma guerra de cada vez. O cara mais poderoso do mundo está a seu favor. Fizemos a nossa parte. Se o maior beneficiado não consegue fazer um tweet vaselina, aí realmente ferrou. Você tem sido o meu maior empecilho para poder te ajudar", afirma o deputado.

Após a repercussão do relatório, Eduardo tratou de amenizar a discussão com o pai. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o parlamentar se pronunciou sobre o indiciamento e disse que os xingamentos a Jair Bolsonaro, conforme mostrou a PF, são 'conversas normais entre pai e filho'. 

“É lamentável e vergonhoso ver a Polícia Federal tratar como crime o vazamento de conversas privadas, absolutamente normais, entre pai e filho e seus aliados. O objetivo é evidente: não se trata de justiça, mas de provocar desgaste político”, escreveu o deputado.

Outras mensagens obtidas pela PF nos aparelhos apreendidos de Bolsonaro mostram conversas com o pastor Silas Malafaia, dono da igreja evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec). No conteúdo, o líder religioso faz duras críticas a Eduardo, a quem classificou como inexperiente e prejudicial à estratégia do grupo. 

"Esse seu filho Eduardo é um babaca inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior. ESTOU INDIGNADO! Só não faço vídeo e arrebento com ele por consideração a você. Não sei se vou ter paciência de ficar calado se esse idiota falar mais alguma asneira", escreveu em uma das mensagens enviadas a Bolsonaro no dia 11 de julho de 2025, às 17h55.

As críticas de Malafaia contra Eduardo continuaram em novos áudios enviados ao ex-presidente. Ao elogiar a postura do senador Flávio Bolsonaro em entrevista à GloboNews, voltou a atacar o deputado. "E vem o teu filho babaca falar merda! Dando discurso nacionalista, que eu sei que você não é a favor disso. Dei-lhe um esporro, cara... mandei um áudio pra ele de arrombar. E disse pra ele, a próxima que tu fizer eu gravo um vídeo e te arrebento! Falei pro EDUARDO. (...)", declarou.

Além de remeter o relatório à Procuradoria-Geral da República (PGR), Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), também determinou o cumprimento de mandado de busca e apreensão e aplicou medidas cautelares ao pastor, como a proibição de deixar o país e manter contato com outros investigados. 

Indiciamentos de Jair e Eduardo Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho Eduardo Bolsonaro (PL) foram indiciados nesta quarta-feira, 20, pela Polícia Federal pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito por meio da restrição ao exercício dos poderes constitucionais.

“Com base nos elementos probatórios apresentados neste relatório, conclui-se que Eduardo Nantes Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro, com a participação de Paulo Figueiredo e Silas Lima Malafaia, encontram-se associados ao mesmo contexto, praticando condutas com objetivo de interferir no curso da Ação Penal n. 2668 - STF, processo no qual o segundo nominado consta formalmente como réu”, diz trecho do inquérito.

Com a conclusão da investigação por parte da PF, o relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, por sua vez, pediu manifestação à Procuradoria-Geral da República. 

Segundo o documento, Eduardo Bolsonaro tem atuado em neste ano junto a autoridades dos Estados Unidos com o objetivo de obter sanções contra agentes do Estado brasileiro, principalmente do STF, Procurador-Geral da República e Polícia Federal.

A partir da recuperação e análise de dados do celular apreendido com o ex-presidente, a PF identificou conversas de “tom relevante para investigações” com Eduardo. Em 3 de agosto, dia de manifestações de apoio ao ex-presidente, houve uma grande atividade de compartilhamento de vídeos relacionados às sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, no aparelho.

“Diante da grande quantidade de arquivos, a investigação pontuou os principais conteúdos compartilhados no dia 03.08.2025 pelo investigado Jair Bolsonaro, com o objetivo de utilizar redes sociais de terceiros, para burlar a ordem de proibição à retransmissão de conteúdos imposta pelo justiça”, diz trecho.

O relatório também resultou em mandado de busca e operação contra o pastor Silas Malafaia, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, em um voo oriundo de Lisboa, em Portugal.