Esquerda e direita se engalfinham no Brasil diante do tarifaço de Donald Trump para verificar ganhos e perdas políticas com a esdrúxula e ideologizada medida adotada pelo presidente dos Estados Unidos taxando as exportações brasileiras em 50%, algo completamente fora do esquadro, a partir de 1º de agosto.
Ainda não se sabe se a medida vai vigorar ou não pois Trump tem recuado nesse mesmo tema quando as negociações diplomáticas entram em campo. O presidente Lula da Silva adotou uma postura de cautela e defende um diálogo entre as partes sem, no entanto, ceder a soberania brasileira e os direitos que a Constituição brasileira garante.
Ou seja, não significa sentar na mesa e aceitar o que pleiteia os EUA uma vez que o ato de Trump contém um viés política na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, críticas ao STF e as relações do Brasil com as mídias sociais.
Trump, portanto, misturou as questões de natureza política com a economia o que, Lula já disse, é inaceitável para o Brasil, uma vez que uma coisa é a economia; e a outra a política. E, no Brasil, os poderes Executivo e Judiciário são separados e autônomos.
Trump, no então, acha que há uma perseguição a Bolsonaro e está tudo junto e misturado - Lula, STF, Congresso e quem mais for. Portanto, enquanto as negociações propriamente ditas ainda estão engatinhando - Lula disse que vai convocar os empresários para fazer os debates iniciais e o governo melhor se embasar - o tarifaço já provoca preocupações e perdas nas exportações do pescado segundo nota da Abipesca. E outros setores exportadores - café, laranja, carne, aviões - estão em sobressalto.
Nesse meio circulam as opiniões políticas e alguns comentaristas mais apressados já dão ganho a Lula e a esquerda entendendo que as medidas vão prejudicar a direita. Por outro lado, os direitistas, especialmente os governadores de SP, Goiás, Minas e Paraná apontam que o responsável pelo tarifaço é a política canhestra de Lula e do seu governo. Nas redes sociais as postagens são intensas de lado a lado.
Em nossa opinião, a população brasileira popularmente chamada de povo e eleitor ainda não se ligou no assunto porque não chegou na sua mesa, no seu círculo. O assunto é complexo e enquanto ele não sentir prováveis reajustes de produtos na sua casa estará pouco (ou nada) dando atenção a esse tema.
O importante destacar, também, é que nesse caso, a política subiu para o andar de cima, o mercado - os empresários que produzem e geram divisas ao país - e são relegados a um plano secundário e até terciário no Brasil. Pelo exposto, o governo Lula sinaliza inclusive altas taxas ao que se chama de mais ricos, aumentar o IOF e outros mecanismos de mais impostos para resolver seus problemas de caixa.
Agora, o próprio Lula disse ontem na TV que vai convocar os grandes empresários exportadores para conversar, se informar, e o governo tomar uma posição de bom senso. Brigar com os EUA não é uma coisa agradável, nem fácil.
Portanto, ainda é muito cedo para se dizer (ou se saber) quem vai ganhar alguns dividendos em votos junto à opinião pública, uma vez que ainda se está na inicial do processo. É preciso aguardar mais um pouco o andar da carruagem para se ter uma ideia mais aproximada do que vai acontecer, de fato.
Um efeito, na preliminar, parece consensual: Trum com seu tarifaço incendiou a polarização politica no Brasil entre os dois grupos radicais - esquerda e direita - e inseriu no contexto o mundo empresarial que, também politicamente, sairá mais forte. Ou ao menos vai ser ouvido pelo governo e não tratado como um pária., (TF)