Política

PF ENCONTRA MAÇOS DE DINHEIRO EM CLOSET DE EX-PREFEITO DE PARATINGA

Pilhas de dinheiro bem armazenadas de notas de R$50,00 e R$100,00 amarradinhas
Tasso Franco , Salvador | 27/06/2025 às 18:46
Closet de roupas e notas de
Foto: PF
A Polícia Federal apreendeu R$ 3,2 milhões em dinheiro vivo na casa do ex-prefeito de Paratinga (BA) Marcel José Carneiro de Carvalho. A contabilização do dinheiro, iniciada na manhã, só terminou no fim da tarde desta sexta-feira (27). A casa do ex-prefeito foi alvo de buscas, onde a PF encontrou os maços de dinheiros em gavetas de, pelo menos, dois armários.

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão na quarta fase da Operação Overclean, que investiga suspeita de desvio de emendas parlamentares.

A Polícia Federal (PF), a Receita Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) atuam em conjunto na operação que mira o deputado federal Félix Mendonça (PDT-BA), o assessor dele e prefeitos de municípios baianos.

Em nota, o deputado Félix Mendonça negou que ele ou o assessor tenham cometido irregularidades, e que os repasses foram destinados para aplicação "de forma lícita, com obtenção de ganho exclusivamente político".

Já a defesa do ex-prefeito de Paratinga Marcel José Carneiro de Carvalho afirmou, em nota, que fará o necessário demonstrar a legalidade da atuação do ex-gestor.

A ação investiga o repasse irregular de emendas parlamentares enviadas pelo deputado a três municípios do estado, com indícios de que o assessor dele atuava como principal operador financeiro do esquema.

Ao todo, a PF cumpriu 16 mandados de busca e apreensão na capital Salvador, e nos municípios baianos de Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga. Além disso, três servidores públicos foram afastados cautelarmente das funções.

OPERAÇÃO NA QUARTA FASE 

Entre os investigados está o deputado federal Félix Mendonça (PDT-BA), que teve o sigilo telefônico quebrado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). O assessor dele, Marcelo Chaves Gomes, apontado como operador financeiro do esquema, foi afastado do cargo e também teve residência e local de trabalho vasculhados.

Dois prefeitos da Bahia — Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira (Ibipitanga) e Alan Machado (Boquira) — foram afastados dos cargos por suspeita de participação direta no esquema, além de serem alvos de mandados de busca. Segundo a PF, todos esses gestores têm ligação política com o deputado investigado, e suas cidades receberam repasses suspeitos de emendas.

A investigação teve início a partir de denúncias relacionadas ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e revelou a atuação do empresário Marcos Moura, conhecido como o “Rei do Lixo”, apelido dado pelos contratos milionários firmados na área de limpeza urbana.

Ligado ao partido União Brasil, Moura chegou a ser preso preventivamente na primeira fase da Overclean, mas foi solto posteriormente por decisão do TRF-1. Documentos encontrados pela PF indicam a venda de um imóvel de sua empresa ao deputado Elmar Nascimento, líder do União Brasil na Câmara, o que levou o caso ao STF.

A Overclean já passou por outras três fases antes da ação desta sexta:

2ª fase (dezembro de 2024): Prendeu o vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Cafezeiro (Republicanos), além de bloquear bens e afastar servidores públicos.

3ª fase (abril de 2025): Teve como alvo o então secretário de Educação de Belo Horizonte, Bruno Barral, de cuja residência foram recolhidos dólares, euros, joias e relógios de luxo.

As investigações revelam uma possível organização criminosa estruturada para fraudar contratos, superfaturar obras públicas e redirecionar verbas para empresas e aliados políticos, ignorando regras de transparência e impessoalidade exigidas pela administração pública.

A operação tem autorização do Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Nunes Marques, e deve continuar com novas quebras de sigilo e possíveis prisões, à medida que mais provas são reunidas.

A Polícia Federal segue investigando o alcance do esquema e o possível envolvimento de outros agentes públicos. Segundo estimativas iniciais, mais de R$ 1 bilhão em recursos públicos podem ter sido desviados em contratos manipulados com recursos de emendas parlamentares.