Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.
Valdeck Ornelas , Salvador |
13/01/2025 às 13:07
Biblioteca dos Barris caída e necessitando de investimentos
Foto: BJÁ
Quando, em Salvador, se fala em Centro Histórico, as atenções costumam voltar-se para o Largo do Pelourinho. Na verdade, o Pelô é seu símbolo maior e, como tal, tornou-se a denominação genérica de toda a região. O Centro Histórico envolve, no entanto, um espaço bem mais amplo, que abrange cerca de uma dezena de bairros.
Depois que, na primeira metade dos anos 1990, o Estado implementou o Programa de Recuperação do Centro Histórico, beneficiando o Largo do Pelourinho e seu entorno – do Carmo ao Terreiro de Jesus –, só há dez anos a região voltou a receber atenção do Poder Público, por meio da Prefeitura, no bairro do Comércio. Melhorias na infraestrutura, realizadas pelo Estado, consolidaram a rua Direita do Santo Antônio Além do Carmo, e a rua Chile vem recebendo importantes investimentos privados.
Mas um conjunto de bairros, aqui chamados centrais, vizinhos e circundantes ao Centro Histórico, permanecem invisíveis na cidade alta de Salvador. Esta condição, se por um lado preserva todo um casario representativo de diversas épocas – que precisam ser preservados –, por outro, deixa subutilizados, ociosos e decadentes espaços infraestruturados que precisam ser reincorporados à dinâmica urbana.
O bairro da Saúde, contíguo à Baixa dos Sapateiros, constitui o que apresenta mais similaridade com o núcleo do Centro Histórico. Áreas vizinhas como a Lapa, Mouraria e Palma abrigam casarões antigos e edificações mais recentes.
A presença do metrô – com estações no Campo da Pólvora e na Lapa – e a Estação da Lapa – com metrô, BRT e dezenas de linhas de ônibus – asseguram a mobilidade em condições privilegiadas de acesso por transporte público e ligação com toda a cidade.
O Dique do Tororó foi saneado e a sua urbanização inaugurada em 1998. Desde então, nenhuma transformação urbana aconteceu no seu entorno. A região ainda recebeu a reforma da Fonte Nova – tornada arena para a Copa do Mundo de 2014. Debruçados sobre esse imponente espelho d’água transformado em parque, os fundos do Tororó e dos Barris permanecem congelados no tempo. Mesmo as casas do Jardim Bahiano tornaram-se sedes de associações de funcionários públicos ao invés de, por exemplo, uma vila gastronômica. Nos Barris, dois mastodontes foram indevidamente implantados, um de alimentação e outro de materiais de construção. Aí está a Biblioteca Central do Estado.
Nem tudo está perdido. No largo de Nazaré, uma clínica médica restaurou um imponente casarão, incorporando-o aos seus serviços. Aí encontram-se o Hospital Santa Izabel, a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, colégios, faculdades e teatro.
O Barbalho – que inclui o Lanat e Macaúbas – reúne importantes instituições de ensino, como o ICEIA e o IFBahiano, contando com várias clínicas médicas. A Lapinha abriga o memorial do 2 de Julho. Aqui, a Soledade, tombada pelo IPAC, requer atenção especial do Poder Público.
Todas estas são áreas tradicionais de moradia que vêm perdendo população, censo após censo, por conta da inércia que marca a vida nestes lugares, degradando-os, não obstante o seu potencial para fins habitacionais.
É preciso uma ação coordenada e conjunta, entre o Poder Público e a iniciativa privada – combinando tratamento urbanístico e incorporações imobiliárias – para resgatar estas áreas da cidade, antes que repliquem o problema que o Pelourinho já foi no passado.