Macron segue fazendo jogo arriscado, mas é o que dispõe no momento para governar a França
Tasso Franco , Salvador |
08/07/2024 às 12:27
Emmanuel Macron tenta se equilibrar entre os dois blocos
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O presidente da França, Emmanuel Macron, perdeu as eleições legislativas realizadas ontem, mas, ao mesmo temopo ganhou. Como a Nova Frente Popular (agrupamento da esquerda) fez a maioria do parlamento, porém, não maioria absoluta com direito de governar, nesta segunda-feira Macron pediu ao atual primeiro-ministro, Gabriel Attal, do seu partido, que permacesse em seu cargo.
Attal, que foi ao Palácio do Eliseu nesta manhã, iria pedir a renúncia após o resultado das eleições mas segue no cargo. Isso porque, apesar de vencer o pleito e barrar a extrema direita do país, a esquerda não obteve o número mínimo de assentos no Parlamento francês necessários para indicar um primeiro-ministro. Ou seja, levou mas não ganhou.
Isso mesmo aconteceu na Espanha, recentemente, quando a direita venceu o pleito, mas, como não obtebe maioria abolusa o premier Pedro Sanches se manteve no poder com coligações. O Juntos (coligação governista) ficou em segundo. O quadro é o seguinte: Nova Frente Popular (esquerda): 182 assentos;
Juntos (coalizão governista, de centro): 168 assentos; Reunião Nacional (extrema direita): 143 assentos; Republicanos 45; Outros, 39.
Com ninguém conseguiu a maioria abolusta, Macron decidiu que Attal seguirá como premier. Ele tem pouca margem para negociar. Seu bloco caiu de 250 parlamentares para 168 (-82%) e seus adversários cresceram + 33% (a esquerda) e + 55 (a direita).
PRESSÃO PARA GOVERNAR
Segundo o Liberation, os quatro principais partidos da Nova Frente Popular concordaram, durante a noite de domingo para segunda-feira, em pressionar o Eliseu, exigindo a nomeação de um primeiro-ministro das suas fileiras. “Mesmo aos 200 anos, somos capazes de governar”, dizem eles do lado socialista.
Desde as eleições europeias e a dissolução que se seguiu, as noites têm sido curtas para a esquerda. Na noite deste domingo, 7 de julho, os resultados que colocaram a Nova Frente Popular na liderança, à frente do campo presidencial e do Comício Nacional, deixaram os parceiros maravilhados. Ninguém nunca acreditou realmente na vitória. “Temos que ser francos, não esperávamos este cenário”, reconheceu o comunista Christian Picquet na manhã desta segunda-feira. Os sócios, espalhados pelas televisões para comentar a noite, concordaram que o Presidente da República deveria apelar à Nova Frente Popular para governar, no seu projecto. “Nada além do programa, mas todo o programa”, repetem os rebeldes.
Terminadas as noites eleitorais, os parceiros do NFP reuniram-se num hotel no 13º arrondissement de Paris. Um lugar neutro, longe das câmeras. À volta da mesa, os quatro líderes partidários: o socialista Olivier Faure, o rebelde Manuel Bompard, a ecologista Marine Tondelier e o comunista Fabien Roussel, cada um com dois tenentes. Ainda surpresos com o anúncio dos resultados, os sócios aproveitaram para refazer as contas. “Depois, interpretamos o que havia acontecido no país e avaliamos nossa margem de manobra”, conta um participante. Com 190 lugares, a esquerda é vencedora.
A figura de Jean-Luc Mélenchon divide-se até num lar de idosos de Aubervilliers. Enquanto o país ainda se pergunta quem assumirá as rédeas de Matignon se Gabriel Attal deixar o cargo, o mesmo debate agita o lar de idosos Constance Mazier em Aubervilliers. Alguém da Nova Frente Popular?
Jean-Pierre, um ex-professor de 93 anos, rosna: “Mélenchon não!” Ele reconhece o significado das suas palavras, vê-o como uma “grande figura política”, mas questiona-se se não seria demasiado divisionista enquanto a própria esquerda luta neste ponto. Sentado um pouco mais longe, Maurice, 86 anos e pedreiro na juventude, não concorda com um centavo. Ele acredita que falta à política francesa “pessoas que tenham experiência” e vê em Mélenchon uma personalidade conhecedora do funcionamento do Estado. Mas não só: “Ele sempre esteve lá para falar e defender os direitos dos mais fracos”. Por Cassandre Leray.
PARA ONDE VAI A FRANÇA
ANALISA LE MONDE
Num misto de suspense, excitação e ansiedade para grande parte dos franceses após a dissolução decidida por Emmanuel Macron na noite das eleições europeias, a segunda volta das eleições legislativas resultou, no domingo, 7 de julho, numa nova etapa de a recomposição política.
Apesar de um aumento sem precedentes da extrema direita, com a constituição do maior grupo da história para a Reunião Nacional (RN), a frente republicana manteve-se em muitos círculos eleitorais, o que permitiu à aliança de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP), e o maioria presidencial cessante, Juntos, para desafiar as urnas, tornando-se os dois primeiros blocos desta nova Assembleia Nacional. Um Hemiciclo que afasta a hipótese de um governo castanho, mas que não lança qualquer luz sobre os próximos meses, uma vez que não surge nenhuma maioria absoluta, apesar do impulso democrático.
No domingo, 7 de julho, a participação foi de facto massiva, um pouco superior à da primeira volta nos 501 círculos eleitorais onde os candidatos ainda estavam em disputa. No total, 66,6% dos eleitores registados viajaram. Trata-se de um recorde desde as eleições legislativas antecipadas de 1997 (71,1% dos eleitores na segunda volta), também organizadas após uma dissolução que levou a esquerda plural de Lionel Jospin a Matignon.
Uma taxa muito superior a todas as eleições deste tipo organizadas no século XXI. Em 2017, 57,4% dos eleitores foram ao segundo turno. Em 2022, apenas 53,8% tinham colocado um boletim de voto nas urnas, poucas semanas após a segunda eleição presidencial de Emmanuel Macron