Política

DECLARAÇÕES DE LULA SOBRE ISRAEL PODEM LEVÁ-LO A UM ISOLAMENTO MUNDIAL

Com Gazeta do Povo informações
Tasso Franco , Salvador | 20/02/2024 às 10:40
Presidente Lula
Foto: Ricardo Stuckber
   As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel o afastam ainda mais de um contexto de liderança internacional e podem levá-lo ao caminho de se tornar um pária internacional. Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, ao comparar os ataques israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto Lula "mancha" a tradicional diplomacia brasileira.

"É possível que nos tornemos párias internacionais a partir de agora, com as diversas declarações deste governo. O Brasil teve uma época em que era visto como um possível mediador internacional, sua principal grandeza no cenário mundial. Mas isso [essa possibilidade] não só foi demonstrado que era frágil, como tem sido demonstrado que não existe mais", disse o cientista político e diretor de projetos do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais, Marcelo Suano.

No domingo (18), Lula comparou a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente a jornalistas durante viagem à Etiópia.

O conflito entre Israel e o Hamas iniciou em 7 de outubro, quando o grupo terrorista atacou o pais, matando aproximadamente 1,2 mil pessoas. Israel reagiu nos dias seguintes ocupando militarmente a Faixa de Gaza. Desde então, mais de 20 mil pessoas morreram.

A declaração de Lula causou uma reação quase imediata do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que condenou as afirmações. O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi convocado para prestar esclarecimentos sobre o que foi dito pelo mandatário brasileiro. O gesto é considerado uma advertência grave no meio diplomático, uma espécie de contra-ataque. Lula, por sua vez, também convocou o embaixador israelense no Brasil, escalando a crise.

"Essa declaração (de Lula) não traz nenhum benefício concreto para as metas de política internacional do Brasil, mas pode trazer uma série de prejuízos", avalia Elton Gomes, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Além de causar uma instabilidade na relação bilateral com Israel, as declarações de Lula vão contra à política "sem inimigos declarados, nem aliados incondicionais" da diplomacia brasileira.

"O Brasil pratica essa neutralidade sobretudo por ter uma diplomacia pautada pelo comércio e essa centralidade exige que o país não tenha nem inimigos declarados e nem aliados incondicionais. Portanto, a fala do presidente afeta nossa relação com Israel, país com o qual o Brasil dispõe de relações pacíficas e amistosas com boas relações econômicas, além de outros países", avalia o professor.

Afastamento do Brasil das discussões internacionais

Desde que retomou para o terceiro mandato, o presidente Lula tem almejado um lugar de destaque em discussões internacionais. Nesse caminho acabou cometendo deslizes. Além das diversas críticas que teceu a Israel e as acusações de que o governo israelense tem cometido genocídio contra o povo palestino, Lula também fez afirmações contraditórias sobre o guerra entre Rússia e Ucrânia.

Lula, em diversas oportunidades, relativizou a guerra na Europa e chegou a dizer que a Ucrânia seria tão culpada pelo conflito quanto a Rússia. A guerra teve início, em fevereiro de 2022, depois que Vladimir Putin ordenou que tropas russas invadissem a Ucrânia. Tal afirmação lhe rendeu críticas de diversos países e líderes internacionais.

Lula passou a acumular críticas de países europeus e dos Estados Unidos. Diante do conflito no Oriente Médio, o brasileiro chegou a se colocar à disposição para intermediar uma solução pacífica para a guerra, mas acabou fora das discussões. Os EUA, Catar e Egito tomaram a frente e são os países que de fato têm negociado uma solução para a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

"O Brasil está demonstrando que não tem mais capacidade de mediação. Não podem ser mediadores indivíduos que se posicionam a favor de um lado antecipadamente em relação às negociações ou mostram, com declarações, que não têm capacidade de interpretar a grandeza das histórias específicas para tentar buscar pontos de convergência e, nesses pontos, buscar acordos e pactos que possam selar o futuro. Esse seria o papel do mediador e o Brasil não faz isso. Em especial com este governo", diz Suano.