Política

A VERSÃO OFICIAL DE LULA NA FRANÇA SEGUNDO DADOS DA SECOM PRESIDÊNCIA

A imprensa francesa tem dado pouca atenção a Lula
Tasso Franco , Salvador | 23/06/2023 às 18:07
Lula e seu velho parceiro Macron
Foto: Ricardo Stubecker
   MIUDINHAS GLOBAIS:

  1. Na versão oficial da Secom PR, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um almoço de trabalho com o presidente da França, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira, 23/6, em Paris. Foi a segunda reunião de Estado entre os dois líderes este ano, depois da bilateral na cúpula estendida do G7, em Hiroshima (Japão), há pouco mais de um mês.
 
  2. "Os acordos comerciais têm de ser mais justos. Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça"

  3. Lula e Macron conversaram sobre as negociações pelo acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, a guerra na Ucrânia, o combate às mudanças climáticas, a retomada de um intercâmbio cultural e a parceria estratégica entre os países na área de defesa, especialmente em torno do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que já entregou um submarino em 2022 e prevê a entrega anual de outros três até 2025, com transferência de tecnologia francesa.
 
   4. Na questão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, o presidente Lula afirmou antes do almoço, durante seu discurso no Novo Pacto de Financiamento Global, que os termos precisam ser revistos, especialmente os termos adicionais propostos recentemente pela UE, que adicionam previsões de punição na área ambiental. A conhecida resistência de setores da economia francesa, em particular do agronegócio, se refletiu, na última semana, na aprovação de uma resolução contrária ao acordo pelo Parlamento do país.
   
  5. "Os acordos comerciais têm de ser mais justos. Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça", afirmou o presidente.
 
  6. No plano cultural, os dois governantes demonstraram interesse na retomada do intercâmbio cultural entre as nações, inclusive com a possibilidade de reeditar os grandes calendários de eventos desenvolvidos na década passada, como o Ano do Brasil na França e o Ano da França no Brasil, a partir de 2025.
 
  7. Brasil e França firmaram uma parceria estratégica em 2006, para promover o diálogo político e as relações econômico-comerciais. Os dois países possuem ainda cooperação nas áreas de defesa, espaço, energia nuclear e desenvolvimento sustentável. A parceria Brasil-França ainda contempla os domínios da educação, ciência e tecnologia, temas migratórios e transfronteiriços.
 
  8. Além de desenvolverem projetos em conjunto em áreas sensíveis e de alta tecnologia, são expressivas tanto a presença de brasileiros vivendo em solo francês quanto a atuação de empresas francesas no Brasil.

  9. Segundo o Itamaraty, cerca de 90.000 brasileiros vivem na França metropolitana e outros 82.500 na Guiana Francesa, somando cerca de 172.500 no total. Com 730 km, a fronteira entre o estado brasileiro do Amapá e a Guiana Francesa constitui a maior fronteira terrestre da França.
 
  10. Existem cerca de 860 empresas francesas no Brasil. O Brasil é hoje o segundo principal destino dos investimentos franceses entre os chamados países emergentes, tendo sido ultrapassado apenas recentemente pela China. A França é o 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos, e 5º maior pelo critério de investidor imediato, com investimentos de cerca de US$ 32 bilhões, segundo os dados de 2021 do Banco Central.

   11. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de governantes mundiais uma luta unida contra a desigualdade em suas várias vertentes e a mudança de órgãos internacionais para melhorar a governança global e retratar a nova geopolítica do planeta. O posicionamento foi durante discurso na abertura do Novo Pacto de Financiamento Global, fórum organizado pelo governo da França em Paris, na manhã desta sexta-feira, 23/6.

  12. "Se nós não discutirmos a questão da desigualdade e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”

  13. Convidado a discursar sobre preservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas, o presidente lembrou que o Brasil irá sediar a COP-30, em 2025, pela primeira vez em um estado amazônico (Pará), mas alertou que as discussões entre os países também devem abordar como combater as várias formas da desigualdade.

  14. “Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia. Vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que, em uma reunião entre presidentes de países importantes, a desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde”, disse Lula.
 
  15. Para ele, a discussão sobre medidas para ajudar a garantir um futuro mais próspero para a humanidade deve, obrigatoriamente, incluir os mais pobres. “Somos um mundo cada vez mais desigual e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente e a pobreza na mão de mais gente. Se nós não discutirmos a questão da desigualdade e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, criticou.

   16. O presidente também voltou a enfatizar um ponto que tem feito parte da maior parte dos seus pronunciamentos, tanto no Brasil quanto no exterior, a líderes mundiais. Para ele, o mundo precisa aprimorar as instituições internacionais, visando uma nova governança mundial, de acordo com a geopolítica do presente, para coordenar esforços e apoiar as nações em necessidade.
 
  17. "Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. E por quê? Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que fazemos? É o Estado Nacional? Vamos ser francos: quem é que cumpriu o Protocolo de Quioto? As decisões da COP-15? O Acordo de Paris?"
 
  18. “Nós aqui precisamos ter claro o seguinte. Aquilo que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, as instituições de Bretton Wood, não funcionam mais, não atendem as aspirações e nem os interesses da sociedade. Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo que o mundo aspira. Vamos deixar claro que o FMI deixa muito a desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI”, declarou.
 
  19. Segundo o presidente, a ONU precisa voltar a ter representatividade e força política, para que medidas importantes do ponto de vista ambiental possam ser aplicadas de forma global, como forma de combater os efeitos das mudanças climáticas.
 
  20. Ele lembrou que diversos acordos internacionais firmados nas COPs acabaram não sendo cumpridos pelos países desenvolvidos, e que há necessidade de uma governança mais eficiente para que os acordos sejam efetivamente implementados.
 
  21. "Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. E por que vira uma brincadeira? Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que fazemos? É o Estado Nacional? Vamos ser francos: quem é que cumpriu o Protocolo de Quioto? Quem é que cumpriu as decisões da COP-15, em Copenhague? Quem é que cumpriu o Acordo de Paris? Ou seja, e não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir”, cobrou o presidente brasileiro

  22. Lula também se posicionou favoravelmente à inclusão de novos blocos e países nos principais fóruns internacionais de discussão. “Esses fóruns não podem ser um grupo de luxo. A elite política. Não. Nós temos que chamar os desiguais, os diferentes, para que a gente possa atender a pluralidade dos problemas que o mundo tem”, disse.