Com O Tempo inform ações
Tasso Franco , Salvador |
15/05/2023 às 15:43
Theodomiro Romeiro
Foto: REP
Morre Theodomiro Romeiro, 1º civil condenado à morte na ditadura militar
Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) foi preso em 1970
Por Agências Publicado em 15 de maio de 2023 | 13h19 - Atualizado em 15 de maio de 2023 | 13h19
0
Theodomiro Ribeiro morreu aos 70 anos, após ser condenado à morte na ditadura militar - Foto: Divulgação do documentário "Galeria F", da diretora Emília Silveira
Theodomiro Ribeiro morreu aos 70 anos, após ser condenado à morte na ditadura militar — Foto: Divulgação do documentário "Galeria F", da diretora Emília Silveira
Theodomiro Romeiro dos Santos, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) no período da ditadura militar e primeiro civil a receber uma sentença de morte no Brasil republicano, morreu em Olinda (PE) aos 70 anos.
Juiz do Trabalho, ele atuou como magistrado por cerca de 20 anos e estava aposentado desde 2012. Seis anos depois, sofreu um grave AVC hemorrágico e desde então convivia com sequelas da doença. Morreu neste domingo (14) de forma serena, em casa, segundo familiares.
"Theo foi o mais célebre preso político da ditadura. Era um sujeito muito generoso e solidário que se tornou um símbolo ao ser condenado à morte aos 18 anos. É uma dor muito grande perdê-lo", diz o jornalista Emiliano José, amigo que foi companheiro de cela de Theodomiro.
Theodomiro nasceu em Natal (RN) e iniciou sua militância política de contestação à ditadura militar ainda muito jovem, no Rio Grande do Norte. Veio morar em Salvador aos 17 anos, época em que estudou no colégio Maristas e participou de ações armadas como um assalto ao Banco da Bahia.
Por sua ligação com o clandestino PCBR, foi preso em outubro de 1970 em um ponto de ônibus nas proximidades do Dique do Tororó, em Salvador. Junto com ele, foi preso o também militante Paulo Pontes.
Os policiais algemaram os dois militantes um ao outro, mas não recolheram seus pertences. Quando já estava no banco de trás da viatura da política, Theodomiro sacou uma arma que estava em uma pasta e atirou no Sargento da Aeronáutica Walder Xavier de Lima, que morreu em decorrência dos ferimentos.
Os militares levaram Theodomiro à sede da Polícia Federal, onde ele foi preso, violentamente agredido, colocado no pau-de-arara e torturado com choques elétricos. Depois, foi transferido para a galeria destinada aos presos políticos da penitenciário Lemos Brito, em Salvador, onde passaria nove anos.
Theodomiro foi julgado em março de 1971 pelo Conselho Especial da Aeronáutica e acabou sendo sentenciado à morte com base em um dispositivo legal eu permitia a pena capital em casos considerados como crimes de guerra. A pena, contudo, foi alterada para prisão perpétua e depois reduzida para 16 anos de prisão em regime fechado.
"Depois de preso, o primeiro momento que tive a certeza de que não seria morto foi quando ouvi a sentença de morte. [...] Foi a divulgação e repercussão de minha prisão que me salvou. Minha condenação à morte, eu senti, iria assumir uma dimensão muito grande, o que, de fato, aconteceu", disse Theodomiro em 1979 em entrevista concedida ao jornalista José de Jesus Barreto.
Pouco antes da aprovação da Lei da Anistia, Theodomiro fugiu da prisão em agosto de 1979 em meio a um clima de relaxamento das prisões políticas. "Ele achava que estava jurado de morte e tinha certeza que a anistia não o alcançaria por ele ter cometido um crime de sangue. Daí a decisão de fugir naquele momento", lembra Emiliano José.