NOS PRÓXIMOS oito meses Lula e o PT continuarão enredados na meia dúzia de outros processos judiciais nos quais são réus por crimes de corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
Fernando Conceição , Salvador |
25/01/2018 às 17:13
Lula e o sebastianismo
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A PRINCIPAL questão que agora se coloca é:
Qual a alternativa, com chances reais de desempenho eleitoral consistente, têm as forças políticas não retrógradas para enfrentar o amplo leque de conservadores, de direita e de centro, das classes senhoriais e de mando organizadas para as eleições de outubro deste 2018?
Sejamos racionais. O destino do ex-presidente Lula, novamente pré-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência do Brasil, é problema menor para o país.
Ante os desafios de derrotar a agenda do grande capital financeiro internacional e seus capatazes internos, à testa o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do PSD (Partido Social Democrático), uma das tantas legendas de aluguel na Câmara dos Deputados e no Senado da República.
Henrique Meirelles, à frente das “reformas” de Michel Temer que usurpam trabalhadores e reforçam os interesses do capital. Foi presidente do Banco Central no governo Lula, que sempre o bajulou.
NOS PRÓXIMOS oito meses Lula e o PT continuarão enredados na meia dúzia de outros processos judiciais nos quais são réus por crimes de corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
A confirmação de sua condenação e ampliações das pena e multas, no único caso conhecido por tríplex de Guarujá [clique para ler], faz com que Lula e a militância partidária em torno dele tenham de mover céu e mar para adiar o seu encarceramento num presídio de Curitiba.
O trio de desembargadores da 8ª Vara do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre deixou claro: de acordo com o que determina a lei de execução penal, interpretada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o réu cuja sentença condenatória seja confirmada em segunda instância, como Lula, deve cumprir o início da pena recluso em regime fechado.
Evitar ser preso dentro das próximas três ou quatro semanas. É isso o que mais urge e importa a Lula.
Sua muito bem remunerada equipe de dezenas de advogados de defesa, espalhados não apenas no Brasil mas em escritórios de advocacia no exterior, Europa em particular, tem de se desdobrar.
Lula com Palocci, seu principal braço direito nas tratativas com o “mercado”. Preso, negocia colaborar com a Justiça, para mais desespero petista
À MILITÂNCIA PETISTA, secundada por influentes quadros dos campos culturais, das universidades, dos sindicados, dos jornais, das redes sociais, aqui e alhures, compete fazer barulho, grunhir o mantra da “perseguição” política do judiciário.
É conferir se a grita surtirá algum efeito ante os chamados autos dos processos. Que, como lembraram os juízes do TRF-4, estão fartos de provas dos desvios criminosos do “amigo” – como a Lula se refere uma das planilhas do propinoduto da empreiteira Odebrecht.
De tudo com o que o país vem se deparando é mister reconhecer: o PT de Lula, isto é, a tendência ou corrente majoritária que domina há mais de três décadas esse partido, parece estar prestando um desserviço à causa da dita esquerda histórica.
O alto grau de personalismo, de caudilhismo de Lula, o seu sebastianismo são contraproducentes ao projeto de uma alternativa que barre a rapinagem representada por Henrique Meirelles, essa cria do Citygroup, sob o olhar vampiresco co fantoche Michel Temer (PMDB).
Temer e PMDB, velhos conhecidos nossos, razão de nunca lá terem chegado. Mas, por óbvio, puderam alçar à cadeira da Presidência graças à “perspicácia” e esperteza do impoluto Lula.
As heterodoxas alianças do, diria o falecido Leonel Brizola (PDT), “sapo barburdo”, quase levam a Petrobras à falência. Agora lhe engoliram.
Os oligárquicos coronéis que compõem a “elite” de mando do Estado patrimonialista, com os quais Lula se locupletou e pensou tê-los no bolso, fê-lo indigestão.
Endeusado, Lula queima na própria fogueira de suas vaidades. Traído, como queixa-se, por aqueles e muitos outros “amigos”, a exemplo de Antonio Palocci, o “italiano” que gerenciou o “caixa 2” petista por anos a fio.
O povo cá embaixo nada tem a ver com isso, nada a perder ou ganhar.
Porque a ele, povo, nunca foi perguntado absolutamente nada desde que há povo por essas bandas do Atlântico. Ferrado esteve, ferrado está.
Um projeto menos danoso, com o PT e Lula se recolhendo com humildade (algo quase impossível de admitir) a papel coadjuvante, é urgentemente necessário para impedir a vitória das hienas nas eleições nacionais de outubro.