“Negros, museus e representatividade, onde está sua cultura?“ foi o tema da mesa redonda realizada na manhã desta quinta-feira, 23, na varanda do Memorial da Câmara de Salvador. Um dos palestrantes do evento foi o presidente da Comissão de Cultura da Câmara, vereador Sílvio Humberto (PSB), para quem “no mês da consciência negra as pessoas têm uma oportunidade de interação com esta atividade do Memorial”.
Para o coordenador do Memorial da CMS, André de Carvalho Conceição, “os museus geralmente contam a história do Brasil a partir da ótica do colonizador. Numa atividade como essa, o estudante que visita a Câmara, sobretudo o negro, se sente representado”. O debate fez parte da programação do Novembro Negro na Câmara.
Com relação à representação da população negra nos museus Sílvio Humberto citou uma frase do ativista social jamaicano Marcus Garvey: “Um homem que não conhece a sua história é como uma árvore sem raiz”. A seu ver “os museus são a maior fonte para preservar esta história”.
Racismo traz a maldade
Também integrante da mesa Marta Rodrigues (PT) abordou a importância da luta contra o racismo: “Zumbi dos Palmares e Dandara estiveram à frente da libertação, da quebra de correntes”, afirmou. Ela avaliou, entretanto, “que o racismo traz em si, ao longo dos tempos, a maldade. Por isso, é muito importante a realização de eventos como este, que dão sonoridade à luta dos negros”.
O debate também contou com uma exposição de Alessandra Carvalho, mestra em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da Universidade Católica do Salvador (UCSal). Ela abordou como “esta musicalidade forte chamada samba foi um fator de percepção da sociedade acerca da cultura dos negros”.
Outra a usar da palavra foi a escritora e chefe de Intercâmbio da Casa do Benin, Iray Galvão. O cantor Chocolate da Bahia e o Grupo Companhia de Teatro da UFBA realizaram apresentações culturais antes do início da mesa-redonda.
Músicos e conselheiros tutelares
Outros eventos públicos realizados pela Câmara foram homenagens ao Dia do Músico e aos conselheiros tutelares. No primeiro caso a sessão especial aconteceu na noite dessa quarta-feira, 22, por iniciativa da edil Lorena Brandão (PSC) e reunindo diversos nomes do cenário local, nacional e representantes da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB).
A peessecista lembrou que a data foi instituída por meio do projeto de lei de Igor Kannário (PHS). “Cresci em uma casa musical. Meus pais cantam, meus irmãos tocam instrumentos e a mim coube o piano. A música foi criada por Deus. Ele que nos deu potencial para que fosse levada alegria e todos os sentimentos que a música é capaz de levar a qualquer pessoa”, disse ela.
“A grande intenção desta noite é prestar homenagens em vida. Não gosto de perceber que grandes artistas só são reconhecidos quando morrem. Hoje estamos aqui para celebrar a vida e o talento desses grandes músicos e dizer o quanto eles são importantes”, pontuou. A sessão contou com a apresentação do cantor Kid Monteiro, da Banda Filarmônica da Casa Pia, da cantora Priscilla Oliver e o Grupo de Percussão Mirim do Candeal.
A cantora Margareth Menezes destacou a importância de valorização dos músicos no estado: “Salvador não seria a cidade da música se não fosse pela preservação do seu legado. Hoje é preciso dar mais visibilidade a tudo que fazemos de bom. Temos muito mais talentos espalhados por aí do que reconhecidos por falta de oportunidades no nosso estado”.
Para o cantor e compositor Gerônimo, a data não traz motivos de celebração: “Em uma cidade rica em ritmos prevalece aquilo que os donos do mercado querem mostrar. Não há espaço para a diversidade cultural”.
Receberam homenagem durante a atividade, Ayala Menezes, Margareth Menezes, Gleide Dammas, Dera Barbosa, Cida Freitas, Alex Shela, Renatinho da Bahia, Pedrinho do Maná Brasil, Tonho Matéria, Milton Menezes, Rafinha RSQ, Rodrigo Morais, Antônio Duarte, Gerônimo, Gabriel Guedes, Niro Moura, Marcelo Neder, Marcos Froés, Artur Chagas, João Robert, Bruno Magnata, Leandro Afonso, Valmar Paim, Robson Ribeiro, Leandro Alonso, Vovô do Ilê, Ivan Alves, Gerson Silva, Valfredo Reluzente, Roberto Júnior, Eliomar Santana, Fred Dantas, Frederico Menezes, Tufi Homci, Neimar Lima, Irmão Cabral e Hilton Mendes.
Conselheiros tutelares
Os conselheiros tutelares foram o destaque de outra sessão especial, convocada por Luiz Carlos (PRB), na manhã dessa quarta, 22. Conforme disse tratou-se de “um reconhecimento do profissional que doa sua vida para resgatar crianças e adolescentes. Mesmo diante de dificuldades, vocês encontram uma solução para casos aparentemente sem saída”. O dia da categoria é celebrado em 18 de novembro.
O peerrebista destacou iniciativas de seu mandato que julga vitoriosas para a área: “Com a Lei nº 6.266/13, conseguimos transformar o conselho tutelar numa política de Estado e não de Governo. Trabalhamos juntos na realização de audiência públicas para buscar melhorias e concretização de direitos, além da instituição da caminhada do Estatuto da Criança e do Adolescente por meio do Projeto de Lei nº 202/13”.
O coordenador executivo do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan, Waldemar Oliveira, defendeu maior visibilidade e condições de trabalho para a categoria: “Temos muitas falhas e muitos problemas, a exemplo de carros quebrados destinados às atividades. É necessária maior divulgação das 18 unidades disponíveis em Salvador para que elas estejam acessíveis à população”.
A conselheira Regina Santos definiu o trabalho do profissional e expôs dificuldades: “Agradeço o espaço e ressalto a necessidade de políticas públicas que deem maiores condições de trabalho, pois corremos risco para realizar as demandas e ao entrar em algumas comunidades. Precisamos de respeito, remuneração e visibilidade”.
O coordenador de Assessoria dos Conselheiros Tutelares, Júlio Santos, evidenciou a importância da sessão e dos profissionais: “Esta sessão é para valorizar os conselheiros que, muitas vezes, são tidos como pessoas que não trabalham. O próprio ECA não é tão reconhecido como deveria”.