Política

ARIGO - Agosto da Igualdade: enaltecendo as mulheres negras

"Enxerguemos nossas heroínas e nossos heróis não só em datas especiais, mas todos os dias"
Marta Rodrigues , da redação em Salvador | 30/08/2017 às 19:36
Marta: desigualdades ainda existem
Foto: Valdemiro Lopes

Celebrar as conquistas que obtivemos ao longo da história é fundamental para manter acesa nossa memória e a vontade de continuar em busca de novas vitórias. O tempo tem nos mostrado que o esquecimento dos fatos, muitas vezes provocados pelos que querem manter suas posições privilegiadas, tem servido para enfraquecer lutas históricas por justiça social e igualdade e para invisibilizar personagens que precisam ser lembrados, principalmente as mulheres.

Além das homenagens realizadas em datas específicas, como o Agosto da Igualdade, quando lembramos da Revolta dos Búzios ocorrida em 1798, precisamos materializar nossa memória nos espaços físicos por onde elas foram registradas. Isso requer não só a criação de datas comemorativas, mas o empenho em fazer valer as leis que incluem o ensino da História da África e dos indígenas nas escolas, e investir em monumentos atrativos, em pontos estratégicos de fácil acesso e com alta frequência de pedestres.

Temos em Salvador bustos de heróis negros da Revolta dos Búzios, de Zumbi dos Palmares, dentre outros, mas ainda falta equidade na representatividade das mulheres negras que participaram ativamente de nossas conquistas. Onde estão Luiza Francisca de Araújo, Lucrécia Maria, Domingas Maria do Nascimento e Anna Romana Lopes? Elas foram fundamentais para a Revolta dos Búzios com a distribuição dos panfletos com reivindicação de melhorias para a população negra.

Tendo como premissa a importância de visibilizarmos nossas heroínas e heróis, me reuni com à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur) para entregar um ofício que reforça uma pauta da Coordenação de Entidades Negras (Conen): a implantação de monumentos em homenagem aos heróis da Revolta dos Malês - Jorge, Pedro, Gonçalo e Joaquim – na Estação do Metrô do Campo da Pólvora, com destaque à heroína Luiza Mahin.

Na Câmara, apresentei um projeto de indicação ao governo do Estado para que represente por meio de monumentos as heroínas e os heróis do Dois de Julho na estação de metrô de Pirajá, por onde se passou parte da Batalha. Precisamos reconhecer que as lutas da população negra foram de extrema importância: todas tiveram uma capacidade surpreendente de organização, qualidade nas pautas das reivindicações e lideranças ímpares.

Apesar de corresponder à maior porcentagem de brasileiros, a população negra ainda luta para reduzir as desigualdades e a invisibilidade na história. Essa luta é ainda maior no caso das mulheres negras, que além da discriminação racial, sofrem discriminação de gênero nos seus próprios espaços de luta.

Espero que este mês, também conhecido como Agosto dos Pretos e das Pretas, tenha sua mensagem reverberada por todos os outros meses do ano. E que enxerguemos nossas heroínas e nossos heróis não só em datas especiais, mas todos os dias, em todos os cantos da nossa cidade.

Marta Rodrigues, vereadora do PT