Política

Assembleia realiza sessão para reverenciar a Revolta dos Búzios

Uma história que não é contada nos livros didáticos como deveria ser
Da Redação , Salvador | 25/08/2017 às 18:21
Sessão especial na ALBA
Foto: ALBA

A Revolta dos Búzios, também conhecida como Conjuração Baiana e também chamada de Revolta dos Alfaiates (uma vez que alguns participantes da trama exerciam este ofício) foi louvada em sessão especial realizada na Assembleia Legislativa. O evento, que teve como proponentes os deputados Bira Corôa (PT) e Fabíola Mansur (PSB), teve como objetivo reverenciar o movimento de caráter emancipacionista, liderados por João de Deus, Lucas Dantas, Manoel Faustino e Luiz Gonzaga. "Negros pobres e jovens condenados por sonhar com um Brasil de liberdade, igualdade e fraternidade e a representação política através de deputados, como a que hoje lhes homenageia", justificou Fabíola Mansur.

A revolta liderada pelos alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos e pelos soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga teve início no dia 12 de agosto de 1798. Naquele dia, através de cartazes afixados em Salvador, que continham a finalidade da revolta e as propostas pleiteadas pelo movimento, eles defendiam a independência e o fim da escravidão, um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, o livre-comércio e abertura dos portos como principais pontos. Os revoltosos esperavam a participação da população baiana, mas antes de a população compreender o ocorrido eles foram delatados e o governo controlou o movimento. No dia 25 de agosto do mesmo ano todos os envolvidos na movimento foram presos. Os soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga e os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino foram enforcados e esquartejados. 

Fabíola Mansur afirmou que a solenidade reverencia os heróis do passado que lutaram por princípios de justiça que são necessários serem lembrados, principalmente no momento em que o país passa por uma fase de grandes retrocessos. "Saudamos os espíritos dos nossos heróis para que não sejam esquecidos, buscando inspiração na sua luta nesse momento triste de retrocesso e trevas que vive o Brasil com o retorno do conservadorismo ao poder", afirmou a deputada.

Bira Corôa destacou que o evento além de homenagear os 219 anos da revolta dos búzios tem o objetivo de levar a conhecimento público a história que não é contada nos livros. "Apesar de ser obrigatório, o ensino da diáspora africana não tem o destaque necessário. O deputado lembrou, e elogiou, a ação do governador Jaques Wagner de reconhecer a importância da Revolta dos Búzios para a história baiana. "Temos que trazer para a vida cotidiana a presença dos nossos mártires vitimados pela tirania. Seus corpos foram esquartejados e expostos para intimidar a população", afirmou o deputado petista.

A senadora Lídice da Mata disse que a ideia de justiça racial e social e o desejo de liberdade que moveram os heróis há 219 anos necessitam mais do que nunca ser resgatados e reafirmados pelo povo brasileiro. "Somos herdeiros dessa revolta. A luta não acabou. O governo atual usa a sua impopularidade para tirar direitos da população com uma agenda de entrega do patrimônio nacional em tempo curto", afirmou a senadora socialista.

O presidente da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo, explicou que a Revolta dos Búzios foi a primeira manifestação nas Américas inspirada nos ideais da Revolução Francesa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. "Eles exigiam também um melhor salário para os soldados, uma defesa da diminuição da desigualdade econômica em um momento em que o colonialismo português estava com toda a sua força", disse Araújo.

PALESTRA

O jornalista e acadêmico Florisvaldo Mattos, que escreveu "Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates", editado em convênio pela ALBA com a Academia de Letras da Bahia, publicado em 1998, explicou que na última parte do século XVIII, um grupo de pessoas em diversas situações de classe, mas preponderante da mais baixa escala social, intentou promover um levante, que visava libertar o Brasil-Colônia do jugo português, empunhando múltiplas bandeiras, tais como independência da Capitania, implantação da república, a abolição da escravatura, livre comércio com as nações do mundo, laicidade, instituição do trabalho remunerado e garantias para os plantadores de cana, fumo e mandioca, assim como para comerciantes. span>

Florisvaldo Mattos, que focou a sua pesquisa nos aspectos da comunicação dos movimentos, destacou a presença de ‘‘boletins sediciosos’’, que foram para os revolucionários como instrumento de divulgação de ideias e definições para um público amplo, que extrapolava o circuito da conspiração até aquele momento. "Os dez boletins sediciosos que se espalharam pela cidade foi uma expressiva e inovadora forma de comunicação indireta do qual os conjurados difundiram as suas ideias e projetos de reforma social, com sublevação da ordem constituída, para um público indeterminado chamado de ‘‘Povo Bahiense’", completou o acadêmico.

Também participaram do encontro a secretária da Sepromi, Fábya Reis, a doutora em história pela USP, Patrícia Valim, o presidente do Olodum, João Jorge, ativistas do movimento negro entre outras autoridades.