Política

GORDO DA MOTOCICLETA contra o selvagem Marlon Brando por OTTO FREITAS

Otto Freitas escreve quinzenalmente sobre Vida de Gordo Para falar com ele otto.freitas@terra,com.br
Otto Freitas , Salvador | 04/05/2015 às 18:40
Gordo também pilota moto minha gente
Foto: DIV
   Por mais incrível que pareça, houve um tempo em que Jeffinho andou de moto. Era motociclista, pois motoqueiro é o motociclista fora da lei, que adora uma arruaça e vive em bandos, tal e qual Marlon Brando, em O Selvagem (1953), um dos inúmeros filmes produzidos pelo cinema americano sobre este veículo sedutor que protagoniza sonhos e aventuras. 

   Depois vieram outros clássicos, como Sem Destino (1969), com Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson, e o O Selvagem da Motocicleta (1983), com Mickey Rourke.

   Jeffinho sempre teve vontade de andar de moto, como se diz. Mas isso, naqueles anos de 1980, era hábito típico de poucos, geralmente uma gente rebelde, fora dos padrões, e não era adequado a um rapaz de boa família. A origem do preconceito está no final dos anos 1940, quando surgiram na Califórnia (EUA) os primeiros grupos de motoqueiros formados por foras da lei, com suas botas, blusões de couro e adereços extravagantes. Agiam com violência no tráfico de drogas, roubo de mercadorias e extorsão. 

   Jeffinho já estava perto dos três dígitos na balança e não era nenhum bonitão como Marlon Brando (o ator era fortinho e depois virou um gordão). Agora imagine Jeffinho montado na sua memorável Honda CG 125cc, a azulzinha em que aprendeu a pilotar e se tornar um motociclista devidamente habilitado. Era uma imagem sinistra aquele corpanzil sobre uma motinha de nada, sem contar carona e bagagem. Mas, apesar do peso, a azulzinha jamais o deixou na mão. 

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    Jeffinho pegou gosto, aprendeu a amar a motocicleta. Não tanto quanto Marreco, que adorava e cuidava tão bem da sua que de noite a levava para a cama, enquanto a mulher dormia no chão. Foi por isso que Jeffinho, de tanto insistir, acabou comprando de Marreco a moto café com detalhes dourados, uma Honda CB 400, linda, toda ajustada, parecia nova; era mais do que perfeito o som do motor que brotava daquela máquina imponente, cujas partes cromadas eram tão brilhantes quanto o sol do meio dia. 

    Jeffinho ficou com essa moto por alguns anos. Passou a usar todos os equipamentos: além do capacete, blusão de couro, luvas, calças jeans grossa, botinhas meio cano, óculos escuros, etc. Até começou a emagrecer, porque andar de moto é uma atividade física permanente, exige equilíbrio e força, sobretudo porque a CB 400 era mais pesada. 

   Passou a fazer tudo de moto, de dia e de noite, não havia perigo, exceto as sete doses de vodca ou de uísque a que se permitia beber nas farras e depois voltar para casa dirigindo a moto. Um absurdo, risco de vida certo. Mas, graças a Deus, nessas horas Irmão Emmanuel assumia a pilotagem e Jeffinho jamais sofreu qualquer acidente. 

    Mas é bom lembrar que, naquele tempo, andar de moto não era tão perigoso como hoje, não havia tantos acidentes, assaltos e roubos. Era seguro andar pelas ruas e rodovias, a qualquer hora do dia ou da noite. Eram poucas motocicletas circulando, nem todo mundo tinha coragem de viver essa aventura. Também não havia moto-boys, muito menos moto-taxis. Sem perigo e sem medo, andar de moto deixava você se sentir livre e feliz, seguindo contra o vento, com o sol entrando pelo capacete. Era gostoso sentir o abraço da namorada na garupa e transar com ela na moto devidamente ancorada sobre o descanso central.

    Na estrada, você se integra à natureza, ao verde das montanhas, ao som das águas descendo rios e cachoeiras. No fim de tarde e quando vem a noite, você sente o cheiro de terra molhada, o perfume das lavouras ao redor – e segue cavalgando com os deuses da motocicleta, seguindo a luz da lua cheia, nas trilhas do amor e da liberdade.