Copacabana em silêncio, sem fogos, sem festa. O ano de 2021, o início de uma nova década, se deu da maneira mais inusitada possível. Muitos não acreditaram que fosse possível. Mas foi. O maior réveillon do mundo não aconteceu.
Por volta de 12h do dia 31 fui à praia agradecer Iemanjá pelo ano. O dia estava em 50 tons de azul. Bares cheios, famílias na praia. O clima, no entanto, era outro. Não tinha muvuca, aquela farofada que a gente tanto critica, mas sente falta. Estávamos todos comportados.
A praia, nem vazia ou cheia, não tinha balsas, equipes de TV ou palcos. Parecia um dia como outro qualquer. E era. Porque o dia 31 de dezembro é um dia como outro qualquer. Sou ranzinza com o Ano Novo, acho sinceramente uma data besta, mas compreendo os rituais, as celebrações.
O ano de 2020 vai ser lembrado como o ano que sobrevivemos. Não pegamos em armas, não lutamos contra zumbis e muito menos alienígenas. Ao contrário do que muitos imaginavam, um pseudo-fim do mundo não teve o glamour do cinema. Um vírus, invisível, nos deixou em casa, isolados, vendo o mundo e as pessoas pela tela do computador. Ficamos cabeludos, grisalhos, mais gordos, mais magros, mais neuróticos, mais cinéfilos ou leitores compulsivos.
Vivemos de acordo com os humores do Coronavírus: invisível, imprevisível e letal. Os números aumentavam na TV, a gente sem entender nada, pessoas próximas ficando doente e aquele medo de morrer desenterrado. Foi um ano tão atípico que estar vivo - literalmente - foi motivo de festa. Joguei minha rosa solitária em agradecimento e vi o mar indo e voltando, levando-a para longe, para perto talvez.
Copacabana calou. Silenciou diante do coronavírus. Nada de branco, de fogos, de cores. Ao entrar, 2021 chegou ao som de gritos nas janelas. "Quero vacina!" foi o mais inusitado e que reverberou o desejo de todos. Teve Feliz Ano Novo, Fora Bolsonaro, Fora Crivella, Viva 2021. Teve brinde nas janelas entre vizinhos que só se conhecem pela voz.
E assim chegou o ano de 2021. O que vem pela frente a gente não sabe. A gente torce que a vacina chegue logo, que o carnaval aconteça pelo menos em julho, que a vida volte minimamente ao normal. Que o desejo de fim de ano não seja apenas sobreviver.
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A cidade viu cenas de aglomerações terríveis nas praias de Ipanema e Recreio. Em um grupo de whatsapp vi pessoas criticando o governo pela falta de fiscalização. Discordo. Discordo muito. Governos não são babás. Governos não dizem (ou não deveriam dizer) como devemos usar nosso livre arbítrio e responsabilidade. As aglomerações mostram que não somos cordiais. Somos - como cidade, sociedade - egoístas.