Os franceses tinham o apoio dos índios, que sempre que podiam botavam os portugueses para correr.
Feliz 2020 a todos(as) os(as) leitores do Crônicas da Bahia. Ando meio relapsa com a coluna, mas uma das minhas metas em 2020 é não repetir o erro. A cada 15 dias contarei minhas andanças pela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro neste espaço.
Nesses dias tórridos por aqui, quando a temperatura chega a aprazíveis 40 graus com sensação de 47, nos preparamos para os festejos carnavalescos que, em 2020, terão 50 dias. Haja fôlego nesse calor intenso. Subitamente o poder municipal, antes avesso à folia, descobriu que carnaval dá dinheiro e resolveu estender a festa o máximo possível. No apagar das luzes um pouco de sensatez. Eu, particularmente, acho que já dei minha cota momesca aí em Salvador e por aqui também. Hoje, acompanho de longe.
Porém, antes da festa de Baco, teremos no dia 20 de janeiro o primeiro feriado oficial da cidade. Dia de São Sebastião, o santo padroeiro e que dá nome ao Rio. Não conheço outra cidade brasileira cujo nome agrega o nome de um santo, agregado nome e sobrenome. Se alguém conhecer, por favor, me envie. Fui pesquisar sobre essa curiosidade e peço-lhes licença para um pouco de história.
O Rio de Janeiro foi fundado por Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, Governador-Geral do Brasil. Estácio, que dá nome a um bairro do Rio, chegou às terras brasileiras em 1557. Dois anos depois, coube a ele, na época capitão da galé Conceição, livrar a Guanabara da presença dos franceses. Essa briga franco-lusitana durou anos.
Os franceses tinham o apoio dos índios, que sempre que podiam botavam os portugueses para correr. Mas Estácio foi persistente e, enfim, com a ajuda dos Jesuítas, fez da Guanabara território luso. Caso tivesse perdido, provavelmente Mem de Sá mandaria galés da Bahia para cá para socorrer o sobrinho.
Fato é que no dia 1º de março de 1565, Estácio de Sá na presença de Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, fundou uma povoação sob a invocação de São Sebastião, em homenagem ao patrono do Rei de Portugal D. Sebastião (1557-1578). Surgia aí a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Diz o samba de Roque Ferreira que "na Bahia é São Jorge, no Rio é São Sebastião, Oxossi é quem manda na banda do meu coração". Sinceramente não entendo como Oxossi pode ser uma coisa aqui e outra aí. Oxossi é Oxossi e tenho certas reticências quanto ao sincretismo religioso que faz essa salada de nomes. São Sebastião perde de longe para São Jorge no quesito popularidade aqu no Rio. Porém, Sebastião, que também era soldado romano como Jorge, dá nome à cidade e sempre teve para si um feriado, coisa que Jorge conquistou em tempos recentes.
Sebastião era francês e foi torturado, assim como Jorge. Seu martírio é mais explícito, com sua imagem de peito nu cravado de flechas. Há diversas representações desse martírio em quadros de pintores famosos como Caravaggio. Há uma carga dramática intensa na representação do santo. Quase nu, agonizante, Sebastião tem as mãos amarradas, a expressão de dor. Segue único no seu calvário, sem cavalo, lança ou espada.
No Rio de Janeiro, na Glória, está o monumento em sua homenagem. É bonito, grande, protegido por grades (como tudo por aqui), digno de sua grandeza. É o padroeiro da cidade, o santo que nos protege da guerra e da fome. E já que estamos na eminência de uma nova guerra mundial, nada melhor que invoca-lo para nos proteger.
O lugar, como tudo no Rio, tem seu lado santo e profano. Recebe um roda de samba chamada Sambastião, sobre a qual já escrevi aqui. No dia 20, ela ganha força com programação intensa.
Então amigos(as), que São Sebastião nos traga paz neste 2020! Até a próxima.
Ah! Sou devota de São Jorge. Mas tenho certeza que Sebastião entende.