Quebrei uma promessa de muitos anos de nunca mais ir a megashows e parti para a Cidade do Rock.
Em 1985, eu tinha 13 anos e minha mãe, claro, não me deixou ir ao histórico Rock in Rio, naquela que seria a primeira edição do festival. Ele se tornou uma espécie de Woodstock brasileira com chuva, lama, gente doida de tudo que é canto e lendas. Quem foi, viu a história acontecer e se tornou parte dela. Quem não foi, como eu, lê nos livros.
De 85 para cá, o Rock in Rio se tornou uma franquia milionária, com apresentações em outros países e com uma série de derivados, como a Game XP, o maior evento de games da América Latina também organizado pela família Medina. O que vale nas edições do festival, desde que voltou a ser realizado na chamada Cidade do Rock, é muito menos o rock e muito mais a diversão. E, por incrível que pareça, vale a pena.
Os puristas dirão que o festival perdeu sua essência, que se tornou algo bem mais comercial. Mas para sobreviver, o que fazer? Até mesmo os festivais mais alternativos do mundo como o Lolapalooza se tornaram franquias. É o que se chama de sistema. Sem ele, nada de Bon Jovi ou Elton John ou Beyoncé.
Quebrei uma promessa de muitos anos de nunca mais ir a megashows e parti para a Cidade do Rock. Primeiro o metrô, depois o BRT. Tudo organizado como não se vê no dia a dia da cidade. A primeira constatação é que o festival te obriga a andar. Muito! Da saída da estação até o portão são quase 2km de caminhada com direito a revista e detector de metais. Quando finalmente o letreiro do Rock in Rio se impõe é como entrar na Disney. A gente meio que esquece que teve que percorrer todo aquele caminho. Tem-se a sensação de estar em um lugar deslocado da realidade. Seguro, limpo e tranquilo. Isso no Rio de Janeiro faz toda a diferença.
A ideia de criar um espaço de entretenimento para toda a família é o maior êxito do festival. Sempre há algo para fazer ou ver. Shows mais intimistas e experimentais no Palco Sunset, onde Elza Soares e Iza cantaram rock alternativo na rock street; o melhor da produção da periferia no rap e no funk do espaço favela; e a música eletrônica no imenso palco dedicado aos DJs. As crianças podem se divertir em uma grande arena de games e quem curte sentar e ver o tempo passar pode escolher o que comer (e bem) no Espaço Goumert.
Não é um evento raiz, como se fala hoje em dia. É caro e vale cada centavo. Paga -se não só pelos shows, mas por toda a diversão e infraestrutura presente.
Voltando aos shows.. depois de andar muito para fazer qualquer coisa, resolvi ouvir a música. O sistema de som deixou um pouco a desejar, mas nada que abale minhas certezas que o RIR é um grande evento. Se você ainda não foi, recomendo. Escolha seu sapato mais confortável, separe uma grana legal e venha curtir o festival. Não é barato. A cerveja sai a R$ 13. Não se come por menos de R$ 25. Contudo, pode levar lanchinho (desde que embalado) e bebedouros espalhados por todo o lugar fornecem água.
Infelizmente, não vi um show que me entusiasmasse. Confesso, porém, que ando muito por fora das novidades da música. No sábado, vi um show sofrível do Tenacious D e uma chatice sem fim chamada Weezer. Foo Fighters botou o Rock na ponta com um som poderoso. No domingo, Ivete Sangalo fez dançar até roqueiro. Carisma mil, não há quem fale mal. Goo Goo Dolls foi tão rápido que nem vi. Dave Mathews Band foi correto e Bon Jovi... bem... É o Roberto Carlos dos EUA. Um velho show farofa, com poucos hits e também decepcionante.
Hoje, segunda, minhas pernas latejam. Festival é coisa de jovem, né? Mas foi legal ter curtido o ambiente. Uma experiência que recomendo sem medo.