Os argentinos estão por toda parte mesmo com o seu país quebrado
Como diz meu amigo João Felipe, nos despedimos do verão entre março e novembro e chegamos a segunda estação do ano no Rio de Janeiro: o apocalipse.
Chegamos aos dias ferventes. Em Bangu, a sucursal do inferno na Terra, uma caixa d'água derreteu por conta do calor. Já na querida Copacabana, a praia se torna desejada e disputada. É aquela época do ano que as pessoas nao andam; elas se escondem em sombras e lojas de ar-condicionado potente. Em 2018, infelizmente, o clima de Natal é inexistente no bairro e na cidade. Se o Rio de Janeiro fosse uma pessoa, receitaria um bom antidepressivo. A cidade está bem baixo-astral. Poucas decoracoes, lojas vazias, compras franciscanas.
Se o dinheiro para o panetone anda curto, para a cerveja nao falta. No mercado, a senhorinha na minha frente comprou mais bebida que comida. Dizia ela que era para ceia. Cheguei naquele ponto da vida que converso com senhoras no mercado sobre o preço dos produtos. Contei meia duzia de cerveja preta e uma caixa de Boêmia. Faz ela muito bem. Na atual situacao, a sobriedade é a pior inimiga. Gracas a Deus a eleição acabou e o clima de guerra deu lugar a um clima de "a crise tá braba". Hoje pode-se conversar com estranhos em paz.
O supermercada mais popular do bairro estava às moscas no meio de dezembro. Conforta meu coração saber que não sou a unica pessoa sem dinheiro. Diante desse quadro, fui à praia. Escolhi a Barraca da Russa, que naquela semana estava sob nova direcao.
Entre eu e o mar, argentinos, funkeiros, um casal alemão, mais argentinos, nativos do bairro e argentinos. Vai entender como os argentinos conseguem viajar com o país quebrado. Fato é que eles estao aqui com suas camisas do Boca Juniors e do River. Fora os visitantes, temos agora os argentinos cantores dos vagões do metrô e os vendedores de empanada na praia.
Nesse dia, descobri que a profissão mais rentável do momento é vender caipirinha na praia. O casal de argentinos ao meu lado consumiu cinco, cada uma a R$ 20. O copo era quase um litro de bebida. Na quinta, o casal comprou uma rede de 120 reais e dançou colado ao som de um grupo de pagode. Deus sabe onde essa rede foi parar tarde da noite.
As caipirinhas pareciam brotar da areia à medida que o tempo passava. Quando o relogio bateu 17h, a praia estava mais cheia que às 11h. Quem aguenta ficar em casa com o calor? A moda agora é chegar na praia às 22h, 23h e passar a madrugada na fresca. Tudo para fugir do ar-condicionado. Na verdade, da conta de luz.
A praia noturna, segundo a sabedoria popular, economiza protetor solar, energia, água. Diverte as crianças, refresca. Uma familia saiu da Baixada Fluminense no ultimo metrô para passar a madrugada no Arpoador. Brasileiro é guerreiro mesmo.
Da minha parte, espero que 2018 vá logo. Foi pior que 2017, algo que parecia impossivel. Foi o ano do assassinato de Marielle, do incendio do Museu Nacional, da prisao de 70% da classe politica do estado, das fake news, da morte da cadela no Carrefour, do maior numero de assassinatos de PMs no Rio, das brigas de família no Whatsapp... um ano muito dificil.
Chegou a temporada das confraternizações e promessas de Ano Novo, das lembrancinhas de Natal, do Chester e rabanadas. Que 2019 seja bem melhor e com noticias mais verdadeiras e felizes.
Feliz Natal a todos!