Bati perna pelo comércio de Copacabana no último sábado e nem camisa falsificada do Brasil eu achei.
Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, eu tinha 6 anos. Durante um jogo da seleção, no caminho até a casa de uma amiga da minha mãe, em Ipanema, tinha nem sombra de pessoas na rua. Só eu e mamãe. Mesmo muito criança, aquilo me chamou a atenção porque até hoje me lembro disso. As ruas completamente vazias. Muito papel picado no chão.
Minhas primeiras lembranças da Copa do Mundo se relacionam à baldes e jornal picado. Era gol do Brasil e o papel ia todo pela janela. Eu nem sabia que era, mas adorava a farra. A rua ficava imunda, mas eu me divertia horrores. Em 1982, eu tinha 10 anos. No colégio a gente comprava chiclete Ploc para ver as figurinhas da Copa. Meu jogador preferido era o Sócrates. E o Falcão. Como eu sou Vasco, era um insulto gostar do Zico. O mascote da Copa era o Naranjito, uma laranja medonha com perninhas e bracinhos. Foi a melhor seleção que eu vi jogar.
Em 1986, já adolescente, xinguei o Zico até não poder mais depois de ele perder o pênalti que garantiria a vitória sobre a França. Já não havia papel picado. As ruas eram tomadas por bandeiras verde e amarelo. Muitas! O chão era pintado com os rostos e nomes dos craques da seleção. Doutor Sócrates continuava meu ídolo. Mas tinha o Careca. E o Josimar? A gente já conhecia do Botafogo!
Em 1990 eu estava no pré-vestibular. A gente assistia os jogos depois dos simulados. Chegou o tempo de usar camisa da seleção, pintar o rosto com as cores da bandeira, ter uma bandeira. Foi a pior seleção de todos os tempos. A incrível Era Dunga, que até hoje deixa o ex-jogador tenso. Foi uma Copa do Mundo bem sem graça.
Em 1994, foi pura festa. Churrasco todo jogo, caixas e mais caixas de cerveja. Era a seleção do Romário! Romário começou no Vasco, então nem preciso dizer que amo o Baixinho. Graças a ele o Brasil se classificou. Nem lembro o mascote, mas lembro perfeitamente do gol do Branco contra a Holanda que quase me matou do coração. Depois dos jogos era só festa na rua. No dia do Tetra, tomei um porre tão grande que dancei com Hare Krishnas na praia. Um horror! Sorte que é de 4 em 4 anos.
Quatro anos depois, eu já estava trabalhando em jornal e mal tinha tempo para respirar durante os jogos. Tinha o Taffarel. Xagallo convocou o Edmundo (Vasco!) e o Ronaldo, Fenômeno! Teve mais uma vez a Holanda. Mas começava ali o começo do fim de uma relação de amor do time com o povo brasileiro.
Explico: em 1998, se o Brasil não ganhasse, ficava até meio perdoado por conta do título de 1994. O time era uma sobra de 94 com jovens talentos. Fomos até a final, foi legal, mas tomamos um pau da França que ninguém nem viu a cor da bola. Até hoje contam a tal história da convulsão do Ronaldo, mas ninguém também ficou 100% convencido com isso. Ficou uma dúvida no ar.
A Família Felipão fez valer a lenda que o time mais desacreditado sempre ganha. Para mim, 2002 foi um ponto fora da curva. Tinha tudo para dar errado e deu certo. Foi a última seleção com cara de Brasil. Ganhou, não convenceu. Mas ganhou, isso que importa.
A partir de 2006, vem o desastre. E com ele o desânimo pela Copa e pela seleção. A partir daí, as ruas ficaram menos enfeitadas, o povo menos amoroso com a amarelinha. Porque 2006 foi uma zona! Lembro dessa Copa porque o Bussunda morreu durante a cobertura e o Zidane deu uma cabeçada incrível no italiano durante a final. Foi uma Copa medonha, de um bando de deslumbrados, preguiçosos. Jogadores milionários, meio que não ligando para a Copa, que foram lá tirar uns dias de férias. Dias de fúria por aqui.
Em 2010, outro horror. Um técnico rabugento, um time sem graça, sem bola e com Felipe Melo. Uma seleção não pode ter um jogador como Felipe Melo. Menos bandeirinhas nas ruas e mais reclamações. E mais uma vez a Holanda.
Na Copa das Copas, a do Brasil, sobrou empolgação por todos os times, menos para uma seleção chorona, de futebol medíocre, que era a seleção brasileira. Nem vou falar do 7x1, que começou láááá em 2006. Eu mesma fui a 3 jogos, nenhum do Brasil. O que valia era a festa.
Até que chegamos em 2018. Andando pelo Centro, por Copacabana, pela Zona Norte, o máximo que vejo é o frenesi pelo álbum da Copa. Nada de bandeirinhas, nada de camisas, nada de pinturas em muros e paredes. Na-da. Chega até a dar medo. Na TV, só imagens dos craques de 82, 70, 58 (até hoje!). Sabemos mais a escalação da seleção do STF do que a de Tite.
A seleção não nos representa. Roberto Firmino, Casemiro, Taison (?), Douglas Costa, Danilo etc, são grande jogadores. Mas fizeram a carreira na Europa. Não sabemos quem são. Não os vimos crescer em algum clube, como Neymar, e depois partir. Não sabemos quem são, o que fazem. São pecinhas de video-game ou jogadores que só ouvimos falar na final da Liga dos Campeões. Eu ainda vi Phillipe Coutinho no Vasco, mas mesmo assim não o tenho como ídolo. Eles estão em uma realidade tão distante da nossa, que por mais que se matem de jogar, nunca vão tirar de nós o mesmo grito que Romário, Zico, Falcão, Cerezo, Tostão, Pelé, Cafu, Ronaldo. Parece que não dá liga.
Bati perna pelo comércio de Copacabana no último sábado e nem camisa falsificada do Brasil eu achei. Aí lembrei dos meus tempos de menina, quando jogava papel picado pela janela gritando "gooooool". Meu deu uma saudade danada.