Enquanto as atrizes globais e internacionais competem pelo Troféu Passo Fome do Ano, na periferia o que vale é bunda grande, corpão violâo, peitão, bração, pernão
Não se fala em outra coisa nesse Rio de Janeiro: a bunda da Anitta. Sinceramente, a bunda da Anitta é igual a milhões de bundas que existem por aí. A diferença é que Anitta é famosa e as famosas fazem questão de esconder e negar qualquer defeito. Mas Anitta colocou a bunda pra jogo. Por que? Quem mora no Rio sabe que, passando do Túnel Rebouças, que divide a Zona Norte da Zona Sul, nenhuma mulher quer ter corpão de cross fit.
Enquanto as atrizes globais e internacionais competem pelo Troféu Passo Fome do Ano, na periferia o que vale é bunda grande, corpão violâo, peitão, bração, pernão. Até uma barriga pode. Acho digníssimo. Beleza real na veia e sem photoshop. O que Anitta fez, na minha opinião, foi acabar com a hipocrisia. É assim, pronto e acabou.
Aí vocês vão dizer: ela já fez uma penca de cirurgias plásticas! Eu sei. E talvez essa mudança estética tenha relação com a nova Anitta, banhada em marketing, que quer ganhar o mercado internacional. Como uma brasileira vai chegar nos States com corpo de francesa?
Anitta me lembra Madonna. Não estou fazendo comparações, ok? Madonna no início da carreira começou assim meio tosquinha, mudou o corpo, posou nua, beijou mulher e foi se aprimorando até se tornar a diva master blaster do pop.
Anitta nunca chegará ao dedo mindinho de Madonna, mas está levando o pop brasileiro a outro patamar. Você pode até não gostar do "Vai malandra", mas o clipe é muito bem feito, a música é muito bem produzida e Anitta colocou pro mundo a periferia do Rio e seu famoso bronze na laje. O biquini de fita isolante é, simplesmente, genial.
Érika Bronze, dona da ideia, fez da laje dela um centro de bronzeamento. E ainda falam que o brasileiro é preguiçoso. Dê um limão e o brasileiro faz um foguete e não uma limonada. Bronze criou a marca de biquini perfeita e devia patentear a ideia, antes que alguma marca tradicional copie. Ela fatura dois dígitos por mês. Suas clientes são de Minas, Brasília, entre outros. Isso aí: esqueça a praia e pegue o bronze perfeito na favela. Só o Rio de Janeiro é capaz de produzir essas façanhas.
E como hoje em dia se problematiza tudo, a bunda da Anitta está virando teses e mais teses de empoderamento feminino, objetificação da mulher e outros nomes pomposos. Eu classifico como marketing mesmo. E o povo tá preocupado com isso? Vai ser a música do verão. Já são mais de 36 milhões de visualizações no YouTube.
A intelectualidade brasileira é cansativa. O mundo muda e ela não. Vamos entender que o funk é a mais autêntica manifestação cultural da favela e os meninos da zona sul amam. Depois de umas 4 cervejas até eu danço!
Não sou socióloga, psicóloga, antropóloga. Sou jornalista e Anitta é notícia. Não vou comprar um CD ou ficar vendo o clipe, mas por obrigação tenho que ir ali dar uma olhadinha até porque na praia de Copacabana tem bunda de Anitta pra caramba.
Falem bem ou mal, Anitta dá um ar novo na música brasileira que anda bem sem graça. E está atenta aos novos conceitos do mundo moderno. Pouco importa se é pra chamar a atenção. Mas, pense: onde mais você vai ver uma bailarina gorda dançando ao lado de uma estrela pop? Não à tôa, Anitta é referência por estudiosos em ditar tendências nas redes sociais.
Eu gosto disso, mesmo achando o clipe vulgar. Mas eu sou roqueira e não curto essas exibições de bunda. Mas definitivamente o clipe não é pra mim, digo, para mim como público-alvo. E eu acho muito legal que a diversidade exista. Ela é boa. Ela atualiza. Ela desencareta.
Enquanto isso, Gilmar Mendes solta Garotinho e Adriana Ancelmo. A gente fica com essa cara de besta, vendo o comércio às moscas em pleno Natal. Lembrando que os servidores do estado não ganharam 13 salário. Neles o Gilmar Mendes não pensa.