O Rio de Janeiro é o único estado do país que consegue a proeza de ter dois ex-governadores na cadeia
Estou cheia de assuntos para escrever. Vou tentar falar de todos fazendo uma conexão entre eles. Se não o fizer, deixo para a próxima. Começando pela situação inédita de termos dois ex-governadores presos. Só o Rio de Janeiro para produzir tamanha bizarrice. Falando neles, Anthony Garotinho alegou ter sido agredido e pediu transferência. Quando soube que ia para Bangu, encerrou o caso.
Garotinho é o que se chama de um presepeiro nato. Lembram da greve de fome? Amigos jornalistas que cobriram o fato me relataram que ele comia barrinhas de cereal escondido da imprensa. Não sei como a classe política brasileira é tão pródiga na produção de personagens tão caricatos.
Na querida Copacabana, o que mais ouço não são comentários a respeito da quadrilha do Cabral ou do Garotinho. Aqui o território é das velhinhas Bolsonaristas. Nada mais lógico. A maioria delas é remanescente do período da Ditadura. Muitas são viúvas de militares e reacionárias até a raiz do cabelo. Graças a Deus não elegem ninguém. Já os coroas que se encontram todos os dias para tomar café no mercado aqui perto de casa gostam mesmo é de falar mal do Lula. Se a política é pobre, o debate sobre ela também acaba sendo miserável.
A banalização da corrupção carioca fez com que Sergio Cabral e sua quadrilha morressem no esquecimento. A polêmica da vez é o prefeito da Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella.
O bispo disse que não vai dar dinheiro para duas manifestações culturais importantes da cidade: a festa de Iemanjá e o Trem do Samba. Tradicionalmente, no fim do ano, um grande cortejo vindo da Zona Norte traz oferendas para Iemanjá como agradecimento pelo ano que passou. É uma celebração livre, que acontece na praia, muito bonita. Há toques de atabaque, música, despacho de oferendas, fogos e saudação à Rainha do Mar. Depois de São Jorge, Iemanjá é a "santa" preferida dos cariocas.
Os terreiros no Rio de Janeiro são muitos e localizados no subúrbio. Mas a coisa mais comum de se ver em encruzilhadas, praças e cachoeiras da cidade são enormes despachos ou trabalho para santos. Eu moro próximo a três encruzilhadas. Teve dia de ver um trabalho em cada uma. Uma vez tive que conter minha cachorra que queria comer o frango despachado!
Voltando ao tema: sem o apoio financeiro da prefeitura de R$ 35 mil após 13 anos, a Congregação Espírita Umbandista do Brasil (Ceub) decidiu recorrer a empresas privadas para realizar o "Barco de Iemanjá". A procissão de Iemanjá é declarada patrimônio cultural do Rio e faz parte do calendário oficial de eventos da cidade.
O Trem do Samba acontece todos os anos no dia 2 de dezembro. Sai da Central do Brasil e vai até Oswaldo Cruz. São os vagões dos trens metropolitanos lotados de músicos cantando o melhor do samba carioca. Oswaldo Cruz é o bairro que representa o samba no Rio. Ali está a quadra da Portela. Esse ano, nada de verba para o Trem do Samba, que atrai turismo e visibilidade para o Rio. Ele vai sair mesmo assim, porque brasileiro não desiste nunca, mas que é triste ver o descaso da administração atual com a cultura carioca... é triste.
Mas ninguém quer saber disso. Mesmo os jornais do Rio dando capas e mais capas para os dois fatos, o foco na cidade é o goleiro Muralha do Flamengo. Onde quer que se vá, lá está o nome dele. Vascaínos, tricolores e botafoguenses zoam. Os flamenguistas sofrem. Virou um problema da cidade, um dilema para todos. Como resolver a situação "Muralha". Eu começaria trocando o nome. Muralha mesmo é o Gatito e o Martin Silva, respectivamente goleiros do Botafogo e do Vasco.
O jornaleiro que cuida da banca localizada em frente a minha portaria é o meu termômetro. Porque sou uma jornalista que não lê jornal. Cansei. Já estou no século XXI e tudo que leio vem dos meios digitais ou da observação cotidiana. Quando passo por ele pela manhã já fico sabendo do "lead" do dia. Hoje, dia de jogo do Flamengo, Muralha tá batendo recordes. Segundo ele, que pelo que percebo é Botafogo, o Flamengo não chega e semin-final da sul-americana. Como vascaína, espero que não.