Colunistas / Crônicas de Copacabana
Nara Franco

Crônicas de Copacabana: Não está fácil ser carioca

Os grupos evangélicos incitam a violência
21/11/2017 às 19:14
Na última coluna prometi falar sobre a Cinta Moderna, loja dos anos 50 localizada na Raimundo Correa, rua sem saída (raridade!) aqui de Copacabana. Mas aconteceram tantas coisas no Rio nos últimos dias que resolvi mudar o foco. Domingo, dia 19, teve a Parada Gay na orla do bairro, evento que acontece todos os anos. 

O fato inusitado desta parada, pelo menos para mim, é que coube à baiana Daniela Mercury colocar o dedo na ferida que nenhum carioca até hoje resolveu enfrentar: a intolerância religiosa. A Parada era para a comunidade LGBTQ, mas a intolerância na cidade anda passando de alguns limites. E merece ser citada.

Logo aqui, a cidade "purgatório da beleza e do caos". Os terreiros de umbanda e candomblé no Rio surgiram na região da Gamboa com os escravos que chegavam por ali da África. Tia Ciata, no Morro da Providência, foi pioneira. Hoje, os terreiros do Rio, em sua maioria, se concentram na Zona Norte da cidade, o chamado subúrbio.

E foi justamente no subúrbio que se deu o maior crescimento da chamada Igreja Evangélica e suas vertentes. O problema começou quando a turma da Bíblia resolveu usar de violência para depredar terreiros de religiões de matrizes africanas. Sem querer generalizar, mas não entendo como alguém que se diz seguidor da filosofia cristã pode achar certo usar do vandalismo para defender sua fé.

Os episódios se repetem e as autoridades, porque são evangélicas ou por medo de perder o voto evangélico, viram as costas para o problema. Então fica assim: a gente finge que tá tudo bem porque macumba é coisa de preto, pobre e favelado. 

Não tá nada bem. Assim como ninguém entra no templo evangélico, ninguém deveria entrar no terreiro ou no centro espírita ou no centro budista ou na igreja. Tem espaço para todo mundo. O silêncio, porém, incomoda. Não vejo nenhuma outra liderança religiosa fazendo ou falando algo que dê fim à intolerância. Pelo contrário. Pastores e deputados evangélicos incitam o ódio, a homofobia e o machismo. 

A Parada Gay esse ano quase não saiu do papel. Coincidência ou não, temos um prefeito que é Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. O que já é errado. Ou se é Bispo ou se é prefeito. Até onde sabemos, o estado é laico. Pois bem. Veio Daniela Mercury e falou do tema na parada. Aleluia! (sem trocadilhos!). Finalmente alguém sem medo dessa categoria. Sim, porque virou uma categoria ser evangélico. . 

Deixo aqui meu agradecimento público à cantora pela coragem. Parece coisa pequena, mas não é. Infelizmente no Rio não temos uma liderança forte ligada às religiões africanas como na Bahia. Alguém que dê voz a esse problema. Por isso, acho ótimo que a cantora tenha falado do tema. Espero que alguém faça alguma coisa.

Aqui vai minha crítica à Parada: enquanto ela for apenas uma festa, não haverá ganhos para a comunidade LGBTQ.

Dias antes, tivemos uma sessão na Alerj (Assembleia Legislativa) completamente sem sentido, que deu liberdade aos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Albertassi. A Alerj revogou uma decisão da Justiça Federal, Brasil!!!! 

A sessão foi tão surreal que uma oficial de justiça foi barrada, a galeria ficou cheia de funcionários de gabinetes impedindo a participação popular e um  deputado (que é secretário de Cultura) fez uma citação a "Bertoldo Brecha". Fico imaginando como serão as próximas eleições no Rio com esse leque de opções. Temos o grupo de ladrões do PMDB, que tem de um a dois integrantes presos por semana. O inexistente PSDB. O invisível PT e o DEM. Quer dizer.. temos o ex-prefeito Cesar Maia que é todo o DEM na cidade. Tem a bancada evangélica e o Garotinho (preso). Ou seja, desespero total. 

Não é fácil ser carioca. As vezes nem as peculiaridades de Copacabana me animam. Para descontrair conto essa: semana passada os funcionários do Mundial fizeram greve e não abriram a loja em Copacabana. Fiquei sabendo por 4 senhoras em locais diferentes. Todas horrorizadas. Por 24h o bairro entrou em pânico com o possível fechamento do mercado mais popular da cidade (que só perde para o Guanabara). Não se falava em outra coisas nos botecos e bancas de jornais. Eu, confesso, fiquei rezando novenas para não acontecer. 

A crise, meus amigos, está feia em todos os sentidos.