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Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM DE SERRINHA VOTA E CANTA CANETA AZUL PARA DERRUBAR O CAPETA

Esta é 33ª crônica do livro O Lobisomem de Serrinha e a nuvem de fogo. Leiam todas as crônicas no wattpad
15/11/2020 às 11:04

   Durante esta semana com a história de que temos pólvora para enfrentar o Tio Sam, o 'profeta' obrigou-me a puxar pela memória e lembrar que, em janeiro de 1943, o então prefeito Antonio Pinheiro da Mota, o qual também era presidente da Junta de Alistamento Militar mandou distribuir um folheto convocando os serrinhenses para participarem da II Guerra Mundial e determinando que se apresentassem ao tenente Saturnino Pereira, delegado do Serviço de Recrutamento do Exército na Serra. 

  Era obrigatório de acordo com a Lei do Serviço Militar em vigor para todos os cidadãos de 18 a 44 anos de idade, a apresentação no salão do Paço, onde foram atendidos os que ainda não se alistaram por qualquer motivo e estavam sujeitos ao Conselho de Guerra.

  Ao que se sabe, dois dos nossos bravos recrutas lutaram nos campos da Itália contra os nazistas, um deles, Serafim Brito, atuou em Monte Castelo, e um outro (não tenho sua identificação) que era filho do povoado da Cabeça da Vaca, lutou em Castelnuovo, nos Apepinos.

  Quero dizer aos nobres leitores e as amadas leitoras que, se mais não foram, não foi por falta de bravura e/ou amor à Pátria e a democracia, pois a Serra não é terra de 'maricas' como anda a falar o profeta, todavia, porque não tinhamos intimidade com as armas - metralhadoras, canhões e fuzis os serrinhas nunca tinham sequer conhecido - eu próprio, o lubi, só não me inscrevi porque nessa época já passava dos 300 anos da idade - nós os lubis que descendemos da Transilvânia chegamos a viver mil anos - senão teria ido a Itália. 

  E muitos de bravos vizinhos meus do Oseas não mandaram os filhos à Europa porque mal sabiam atirar com badogues e espingardas caseiras para caçar perdizes.

  E eis que agora vislumbra-se algo assemelhado dentro de nossas fronteiras, na Amazonia, caso tenhamos que usar a "pólvora" contra uma possível invasão de gringos, reorganizar nossas forças terrestres - na Serrinha não temos a Força Aérea e a Marinha - despertar valores em nossos artilheiros, treiná-los mais adequadamente no TG 141, equipar nossoas espingardeiros e badogueiros, porque se nos faltam novas tecnologias em armas, nos sobra em bravura, em valentia, em honra.

  Por isso mesmo não aceitamos sermos chamados de 'maricas' por quem quer que seja ainda mais em relação ao enfrentamento do coronavirus, um inimigo invisível, traçoeiro, mortal e que já levou à cova quase 170 mil brasis de todos os quadrantes, de todos os estados, homens, mulheres e até crianças, e não cabe de forma alguma esse epiteto de afeminados, boiolas, covardes, pois somos uma Nação de guerreiros, de Rambos, de lutadores pela sobrevivência, de pessoas honradas e que vivem sem a ajuda de 'rachacinhas', de cartões corporativos e outros benefícios.

  Liga-me o poeta Serafim Alves indignado chamando-me para um drink no Boteco do Teco: - Estamos numa nau sem rumo, a cada dia uma basófia, a cada dia uma polêmica inútil, o 'home' abomina o coronavac, que é importante, que é vital, e estamos a mercê da propria sorte - confidenciou bastante irritado.

  - Ora, meu vate dos alpes sertanejos, na vida tudo passa e esse topete já chamado de 'irresponsável' pelo bandeirantes, dito pelo Santos Cruz que estamos cansados de shows, de fanfarronices, de embustes, também passará.

  - Sim, sei disso, mas a morte nos ronda com seu capuz preto e seu cajado e nós, que já estamos mais pra lá do que pra cá, com 'stentes' e 'marca passos' poderemos ser tragados por ela, abraçados e empacotados na armação de madeira, alcochoada que seja, e prefiro ficar por aqui, no Teco, no Pé da Cova do Pernambuco comendo uma rabada, no Cal jogando dominó e tomando uma gelada, no Moacir saboreando a umbuzada a morar nas gavetas do cemitério paroquial.

  - Não exageres. Vamos ver essa caravana dos insensatos passar e ainda haveremos de tomar muitas geladas. Hoje, só não vou ao Teco com esse vate altaneiro porque estou no Esomec, na dieta de folhas, na codorna passada no azeite, nas frutas, no suco de melancia, mas tempo não nos faltará para brindarmos a vida e ao expurgo dos insensatos.

  - Que assim seja meu Hércules dos Pirineus serrinhenses haveremos de brindar essa premonição.

  O vate desligou o fone e a Ester, minha exuberante esposa, mais uma vez observando o meu discurso 'revolucionário' a essa altura enrolada numa bandeira nacional e ostentando uma foto do Moro aduziu: - Já estou de armas em punho visando 2022, ano do bicentenário de nossa independência do jugo português, graças a Pedro, o primeiro imperador, para votar naquele que, de fato, combata a corrupção e ponhas esses acharcadores da Nação em cana, perfilou-se e bateu continência, dizendo qie iria às urnas no Colégio Luis Nogueira.

  - Vá minha deusa da colina da santa. Mais tarde também cumprirei meu dever sagrado do voto no Ana Oliveira e votarei certo, honrarei nossa causa.

  - Digo-lhe mais: nós, as mulheres da Serra não vamos parar a nossa luta para expurgar esses inconsequentes que não honraram o prometido em 2018 e digo-vos, 2022 é logo ali, faremos a primeira passeata einda no mês de São Nicolau, do Noel, defendendo as nossas causas, o fim da corrupção endêmica, o ponto final na pilhéria, o 'the end' no engoto, por uma Amazônia sem queimadas, pela vacina quer seja chinesa, russa ou alemã, quiçá a produzida no Bitantan, agora, não podemos viver nesse mar de incertezas.

  - Muito bem minha brava Joana Darc, nós os Conans da Serra vamos dar-lhe todo apoio, confeccionar as tabuletas com dizeres de viva a democracia e fim da roubalheira, garantiremos a segurança e vamos colocar à disposição de vocês o carro de som do Lika, o mini-trio do Vou de Rock, toda uma infra para grande sucesso desse evento.

  - Agora, V.Exa. levante-se, tire essa pijama - ainda estava de chambre tomando o café da manhã - e haja, convoque seus guerreiros se que é são e não me venha com poetas, filósofos, terapeutas, sonhadores e anarquistas e sim com rambos, Bonds, Stalones, para enfrentarmos essa turma que segue a acharcar nossa Pátria.

  - Sem dúvida, já estaremos a postos com nossos bacamartes, nossas lazarinas, não para lutar contra marines porque viraremos pó, mas para mudar essse país de uma vez por todas.

   Dito isto, a Ester se retirou para ir votar acompanhada de um grupo de carabineiras e senhoras da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus e eu, da mesma forma, vesti minha capa colonial que uso desde a época da Guerra de Canudos, passei pelo campo do Bahia da Rodagem onde meninos jogavam bola e adentrei no Ana Oliveira para depositar meu voto em urna assinando o boletim com a caneta azul que levara comigo.

  E depois andei pelas ruas da Serra, em nosso bairro, cantando a musiquinha: "Caneta azul/ azul caneta/cante azul/Em 2022 vamos derrubar o capeta"