Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LUBI APRESENTA SERAMOV E SEU NOVO LIVRO COM AS 5 FLECHAS DOURADAS

O arquiteto do universo e bruxo da linhahem dos cossacos vem ai com novo livro
04/10/2020 às 10:17
 Recebi no último sábado na Toca do Love, minha residência no Alto do Oseas, Alpes Serrinhenses, onde na soleira da porta ainda e se lê os dizeres "Lar Doce Lar" em placa retangular azul vendida durante a campanha da ALEF - Aliança Eleitoral Pela Família contra o comunismo - da campanha Lomanto x Waldir, 1962, do tempo do padre Carlos Ribeiro e do cardeal dom Álvaro Augusto da Silva, a visita do ilustre amigo Seramov Alvisdorov, arquiteto do universo, desenhista, sábio bruxo da 12ª geração dos bruxos de Pendlie Hill, Lancashire, norte gelado do reino Unido, para um almoço preparado com esmero pela Ester Loura, minha digníssima esposa, e sua secretária Jú Fraldas.

   O sábio man ao visitar-me por cortesia após longos anos de ausência, ele que reside em Porto Seguro onde tem seus negócios e sua tenda de tarô e consultas esotéricas e também faz projetos sustentáveis em arquitetura, para saber como eu estava a enfrentar essa pandemia do coronavirus que já ceifou a vida de mais de 140 mil brasis e ademais anunciar a divulgação do seu novo livro a ser editado em breve com ensinamentos sobre o bom viver, o viver em paz com as esposas ou esposos, com amantes ou quem for, respeitando a natureza e as forças do Universo, visíveis e invisíveis, que dão sustentação ao mundo.

   Segundo ele, sabedoria que vem da terra dos cossacos, de Polyn, do berço original do Império das Bruxas que apoia Putin, na Rússia, e depois sua família migrou para o RU, ele, hoje, completamente aculturado em Porto, nesse Brasil maravilhoso, onde tudo é harmonização, tudo é saber.

   Presenteou-me o ilustre com uma botelha de chateauneuf du pape do Ródano de France e Ester, depois de cumprimentá-lo, trouxe as nossas melhores taças de cristal da Bohemia para degustarmos o tinto e saborearmos patinhas de grilos temperadas com molho mexicano, formigas negras do Morro Dois Irmãos, do formigueiro antigo, o Plutão, cevadas a ramos de urtiga, e linguiça preparada pelos netos da família Novaes enchidas ainda a sopro de boca.

   Que encontro fantástico. Que graça, que prazer iluminado, Seramov pareceu-me mais velho, barba grisalha, alguns fios brancos nas sobrancelhas, aparelho auditivo Menthel no ouvido esquerdo, bochechas de buldogue a cair, ainda assim, sereno, lúcido, a lembrar de tudo, a comentar sobre os mais variados assuntos, dizendo-me ele que esteve assustado com o coronavirus, porém, adepto da cloroquina que fez uso regular entendia o pior já passou.

  - Vamos brindar a vida - ergueu a taça e nós o acompanhamos com o tilintar dos cristais. 

  - Excelente tinto, engrandeceu a Ester, conhecedora dos aromas e boques, e eu a segui em opinião dizendo ser o 'o tinto dos deuses na presença de um sábio, digno de um cavalheiro de estirpe siberiana.

   - Modéstia meu caro Lubi, de vinho e mulheres eu entendo, são minhas especialidades e não diria que seja uma Gretchen, senhora que já completou o seu 18º casório, estou solteiro no momento, mas, por minha tenda em Porto já passaram 6 ou 9 graciosas senhoras das artes, atrizes do cinema, damas de negócios, e as honrei com todo encanto.

   - Não me diga estás solteiro! Já ia perguntar pela senhora Júpiter, a atriz paulistana de Piracicaba.

   - São águas passadas meu gigante, as brumas das águas do próprio Piracicaba a levaram de volta a sua terra, e agora estou a dedicar-me a literatura e completar o meu livro que trouxe um exemplar para o amigo, com lançamento previsto para novembro.

   Folheei o livro, Ester passou os olhos na capa e contra capa, vi anotações da criação da italiana Giovanini, do valenciano Leandrinho, mandalas, signos, pentagramas, estrelas, um título sugestivo "A mão espiritual de Saramov Alvisdorov, linhas que iluminam o futuro" agradeci o mimo e comentei: - Certamente será sucesso.

  - Espero que sim, tenho fé nos astros e na minha pena, nos meus dizeres que podem ajudar a humanidade. Encerrar a esses conflitos, esse fundamentalismo reinante, a essa fobia que nem a ínclita Glória Maria escapa.

   - É coisa, então, de alto valor da psique, que poderá ajudar esse mundo tão conturbado com trumps e putins, com profetas e maduros, com ortegas e macrons, com boris e fernandes, com obradores e berluscones, frisei.

  - Sem dúvida. Como diz o amigo pensador romano Augustus Abreu, que é daqui de nossa gloriosa Bahia, terra de Gregório de Matos y Guerra, de Dias Gomes, de JU Ribeiro, de Miriam Fraga, no dia em que me descobrirem serei um fenômeno editorial em vendas, fama e riqueza, anotou Seramov se deliciando com uma patinha de grilo frita.

   Conversa fenomenal. Solvemos os últimos goles do chateauneuf. A Ester piscou o olho para mim como a dizer: e agora, o que servimos nesse mesmo quilate? Eu meneei a cabeça como se a frasear ser o de menos e apontei com o piscar do outro olho para a nossa adega, início de mês, ainda sem reabastecê-la no Tony e seu Empório Chamas, para que ela providenciasse algo a altura do servido. 

   E a Ester, em alto loubatin, emoldurada num florido mata a atlântica, trouxe-nos se um Barbera D'Asti, Natale Verga Itália, tinto seco e fez a ressalva, entendida pelas partes, que não estava a altura do gaulês, mas era histórico como o coliseu de Roma. 

  A rolha voou pelos ares, trocamos as taças, a Ju trouxe mais uma rodada de linguiças servidas em garfinhos com cabeças de touros miúras de Madrid, brindamos e seguimos a tertúlia.

  - E que mais narra e nos ensina nesta bíblia, neste sacro volume, acariciei o livro com meus dedos e anel de caveira adquirida na península de Yucatã.

   - Narro a arte de viver, a mãe Nyx, a vida-morte-vida, como enfrentar as adversidades, como colocar a cabeça no travesseiro todas as noites e dormir o sono dos justos sem precisar tomar rivotril, os girassóis de Van Gogh, as brumas do Tejo, os mistérios do Santo Graal de Valencia, a arte de envelhecer sendo jovem, as cinco flechas douradas e certeiras de minha mão, a cultura, mãe de todos os saberes, a filosofia popular, a cidade da Bahia, de tudo um pouco meu líder.

   - Que fantástico. Oxóssi era o guerreiro de uma flecha só, infalível – ressaltei – e V. Exa. tem 5 flechas, deve ser fenomenal.

   - Sem dúvida, faz parte da natureza humana, as linhas das mãos, os cinco dedos, tudo está traçado nelas, o destino, a sorte, a riqueza, o amor, a desdita, a soberba, a ganância, a bondade e a vida de cada um, completou. 

  - Queria que sua neta Sol estivesse aqui para ouvir esse diálogo ela que está a fazer um livro inspirado na Baba Aya e já mudou o roteiro umas dez vezes e não sai do lugar, comentou Ester.

  - Em sendo jovem como é, os pensamentos são vulcânicos e se assentarão com o passar dos anos, não se preocupe afrodite Ester.

  - Quando o amigo retorna a Porto?

  - Voltarei amanhã. Deixei meu ‘king-air’ no campo de pouso de doutor Lomes, uma cortesia deste empresário, e volto ao Estremo Sul para atender os meus clientes.

   A Ester tocou o sino da capela e foi servido o almoço uma feijoada com tudo o que se tem de direito, torresmo, couve, rapadura, laranjas e doce de mamão para o poster.

   Durante o almoço, ponderei: - Ora, o fidalgo poderia ficar aqui no domingo, a tempo de conhecer os nossos pontos turísticos, o alto da santa, a estação da Leste, o letreiro y love Serra na entrada da cidade, a Morena Bela - nosso jardim de São Petersburgo - a toca do quilombo da Flor Roxa, a serra de São Caetano, e até darmos uma volta em nossa lancha no mar da Bomba.

   A Ester, que a tudo escutava absorta, chutou minha canela por baixo da mesa. 

   Após o almoço, Seramov foi ao banheiro para necessidades especiais e a Ester, aproveitou o momento e subiu nas tamancas: 

  - Que lancha você tem? Que mar tem o pinicão da Bomba? Daqui a pouco você vai querer convidar o marquês para ir ao Boteco do Teco 'comer água' com seus 'amiguinhos', quiçá lhe oferecer poemas do Serafim, me poupe, viu.

   De volta ao convívio nos deliciamos no doce de abóbora e em cálices de xerez. Seramov despediu-se oferecendo uma corrente de ouro com pedra de rubi a senhora Ester e de nossa parte lhe brindamos com um prato de parede pintado pelo artista Maninho e a promessa de convidá-lo para o Encontro dos Amigos da Serra, em 2021, na cidade da Bahia.

  Os sinos da matriz tocavam para São Francisco Ferro e Comps. 

  Hoje, pela manhã, logo cedo, ao levantar voo em Lomes, o ‘king-air’ de Seramov deu umas rasantes sobre a santa e a nossa tenda. 

   Com um lenço branco acenei para o céu dando-lhe adeus.