Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LUBI DE SERRINHA LAMENTA FIM DA CENTENÁRIA CLARINETA DO TIÇÃO IMPRESSO

Vitória do Leão sobre o Paraná já foi um trabalho da bruxa do bairro da Santa, a brava Conegundes
30/08/2020 às 09:37

  Recebi no decorrer da semana uma comunicação pelo WhatsApp assinada pelo diretor e redator chefe do nosso hebdomadário "Gazeta do Tição", Velame Machado, dando conta de que, a partir do próximo dia 31, diante dos avanços das novas tecnologias e das mídias difundidas pela internet, o jornal não circulará mais com edições impressa, atendendo aos seus leitores somente on-line.

  E que não haverá prejuízo para os assinantes do impresso uma vez que terão à disposição as edições on-line com acesso aos colunistas locais, nacionais e internacionais como uma forma de compensação.
Alegou VM que aliado ao avanço da internet veio a pandemia do coronavirus e isso foi fatal para a derrocada do jornal, uma vez que grandes anunciantes tiveram que fechar suas portas (pelo menos temporariamente e por 5 meses) e onde não há negócios não há dinheiro; onde não há vendas, não há publicidade.

  Palavras do confrade VM: "Os cofres vazios de um lado afetaram o minguado cofre da 'Clarineta', que já estava com finanças em teto baixo, raspamos o tacho e entramos na ciranda bancária para pagar a folha".

  Citava, entre anunciantes poderosos, a perda de comerciais na construção civil com a Emilio Danado paralisada; a Coqueiro Ramos sem exportar marmorizados; o magazine Ciclamen fechado; os cafés Gonzaga e Cruzeiro sem vendas, a Serra ainda engatinhando na fase 1 da pandemia com A Pérola Tecidos sem anunciar, a Editora O Serrinhense sem colocar sequer 1/4 de página, com a exportadora de fumo Tabaco Princesa do Sertão sem embarcar na gare do trem, sem a João da Ema eventos e noivas a engalanar casais.

  Enfim, grandes colaboradores sem anunciar. A Pharmacia Probidade com baixas vendas, a atacadista de sapatos Juca Campos sem exportar, a Demá Fornecedora de Autopeças sem se ajustar com Camaçari, a Movelaria Matos sem equipar nosso Centro de Convenções e isso levou a "Clarineta" à falência.

  Lamentava o nobre escriba que estava a dever a fornecedores, a colabores fiéis como os cronistas Freitas e Rosário, o Barrêto de Jesus, o enólogo Ferreira, o poeta Serafim Alves, o detetive Valdir, os colunistas Leandrinho e Murta Franco, e ainda estava a ouvir momentos estarrecedores na Pátria com o messias dizendo que iria encher a cara de um repórter de porrada, outro comentando que jornalista tem que comer capim porque é burro, as redes sociais repletas de especialistas que entendem de tudo, dão pitaco até em assuntos científicos, com censura impiedosa com todos os lugares, a cultura do cancelamento em vigor, o fundamentalismo em avanço, o governo do Estado sem por 1 real no institucional, daí também a preocupação do nobre Machado com a integridade do seu pessoal, integridade física e moral.

  Perde a Serra a sua gazzeta centenária quando ainda se escrevia gazeta com dois zzs, não que morra de vez porque ficarão as edições on-line, uma tradição que vem de Reginaldo Ribeiro, também fundador de "O Serrinhense" ficando agora a existir no estado como centenárias, a folha do Simões, da capital; A Vanguarda, de Cachoeira, que edita um número de caju em caju.

  A Ester Loura, minha santa esposa, me consolava dizendo que são os novos tempos "meu rei" e que tinha que me acostumar com a modernidade, e parar cheirar tinta de jornal, sujar as mãos lendo obituário e outras bobagens, notas de um colunismo social do tempo de Balbino, de Martha Rocha quando miss e agora tudo era "clean, civilizado".

  - Não vês! Caras! que eu gostava? Faliu. Playboy que você colecionava contra minha vontade e ficava olhando aquelas coelhinhas atrevidas mostrando o rego, cachonas exóticas, bye-bye, graças a Santo Agostinho de Hipona, benzeu-se.

  - Eu colecionava Realidade que foi uma grande revista do Civita, frisei.

  - Quer que vá pegar uns exemplares da Payboy no seu gabinete, quer? Ah! Essa "Clarineta" não fará falta alguma. Campeã de falar da vida alheia, de futricar, de indispor as famílias. Até minha comadre professora Belmira foi acusada de pular cerca, de abrir pernas, uma injúria. Bom que feche mesmo.
- Tinha coisas admiráveis além da política, das notícias de economia, de cidade, da nossa gente, os poemas do Serafim Alves, as fotos do Adryano, os florais da Evoá, as artes do Maninho, muita coisa de cultura para nosso saber. Os abstratos do Ênio, a coluna musical do Meinha Filho, as análises jurídicas de Dr Zéu, quanta coisa boa.

  - Em parte, admito até que sim, mas, os versos desse Serafim, sem rimas, prosa poética chinfrim que você tanto gosta impressos mal servem para enrolar sabão de coco na venda do Pinheiro e olhe lá. Se ainda fossem versos do Bilac, menos mal.

  - Você fala em modernidade e lá vem com o parnaso, um imitador de Leconte de Lisle, da turma francesa do Monte Paranaso do século XIX. kkkk.

  - Ris por ignorância. Bilac não era um imitador e sim um clássico, espírito positivista, um republicano, um patriota, autor do Hino à bandeira. 

Ester recita perfilada: 
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.

  - Palmas, disse, você quando não gosta de uma coisa e aprecia os seus é dose para leão.

  - Não me fale neste animal porque v prometeu que a bruxa Conegundes faria um feitiço para que retorne a série A e na primeira partida caiu de 4 para o vovô na Copa do Brasil.

  - A promessa ainda está em andamento. Vês, ontem, o Leão venceu o Paraná por 1x0, trabalho da Conegundes.

 - Essa bruxa é de fritar bolinhos. Consulte uma das nossas ancestrais da Hungria, da Transilvânia antiga, das montanhas de Bihor.

  - Cada dia, sua agonia. Primeiro o Leão será campeão da Série B com a ajuda da Conegundes. Numa segunda etapa, na A, irei a Clus-Napo acertar um serviço com a bruxa Teçá, original da terra, que tem os olhos atentos, e a taça será nossa, em 2021.

  Ester convidou-me para um brinde, um xerez. Saudamos: É campeão, é campeão nacional.