Esta é a 18ª crônica do jornalista Tasso Franco publicada no seu livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, no aplicativo literário wattpad
CONSELHO DO LUBI SUGERE A CANDIDATOS LA RECOLETA EM SERRINHA E FIM DO PINICÃO
Quando comento com meus leitores que o mudo está próximo do fim há quem ache que sou exagerado, que estou a assustar o povo. Quem amedronta o povo é o preço do filé, nas alturas; o reajuste da cerveja, à lua.
Primeiro foi a nuvem de fogo que pairou sobre o céu de nossa aldeia metendo medo nos clientes de "A Ferragem", de Sêo Neném Gonzaga; depois o céu roxo que apareceu em Belém de Cachoeira e outras áreas do Recôncavo, em terceiro o meteorito de Pajeú que assustou moradores de Pernambuco e do Norte da Bahia, e tudo junto e misturado tem essa pandemia do coronavirus que já matou mais de 90 mil brasis e 8 dos nossos bravos serrinhas.
Agora, surge o alcaide de Itamaraju, encarnando o personagem Odorico Paraguaçu, de Dias Gomes, elogiando o cemitério municipal em construção na sua cidade com o nome do Frei Beto, seu templo do além. O tal Cuica de Santo Amaro disse numa emissora de rádio, quase em versos como fazia o vate santamarense, que quando as obras ficarem concluidas: "Vai dar vontade de morrer".
A frase foi proferida pelo emplumado 'tucano' Marcelo Angênica ao apresentador Jean Batatinha, que imediatamente rebateu, aos risos: "Se você quiser, pode ir, eu não quero não".
O bate papo foi ao ar no programa Jornal do Meio Dia, justo quando as familias itamarujenses estão almoçando servindo-se de um ensopado de carneiro com suco de cacau. Segundo moradores de Itamaraju, o parque dos defuntos está sendo construído no ritmo de uma obra de igreja. Ao custo de R$ 3 milhões, o projeto está atrasado. A última previsão era de que ele seria inaugurado em 21 de março, e já estamos em agosto, mês do desgosto.
Nas redes sociais, não demorou para Marcelo Angênica ser comparado a outro prefeito icônico, ao menos na ficção: Odorico Paraguaçu, da novela "O bem-amado". Na trama, Odorico era o prefeito demagogo que tinha como grande obsessão inaugurar o cemitério a cidade fictícia de Sucupira .Rendeu foi coisa e Salvador ganhou o seu Cemitério de Sucupira no Centro Histórico, ao lado da Prefeitura.
Em telefonema, consultou-me nosso conselheiro e filósofo Pato de Almeida que gostou das promessas desse alcaide do Extremo Sul da Bahia e sugeriu que eu reunisse nosso conselho político e de sábios para ouví-los sobre esta questão, pois, Serrinha, no seu entender, está a merecer um cemitério que dê vontade de morrer, uma vez que não temos um Recoleta, um Pàre Lachaise, um Highate, sequer um Campo Grande.
Ponderei ao ilustre confrade que estamos bem servidos em tumbas, com o cemitério da Diocese, também conhecido como do padre antigo, e o Jardim das Acácias, da Loja Macônica, na Cidade Nova, que atende bem a população de nossa aldeia. Este, como o próprio nome diz, com alamedas floridas de acácias, antulhos, margaridas e bem me quer.
- Mas, obtemperou ele, teremos uma eleição municipal em novembro, e proponho que o nosso Conselho Político ponha entre as reivindicações, a construção de um cemitério a La Père Lachaise, onde repousa Marcel Proust e outros grandes escritores franceses; que acabe com o pinicão da Bomba, que incremente nosso Centro Industrial (CIS); que recupere a antiga casa de Benardo da Silva e ex-prefeitura e Câmara de Vereadores instalando um um Museu com nossas reqlíquias; que recupere a Estação Rio Branco da gare do trem para vivermos a imitação de Chicago; e que coloque no centro da cidade, na Nogueira, no Beco da Lama e na Araújo Pinho esteiras rolantes como essas que existem nos aeroportos e uma escada rolante na passagem da BA para a Cidade Nova.
- V. Exa. fumou aonde para vim com essas idéias tão estapafúrdias. Daqui a pouco vai querer que a Orquestra Sinfônica da Bahia, com maestro em fraque e cartola, toque no furdunço do Bacalhau da Barão; e que o presidente Messias Bolsonaro venha a Serra no dia da inauguração da duplicação da BR 116 e desfile pela cidade como fez Ruy Barbosa, em carruagem.
- Seria o almejado, respondeu o filósofo.
De todo modo, levei o assunto em pauta para uma video conferência com os nossos conselheiros, adrede consultados, Ester secretariando a sessão virtual, um dos convivas sem poder participar por estar acamado, o poeta Serafim Alves, acometido de Chikungunha, e assim postos em tela levei o assunto em questão ao debate.
O nobre conselheiro Pinguinha Flores usando da palavra em primeiro, disse que, nada mais justo do que a Serrinha ter um cemitério a altura desses nomes dificeis que foram falados, porque em Mucugê tem um cemitério que atrai milhares de turistas todos os anos, apoiou também o fim do pinicão da Bomba, "um patrimônio que pode ser recuperado", o incremtnto do CIS, projeto que vem desde a época do prefeito Lourinho, e adorou a ideia das esteiras rolantes no centro, sinalizadas e com avisos para os velhos não cairem. Mas, reprovou uma escada rolante na BA 080.
O conselheiroi Toinho do Caminhão, segundo a expor suas opinião, disse que um cemitério à altura seria louvável, com uma ala para os ex-caminhoneiros que já partiram, "heróis desbravadores do Brasil", cripta de alto coturno para os políticos em mármore de Cararara, fachadas em granito Rosa da Chapada e tudo mais em grandeza. Apoiou também a idéia de refrorcar o CIS e acabar com o pinicão, mas, reprovou as esteiras rolantes dizendo que isso poderia levar a Serra ao ridículo. Quanto o convite ao Messias era esperar mais adiante para ver se a estrada, de fato, será concluida.
- Em aparte, o conselheiro Tolentino Caneco, disse que em Moscou já existem essas esteiras em várias ruas, que em Haia também, e que Serrinha tinha que se ombrear com os lugares mais avançados do mundo. Quanto ao cemitério, achou a idéia polêmcia, mas, a constar em nossas reivindicações e que cada candidato a prefeito explicasse a população o que iria fazer.
O conselheiro Teco disse que era preciso ponderação, o país passa por dificuldades com a pandemia da Covid, e não haveria recursos para tantas obras, "necessárias, importantes", cabendo a cada candidato explicar ao povo o que desejava.
- Em aparte, o filósofo Pato de Almeida, disse que o país tem muito dinheiro, alguns politicos estão adorando a pandemia para receber mais recursos do Ministério da Saúde, há no mundo muitos de dólares sobrando, o que precisa é de competência para captá-los. Como dizia o filósofo Vavá Lomanto "dinheiro não faltará para obras", citou o irmão do ex-governador Lomanto Jr.
O conselheiro Reizinho absteve-se de opinar entendendo que o momento era de reflexão, de cautela com o dinheiro público.
Tudo devidamente anotado e posto em ata pela senhora Ester ficou estabelecido que iriamos sugerir aos pré-candidatos a prefeito de nossa aldeia 4 temas: 1. A construção de um cemitério monumental; 2. A recuperação da Bomba com sua urbanização à exemplo da Lagoa Grande, em Feira de Santana; 3. Dinamização do CIS; 4. Empenho dos candidatos para dar pressa na obra da BR 116 e ao eleito fazer gestão para o Messias vir a Serrinha. Os outros temas foram desprezados.
Encerrada a sessão com assinaturas virtuais Ester prepararia a correspondência aos candidatos. Antes, achou por bem, fazer uma ponderação, a mim, em particular: - Acho que está tudo bem, mas, esse negócio do cemitério não concordo, não faria porque não tem benefícios sociais. E não dá votos.
- Ora, minha querida Ester, acendi um cubano próximo a lareira e temperei o céu da boca com um red uva bobal, La Recoleta, onde está sepultada Evita Perón recebe 2 milhões de turistas ao ano; Highate, onde decansa Karl Marx, mais de 3 milhões; e Père Lachaise, onde vivem em morada eterna Honoré de Balzac, Oscar Wilde, Pierre Bourdie e Alan Kardeck, pai do espiritismo, 6 milhões de visitantes. Isso é social porque movimenta os hotéis, as floriculturas, os restaurantes, a indústria literária. É uma cadeia produtiva. É um balaio de votos para qualquer candidato.
- O problema é que não temos, entre os nossos, sequer uma Raquel de Queiroz, um Olavo Bilac, um Castro Alves, um Caxias, como iriamos atrair esses turistas.
- Temos, sim, nomes de relevo, na política com os coronéis Nenenzinho e Pinheiro da Mota, no heroismo pátrio, o Pai Geza, nas artes, na pintura, na literatura, na música, com Ramos, Ernesto e Simão; na filosofia e na poética popular com Demócrito e Manuelzinho Aboiador, e no espiritismo seguidores renomados de Kardec, o Braulio, o Profeta, o Peixinho, a Olivia, a Dalva.
- Como esses nomes Serrinha não vai atrair turista algum.
- Querida Ester, baforei o cubano com rodelas ao ar, como a por uma coroa em sua cabeça, com um bom marketing, propaganda, tudo se resoilve nos dias de hoje. Não vê os EUA estão investindo bilhões de dólares para porovar Marte. Para que? para ver a lua de perto? Nada! Para vender terrenos, explorar os vales de diamantes e levar quem tem dinheiro desse planeta conflituoso para uma morada livre de virus, de tiroteios, de brigas, de roubos.
- Apague esse charuto e venha saborear o Zenerosa que acabei de coar e comer seu cuscuz com ovos de coquém, e pare de ficar ai sonhando e bebericando esse bobal.
Levantei-me da poltrona, pus o cubano a descansar no cinzeiro costa de tartaruga marinha, reservei um Porto Taylor para o pós jantar e dirige-me a cozinha. À mesa, o Zenerosa perfumando o ambiente, o cucuz suando mais do que atleta em final de maratona, meia dúzia de ovos de coquéns, três de anum preto, perninhas de grilos torradas, canela e açafrão.