Esta é a 14º crônica do livro O Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo que v pode ler no wattpad
LUBI DE SERRINHA CORTA CABELO À MODA VLADIMIR PUTIN
Estava a conversar pelo zap com o professor e cientista romano Augustus Abreu, o "Espírito Escocês", sobre o andar da carruagem do nosso país e lembrava-lhe que nesse período governamental do Messias além dessa tragédia humanitária do Coronavirus, algo fora do circuito normal dos Deuses baixou em nosso território com a invasão de alienígenas venezuelanos a fugir do regime Maduro, queimadas anormais na Amazônia, uma possível ameaça de nuvens de gafanhotos à semelhança daquela prometida por Zeus contra os faraós e, mais recentemente, um ciclone bomba em Santa Catarina, destelhando casas e matando quem encontrava pela frente.
Dizia-me ele que são coisas passageiras nada que possa afetar a popularidade do Messias. Sobre meu confinamento recomendava proteger-me, pois, soubera das nuvens de fogo que estão a pairar sobre o céu da Serrinha e a qualquer momento poderão descer e quiçá torrar telhados e até matar alguns abnegados cristãos.
Disse-lhe que era improvável, visto que, de tempestade bomba temos apenas um açude que virou pinicão, antes nosso mar, nossa praia com um braço ou língua d'água e de terra onde banhávamos como se fosse às margens do Sena. Além do que, temos a proteção divina, pois, salvo a seca que nos persegue desde a época da escavação do Tanque das Abóboras, início do século XX< quando os trabalhadores ganhavam o dia comendo abóboras para sobreviver, tudo mais é alegria.
- Um braço do Sena, em Serrinha, parece-nos ficção, cutucou Augustus.
- Figura de retórica. A língua d'água e areia da bomba eram mais charmosas que o Sena. Cada povo tem o seu rio. Chama-se até hoje "Os Treze", comunidade valorosa. Em épocas idas, um glamour, mais querido, sim, que o Sena e o Tâmisa juntos.
Papo agradável, lembranças literárias e recuerdos de Augustus quando este me informa que bebeu o primeiro uisque na casa de um tio conhecido por Lapão, e também prosa com tom de tristeza por estar confinado em Itacirimim, a beira mar, diante da pandemia do coronavirus.
- Você tem que dá graças a Deus, pois, 'nosso mar, já dito/ virou pinico/ antes, açude que moveu as chemins de fer da Leste/agora, virou uma peste' pelo menos é o que versa o poeta Serafim Alves.
- Esse poeta parece que vai longe. Você deveria falar com ele para enviar umas estrofes para o blog do Guga. Ganharia mais visibilidade, afiançou o romano.
O Serafim é o poeta do amendoim, do eu interior, da pandemia e da alegria. Vou consultá-lo, prometi.
A Ester Loura, minha santa esposa, adentra a sala com um tamanco em mãos e pergunta se não ouvi o que ela estava a falar, "que a cabeleireira havia chegado para cortar meus pelos" e já tinha falado isso três vezes, a cada fala um tom mais elevado.
Respondi que ouvi ela dizer que havia colocado "a lenha na lareira" e não a presença da cabeleireira.
- Quando passar essa pandemia fique sabendo o senhor que vou lhe levar na Audimed, antes que fique louca, advertiu-me.
Pedi licença ao romano Augustus dizendo que depois voltaria a nos falar e respondi a madame: "Não sou cliente da Vitalmed".
- Jesus me salve! - benzeu-se Ester.
- Estou pronto para o corte do cabelo e o aparo da barba.
- A Andrea já está há horas lhe esperando com a máquina e a tesoura em punhos", comentou.
Levantei-me, calmamente, e fui até a cabeleireira: - Desculpe o atraso, mas, a Ester não me avisou de sua chegada.
- Avisei, sim, mais de uma vez. Mas, como estou com um surdo dentro de casa, vamos ter paciência.
Sentei-me para cortar o cabelo e como não sendo de ficar sem dar resposta falei: - Não quero jogar paciência, nem comer amendoim.
- Olha! Só se eu usar um megafone para falar com V.Exa, arguiu com tratamento de autoridade.
- E, digo mais, além de surdo - comentando com Andrea, pensando que eu não estava ouvindo - deu pra conversar quando está dormindo.
- Deve ser com as almas dona Ester. Não se preocupe com isso. Muita gente tem essa prática, disse a coiffeur.
Andrea, que a tudo astuciava e ia dialogando com a Ester, perguntou no meu pé do ouvido se eu gostaria de um corte a tesoura ou a máquina número quatro.
- Você pode cotar aqui mesmo na cozinha não precisa ser no quarto, comentei
- É loucura total o que ele diz. Passe a máquina e a régua e pronto, recomendou Ester.
E eu ouvindo tudo fazendo de conta que não ouvia nada.
- Esse salão não tem uisque? - inquiri.
- Lá no Soté você toma uisque, toma vinho? No máximo uma cerveja. Aqui é bico seco; lei federal, advertiu Ester.
- Nem uma tacinha de proseco pro velhinho?
- Zero, nem uma cachacinha com mel, obtemperou Ester.
Comentei com a Andrea: - Não vá na conversa dela fazendo corte chanel.
- Sêo Lubi. Ela falou outra coisa. Olhe no espelho que o corte está finalizado, disse a cabeleireira.
Virei-me, sem mel, sem cabaça, sem uisque e sem petiscos. Fiquei admirado quando me vi: - Estou parecendo o Putin. Fizeste um trabalho melhor do que o cabelereiro do Esquadrão da Moda.
- É czar da Serrinha com assento no Conselho até 2036, zombou Ester.
E mais disse imitando o poeta Serafim: "Um czar sem poder e sem dimdim/muito diferente do Putin".