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Lobisomem de Serrinha

COMUNISTA PROIBE ACENDER FOGUEIRAS NO SÃO JOÃO, CRUZ CREDO (LUBI)

Leia esta crônica de todas as demais do livro de TF no wattpad
21/06/2020 às 10:08
O jornalista Tasso Fraco publicou neste domingo a 12ª do seu livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, no aplicativo wattpad, sobre o São João. Leia crônica abaixo. Todas as crônicas estão no wattpad.

COMUNISTA PROIBE ACENDER FOGUEIRAS NO SÃO JÃO, CRUZ CREDO

Quarta feira próxima é São João data em que o povo do Nordeste brasileiro com todo carinho, forró, canjica e licor na mesa, milho assado na fogueira e simpatias de amor nas bananeiras, saúda o santo que batizou Jesus Cristo.

A tradição religiosa lendária católica diz que Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, sempre a visitava durante sua gravidez. Morando distante uma da outra, Isabel prometeu a Maria assim que a criança nascesse acender uma fogueira. Este seria o aviso da chegada do bebê.

A origem real da fogueira está no culto ao Deus Sol milênios a.C. para que ele não se afastasse muito da Terra evitando, assim, invernos rigorosos e estiagens longas. Quem mora aqui no Sertão sabe o que representa uma estiagem longa, popularmente conhecida como seca.

Outra grande festividade do solstício que foi ‘cristianizada’ é o 25 de dezembro. No hemisfério setentrional, no final do ano, os dias começavam a ficar mais compridos. Os romanos, adoradores do sol celebravam o dia de nascimento do sol invicto. Isto foi transformado na celebração do nascimento de JC. Até mesmo o abeto usado pelas tribos germânicas, pagãs, em suas celebrações do solstício de inverno, foi adotado mais tarde como a árvore de “Natal”.

A igreja católica é igual a China atual: copia tudo e reproduz ao seu modo.

A fogueira se originou no dia de “Midsummer” (24 de junho), quando o Sol atinge sua plenitude na Europa. Tratava-se de um rito da fertilidade, relacionado com o culto ao Sol. 

 Sabe-se que João, o Batista, é apresentado na Bíblia como profeta. Era filho de Zacarias, um sacerdote judeu e o precursor de Jesus. Cabe a ele a honra de haver batizado Jesus. Seu ministério profético findou ao acusar publicamente o rei Herodes de adultério com sua cunhada Herodias. Foi preso e posteriormente decapitado, em razão de uma promessa feita a Salomé, sua enteada, que em retribuição a uma dança, pediu numa bandeja, a cabeça de João Batista.

Como os festejos juninos se enraizaram no Nordeste: Santo Antônio, São João e São Pedro?

Ora, esses santos são populares em Portugal. Como o Brasil foi colonizado pelos portugueses houve essa transposição.

Os instrumentos usados em Portugal nas festas a esses santos - cavaquinho, sanfona, triângulo, reco-reco etc - estão na base da música popular e folclórica portuguesa e foram trazidos ao Brasil pelos povoadores e imigrantes do país irmão. As roupas caipiras ou saloias são uma clara referência ao povo campestre que povoou principalmente o nordeste do Brasil e pode-se encontrar muitíssimas semelhanças no modo de vestir caipira no Brasil e em Portugal.

As decorações da mesma forma. As decorações com que se enfeitam os arraiais iniciaram-se em Portugal, junto com as novidades que, na época dos descobrimentos, os portugueses trouxeram da Ásia - enfeites de papel, balões de ar quente e pólvora. A dança de fitas e o pau de sebo, típicos das festas juninas no Brasil, são originários da Península Ibérica.

Claro que aqui ganhou as peculiaridades regionais: o forró, a canjica, a quadrilha estilizada, o chapéu de vaqueiro, etc.

E por que não vingou no Sul do Brasil? Porque no Nordeste a população reazava a esses santos, desde a época de São José (março, pós período das secas) pedindo chuvas. Quando chegava junho as rezas tinham sido correspondidas e havia fartura nas mesas. No Sul e Sudeste a população não precisava dessas rezas, o tempo era sempre bom.

Junho é época da colheita do milho produto sagrado da terra. Dele derivam canjica, a pamonha, o munguzá, o milho cozido, a pipoca e o bolo de milho, o arroz-doce, a broa, a cocada, o bom-bocado e o pé-de-moleque.

Pronto. Tá explicados aos meus leitores a origem do São João. Agora, vem o dignissimo prefeito de Juazeiro da Bahia, diante da pandemia do coronavirus proibir por meio de decreto a queima de fogos e fogueiras, tão comuns neste período junino em todo o estado. A medida,  foi implementada como forma preventiva, para proteger a população das doenças respiratórias que costumam encher os hospitais, em decorrência da fumaça.

A determinação vale ainda para a comercialização de fogos, que está proibida. Quem descumprir o decreto poderá pagar multa que varia entre R$ 133 a R$ 1.330.

O objetivo da ação também é reduzir os casos de queimaduras na cidade. A preocupação da prefeitura é que, com a pandemia do novo coronavírus, os leitos hospitalares já estão com grande demanda dos pacientes. Então, se houver casos de queimaduras ou problemas respiratórios, essas situações podem encher ainda mais as unidades de saúde.

 Ainda bem que nosso alcaide, o doutor Silva, não implementou um decreto dessa natureza, pois, como proibir uma tradição que faço a decênios de soltar meus foguetões e tomar meu licor ao pé da fogueira? 

Até porque estamos, eu e a Ester, há mais de 100 dias isolados do mundo diante desse virus chinês e já encomendei duas dúzias de foguetões ao Cecílio da Polvora, do Lamarão, já estou com 6 litros de licores de Dona Leda estocados, meia lata de 20 litros de amendoins, uma dúzia de laranjas, e a Ester já produziu dois bolos de aipim e milho.

Liga-me o conselheiro e filósofo Pato de Almeida para falar exatamente da proibição do prefeito da gloriosa cidade de Juazeiro: - V.Exa. (é assim que ele me trata) já viu a probição de acender fogueira no São João?

- Já vi. Mas isso é lá em Juazeiro, não aqui na Serra que nosso alcaice é compreesnsivo e integra o PP do nosso vice-governador Leão.

- Justo dou fé. Em Juazeiro, V.Exa. sabe que o alcaide de lá é comunista, por isso proibiu a fogueira.

- Lá vem você com essas histórias de comunista. Hoje, nas redes sociais, até o papa Francisco é taxado de comunista.

- Bem, eu não acuso Sua Eminência de comunista de forma alguma, pois, no meu modo de astuciar, ele seria do PSDB por seu comportamento concilliador, um "tucano" emplumado.

Ester, que a tudo assistia, reagiu: - Vocês ao invés de estarem a cometer pecados com o santo padre deveriam, sim, orar, pedir proteção a São João antes que algum Herodes cortem suas cabeças e entreguem a Salomé.