Em tempos idos, antes do aquecimento global, o Lubi e sua esposa Ester Loura esquiavam na Serra
O jornalista Tasso Franco publicou neste domingo, 14, a 11ª crônica no seu livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, no site literário wattpad. Todas as crôncas vocês podem ler neste site, gratuitamente. Vide abaixo, a crônica de hoje:
LOBISOMEM DE SERRINA DEFENDE GEN PAZUELLO E DIZ QUE MORA NOS ALPES
Depois que a nuvem de fogo passou sobre Serrinha e recentemente o céu ficou roxo, mais do que nunca as profecias de Nostradames se revelam preocupantes e o fim do mundo se aproxima. É questão de dias, de meses, de ano. Não vou arriscar uma data porque o Guedes, todo poderoso da Economia, previa um ano 2020 maravilhoso e deu tudo ao contrário. Terei cautela e paciência. Mas, que vai acontecer isso não há dúvida.
Quando foi na vida que não tivemos uma procissão do Fogaréu? Quando foi na vida que os meninos e meninas estão sem aulas no ensino fundamental, no Colégio Rubem Nogueira e na Escola Normal?
Vejam que já vivemos enclausurados há 90 dias temendo o virus chinês e até nosso forró de São João foi para o espaço. Imagina! Quem vai dançar forró agarradinho e levantando poeira com pés? É cova certa. Não dá tempo nem de tomar uma cerveja no Bar Pé na Cova, do nosso amigo Pernambuco. Teremos que nos contentar com o "Forró dendi casa" do Lopez e não mais do que isso.
E o São Pedro? Vá dançar São Pedro e tocar foguetes para você ser contemplado com a chave do céu. Se já é a data dos viúvos e viúvas nem é bom sair de casa.
O mundo virou de cabeça para baixo e a gozação da semana que se finda neste domingo de São Rufino ficou por conta da declaração do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, cuja fala sobre o Norte e Nordeste rendeu memes nas redes sociais.
Em discurso na última terça-feira (9), Pazuello afirmou que o Norte e Nordeste já passaram por sua pior fase da pandemia do coronavírus, pois as regiões representam o Hemisfério Norte na posição geográfica e sofreram mais com o inverno.
No entanto, o inverno em todas regiões do Brasil começa em junho, diferentemente de países do Hemisfério Norte que começam a ter o clima mais frio a partir de dezembro. "A região norte nordeste que está mais ligado ao inverno do hemisfério norte", afirmou.
De maneira alguma podemos criticar o ministro uma vez que aqui na Serra, que chamo "Alpes Serrinhenses", em tempos idos eu e a Ester Loura, minha esposa, esquiávamos no Morro do Fundo e temos fotos desse registro feitas por Sêo Wilson da professor Maria Amélia, o Tanque das Abóboras congelava de tal maneira que se andava sobre as águas como Jesus Cristo sobre o Mar da Galiléia e, no inverno de 1955 o frio foi tão intenso que parecia a Sibéria e eu mesmo usava dois capotes coloniais comprados na loja de Sêo João da Ema.
Dito isso, parece mentira. E Sêo Padreco, nosso culhudeiro mor, que Deus o tenha, contava que o irmão de Dóia, que salvo engano se chamava Merrinho duvidou que alguém tivesse andando sobre as aguas do Tanque das Abóboras, tal como Pedro que não acreditou no milagre de Cristo e afundou, e em goró alto tentou fazer a travessia sendo salvo por aguadeiros. Bebeu muita água, mas, não morreu.
Em defesa de Pazuello, a questão é que com o aquecimento global sofremos muito e a Terra esquentou. E como nossa aldeia faz parte do planeta, as temperaturas por aqui também se elevaram e, hoje, não é mais possível esquiar, embora eu guarde meus equipamentos encaixotados porque como o mundo está de cabeça para baixo tudo pode acontecer.
Já tivemos seca, como a de 1930, do povo comer lagartixa para sobrevier. E, hoje, não tempos mais. As lagartixas se afogam nas aguadas. A seca se mudou para o Ceará, terra onde a Covid-19 está matando a granel.
E se não temos um Nilo, um Yangtzé, um Amazonas, nos contentamos com os açudes da Cabeça da Vaca e do Gravatá, não diria que sejam um Lago Ness, ou o Lago Michigan, de Chicago, mas, nos contentamos com isso porque Deus deu a cada povo seu cobertor, de acordo com a altura das pessoas, a temperatura e tamanho dos pés.
O jovem Verinar Dantas justo na semana em que o ministro Pazuello deu aquela declaração mandou-me umas fotos de uma vacas repousando na Praça Benedito Matos como se estivessem na Suiça. E aí está a foto ilustrando essa crônica que não me deixa mentir. Vacas suiças em nosso alpes, gordas, viçosas, plenas de saúde e leite.
E conta-me também por Jorge CUC que, João Galinha, filho de Bendito, produtor de queijo artesanal nem pode tirar leite de suas vaquinhas na antiga Rocinha, hoje, terras de Sêo Bita, porque os peitos das vacas estavam congelados na dita semana da declaração do general.
Então, o Pazuello não está de todo errado, e só espero que ele não comente sobre a nuvem de fogo que tomou conta da Serra, felizmente já passou, e agora esse céu roxo que atormenta os baianos.
A Ester, que a tudo astuciava, perguntou se eu iria usar luvas de pelúcia para jantar na varanda. Respondi-lhe que não, pois, jantaríamos na sala onde nossa lareira estava abastecida com lenha seca da Levada e aqueceria toda a noite.
Em dia dos namorados, brindamos um malbech e saudamos o general jantando e olhando a neve cair no beiral da varanda.