Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

ESPERANÇA DO LOBISOMEM SER MINISTRO CAI COM TELEFONE DO CABO FIÚZA

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25/05/2020 às 10:41
  O jornalita Tasso Franco publicou neste domingo a sétima crônica do seu livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, e suas esperanças de ser ministro foram por água abaixo. Leia no aplicativo wattpad.

  A crônica abaixo: 

Estamos a completar neste domingo de São Pascoal Baião, eu e a mina esposa Ester Loura, 60 dias de confinamento diante da ameaça do coronavirus originário da China e que nos deixou aprisionados. Nem todos os serrinhas assim se comportam e as ruas estão repletas de gente, mas, eu temente da morte que sou, cardiopata e idoso, também receoso da gaiola de ferro do Cata Velho, restrinjo-me ao meu lar, meu pequeno mundo com a minha grande Ester, maior do que Catarina, a Grande, em beleza, ao meu reino, a minha Bieolorússia.

Quando digo isso a ela em amores, enche-se de orgulho tricolor que é, e também teria ficado satisfeita ao ver na televisão o Messias envergando o que chama de manto sagrado. Ela e a senhora Isa dos Pastores que descreve a camisa do Bahêa dessa forma, igualmente dito por Igor Personal e Pinheiro do Nequinha, não se sabe se manto ou pranto.

Arreliei-a: - Desde que Messias usou a camisa tricolor deixaste de falar com os pobres, referia-me a mim, rubro negro nato.

- Pra ser sincero não gostei nada daquele gesto porque a hora foi inadequada em jet ski e numa laguna, mas, compreendo o seu ciúme de o Messias não ter aparecido com a camisa do vice.

- Alto lá. Nem isso queremos, dá agouro. Somos tri e glorioso sempre, além do que, campeão nacional com o urubu carioca, lembrando ainda, se estás esquecida, que enverguei a camisa do Flamengo Esporte Clube de nossa gloriosa Serrinha.

- Grande coisa. Time de perna de paus que perdia para o Fluminense de Sindé e Toninho Gago, do ACEC de Melvá e Albertão, e nunca chegou a ser o Mengo de Regatas porque nosso mar, a Bomba, é um penicão. Diria que é mengo afogado, em remos.

- Engana-se. Tivemos em nossos quadros grandes craques e afianço, sem falsa modéstia, que se Feola tivesse olhava para a FBF e para nós, eu e outros poderíamos estar naquela seleção que foi campeã do mundo na Suécia.

- Só rindo. Imaginem você no lugar de Didi, o folha seca; Nilson de Zé Faustino no lugar de Vavá; Ferreirinha na posição de Zito; e Vando no gol de Gilmar. A Suécia daria não 7x1 como fizeram os alemães, recentemente, mas 14x0.

Esclareço a você que Didi era o rei da folha seca. E eu foi o imperador da folha verde. Fiz 17 gols nessa modalidade em nosso campeonato. Nilson, se não sabes, era bem melhor em dribles do que Vavá.
- Vocês não chegavam nem aos pés de um Biriba, de um Naldinho, de um Marito, um Henricão, de um dos nossos campeões de 1959.

- Ivo de Jardineiro botava todos esses no chulé; Doia era mais clássico do que Marito e Mendoncinha mais ágil que Biriba.

Estávamos a papear quando o telefone toca.

Hoje, somos reféns do telefone, da TV e da internet. Era o Álvaro informando da morte do nosso conselheiro Alírio Vermelho, de infarto, seu colega da Sucam.

Perda irreparável. Decretei, de imediato, luto de três dias para os nossos correligionários e abri em edital, de forma democrática, recebimento de currículos para seu substituto, sendo que, em uma semana, recebi 12 deles, em destaques a ser escolhido, o de Toinho do Caminhão, o do filósofo Pato de Almeida, o do pintor, astrólogo e homem de artes Binho Carneiro e do empreendedor Jorge Cuc, a serem analisados.
Ester protestou dizendo que o nosso Conselho era machista. E respondi dizendo-lhe que poderia indicar ou inscrever mulheres.

- Temos nomes de alta capacidade e poderia citar, de cara, a professora Jesus Filántropa, a ativista Marieta Peleteiro, a matemática Zil Bacelar, a filósofa Riúcha e muitas outras. Pessoas não só capacitadas para integrar o Conselho Político que V.Exa. preside, esse Supremo dos Pobres, como aptas, se for o caso, de assumir altos cargos na República, até mesmo no lugar da Manuelina Duarte que nada faz.

- A pensar nessa hipótese. Estamos às vésperas de uma eleição municipal e temos que ter cautela, retruquei.

- Cautela em que? Aqui são os mesmos nomes de sempre há anos: quando não entra um Carneiro entra um Silva; quando não é um Silva é um Ferreira; quando não é um Ferreira é um Santana. É uma política caracol fica se enroscando nos mesmos o tempo todo.

- Ora, já tivemos um Cardoso e uma Mota, comentei.

- Adiantou alguma coisa? Nada. Estamos precisando de uma mulher nessa Prefeitura como tivermos em Pindonarama com a Bousseff. Nomes diferentes como é o caso agora da Zamares, da governadora Bezerra, da líder mundial Dorothea Merkel.

- Já que têm tantos bons nomes assim posso falar com nosso senador, com nossa bancada e pedir uma indicação para a vaga da Saúde deixada pelo Nelson e que já foi também ocupada pelo Henrique.

- Deus me livre e guarde, pois, não vamos colocar uma das nossas valorosas mulheres naquele hospício. Você que é a amigo de renomados médicos como Graúna da Gaita, Doutor Gira de Nezito, poderia indicar um deles. Ou então, candidatar-se vocês mesmo, frisou rodando a baiana.

- Pé de pato mangalô três vezes. Numa arapuca dessas não entro nem a pau. Sou do tempo do melhoral, do óleo de fígado de bacalhau e nunca ouvi falar nessa cloroquina e o máximo que consegui foi ser auxiliar na Farmácia de Sêo Paulino.

Jantar a servir, preparei uma sopa de legumes com grilos capturados no açude da Cabeça da Vaca, eu mesmo que produzi a refeição e estava a trazê-la à mesa com pães da Pirangy, quando o telefone toca de novo. Ester apressou-se a atender enquanto eu colocava a sopa a servir.

- É pra você, disse.

Precavido diante de trotes que já haviam me passado, recentemente, possíveis convites de Brasília, questionei: - Pergunte quem é?

- Trata-se de um militar, respondeu Ester.

Ajustei as pantufas viúvas negras nos pés, entusiasmei-me de repente poderia ser algum general de Brasília, atendi o telefone: - Alô.

- Companheiro, aqui é o Cabo Fiúza, estou lhe ligando para comunicar a missa virtual de sétimo dia do nosso querido Alírio, na Capela do Cantinho, na segunda.

- Obrigado, companheiro, vamos assistir e participar.

Sopa sendo servida, Ester saboreando o caldo fumegante e o pão de massa mãe, advertiu-me: - Esse negócio de companheiro é coisa de comunista. Assista a missa sozinho e me inclua fora dessa, como diz o conselheiro Souza.

Benzi-me, olhei pro quadro de Sant'Anna na parede e sussurrei: - É o fim do mundo, não se faz cristã como no tempo de Gregório VII.