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Lobisomem de Serrinha

TF PUBLICA NO WATTP 2ª CRÔNICA SEU LIVRO LOBISOMEM E A NUVEM DE FOGO

Aldeia do Lobisomem tem 100 mil habitantes sendo 20 mil na zona rural
12/04/2020 às 10:16
  O jornalista Tasso Franco publicou neste domingo a segunda crônica do seu livro "Lobisomem de Serrinha - A nuvem de fogo e o fim do mundo" no wattpad e revela como sua aldeia de 100 mil habitantes enfrenta o coronavirus.

   O CORONAVIRUS NA MINHA ALDEIA ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO

   Minha aldeia representa uma cabeça de alfinete no mapa do Universo habitado, hoje, por 7.2 bilhões de pessoas. O coronavirus ronda-nos. Somos 100 mil almas desse contingente humano (80 mil na área urbana; 20 mil na zona rural) e não dispomos de UTIs em nossos três pequenos hospitais, de respiradores artificiais, de infectologistas, de pessoal qualificado e treinado no campo da medicina para enfrentar uma pandemia. Estamos, pois, a mercê das forças do Além.

  Não foi à toa que Nostradamus previu o fim do mundo para 1999, o que não ocorreu, mas, parece-nos que se aproxima nova data. Como socorrer o povo de nossa aldeia diante dessa pandemia? Impossível prever.

   Nosso alcaide já tomou as medidas cabíveis ao seu alcance seguindo as recomendações da OMS e dos órgãos estaduais da saúde e fez certo em fechar lojas, academias e escolas. Seguem abertas as padarias, farmacias, mercados, feiras livres e bodegas nos povoados. A questão primordial é que temos um povo pobre e deseducado que não usa máscaras e vive entre a realidade e a ficção.

   - Será que existe mesmo esse coronavirus? Questiona-me Godô, o vizinho de cerca, sem incomodar-se com o que vê na televisão todas as noites.

   Estamos proibidos por decreto alcadiano de promover reuniões e o Boteco do Teco que é a sede dos encontros do nosso Conselho Político está fechada. Nossos conselheiros estão dispersos. Eu e a Ester Loura, minha esposa, estamos em isolamento social, nome pomposo que deram a nossa prisão demiciliar.

   Nossa secretária Ju Fraldas está de licença remunerada. Nossa neta Sol proibida de ver os avós. De férias compulsória ouve música e sapateia. Soube, por fonte fidedigna, que está tendo aulas online. Taí uma coisa chique na nossa aldeia. A mamãe da dita Sol produz máscaras faciais para clientes de uma lotérica, mas, teria faltado elástico e seu fornecedor Dema do Armarinho está com sua casa comercial fechada.

   Esta semana, em videoconferência, consultei o astrólgo Pato de Almeida sobre suas previsões para essa pandemia diante de tantas opiniões nas redes sociais. Citações que deixam a gente confuso. Tentei que Ester se afastasse das redes e o mais que consegui foi somente à noite, já tarde, quando ela assiste com imenso prazer as ações e investigações do detetiva Murdock, de Toronto, série que se passa no final do século XIX. Murdock vive cercado de belas mulheres mas, parece que não gosta da fruta. 

   Para ser sincero, Pato de Almeida não acrescentou muita coisa ao meu saber e disse que o Covid representa o sinal dos tempos, de uma mudança radical que se processará na humanidade. Teve momento de sua fala que parecia Vilberto Til: "Vos digo em entrementes que os plurais astrais e os magnéticos do sol e suas variantes cósmicas estão impulsionando esse patónego para nos destruir, mas, haverão forças dinâmicas opostas e impedirão isso e, nós, os 'sapienes' vamos resistir e sobreviver com algumas baixas, obiviamente falando, indo morar nos anéis de Saturno".

  Solicitei que fosse mais claro uma vez que da videoconferência em tela também participavam o filósofo Pinguinha, o pintor e vidente Bino, o empreendedor Toinho do Caminhão, Teco do Boteco, no que ele arguiu que eram seus sentimentos magnéticos. 

  Pinguinha então quis saber quantos serrinhas iriam ser transferidos para os anéis de Saturno e o astrólogo não soube responder. Bino ameaçou retirar-se da videoconferência dizendo que Pato de Almeida era um charlatão e não mereceria fé. Erudito, citou Umberto Eco, destacando que as "midias sociais deram voz a um bando de imbecis", e Pato será um desses.

   Nesse momento dona Ester Loura que secretariava a videoconferência tocou uma sineta de alerta aos convivas exigindo respeito às pessoas.

   Para ler toda a crônica use o aplicativo wattpad.