Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM DE SERRINHA diz que é melhor do que o guru Sri Sri Ravi Lobi da Serra

Lobi da Serra fica com ciúme e diz que ele é que deveria ser contratado pelo governo da Bahia
04/01/2017 às 21:30
   Tai, gostei dessa iniciativa do governo do estado em contratar os servios do guru indiano Sri Sri Ravi Shankar, da Associação Cultural e Educacional Arte de Viver, para ministrar ensinamenos antiestresses aos homens e mulheres da PM da Bahia que enfrentam, no dia a dia, uma 'guerra' contra os bandidos e vivem sob permanente tensão, fardados ou quando estão à paisana.

   Não têm tréguas e mais de 21 já foram assassinados só neste ano de 2016. Agora, veio um parente nosso lá da Feira, da familia 'colberzão' sugerindo que eu participasse desse curso e enviou-me a seguinte mensagem: "Poderia aprender a respirar em vez de comer preás, paelhas, bodes, carneiros, mocofatos, galinhas ao molho pardo, codornas, beber cervas, wisky nacional, vinhos Pérgola, suave. Poderia Levitar, o que neste verão na Serra, deve ser melhor que sentar no chão quente. Lobi na Índia Já!".

   Ora, não sabe esse meu parente que, não é para me gabar, eu é que deveria ministrar esse curso a PM e não esse guru indiano, uma vez que sou bem melhor do que ele, e se alguém sabe a arte de viver sem stresse sou eu que vou completar em abril vindouro 282 anos de idade, e nunca tive depressão, crise, stresse, sobressalto, hipertensão e diabetes.

   E sou acostumado a enfrentar todo tipo de assombração terrena e extraterrena, converso com as almas quando passo pela porta do cemitério do padre Demócrito, e papeio com os vivos no Bar Pé na Cova de Pernambuco, que, por sinal, fica colado no muro do cemitério, daí que sou expert em dialogar com os terrenos e os sobrenaturais.

   Agora, se o governo achou que era melhor contratar os serviços desse Mr Sri Sri, que tem nome de um bicho que não como nem de moqueca, nem de ensopado, porque de frutos do mar não saboreio nada uma vez que, aqui na Serra, no açude Gravatá mal dá uns peixinhos miúdos e no Restaurante Peixão, o peg e pag do filho de Sêo Auri, quando quero vou lá com dona Ester Loura, minha dignissima esposa, tomo umas frias e pescamos umas tilápias que são preparadas por lá mesmo. 

   Sendo que peço pra colocar meus temperos prediletos, urtigas com folhas de jurubeba pisadas em pilão de ferro, que levo no fundo do meu carro, e uma saladinha com folhas de cansanção e beldroega que nós chamams de berduega. Um guru do meu naipe tem que estar bem alimentado.

   Quero salienar que o mundo está cheio de gurus, de gente que ensina os caminhos da felicidade, outros que mostram como ganhar dinheiro fácil, apareceu neste Natal até o conto da mandala, aqueloutros que ensinam a emagrecer com uma facilidade enorme e sábios que são professores em oratória.

   Aqui na Serra tem um bocado deles. Uns ainda estão vivos, outros já seguiram para o andar de cima. 

   O finado Milton de Ariston era especialista num espetáculo apresentado em teatros e cinemas chamado "O homem que aparece e desaparece". 

   Casa lotada, bilheteria garantida, ele se apresentava no palco vestido de mágico, fazia duas ou três piruetas, mandava fechar as cortinas e saia pelos fundos dando um zignal na platéia. Quando as cortinas abriam de novo, o camarada já estava na estrada. Diz-se, o que não é comprovado, que levava consigo parte do arrecadado na bilheteria e outra parte dividia com os organizadores do evento.

   Lembro que, esse mesmo saudoso Milton de Ariston, figura queridíssima na Serra, certa o ocasião anunciou e cumpriu a promessa, com o apoio do comércio local que lhe forneceu alimentos e um cachê, de que pedalaria no jardim da Praça Luis Nogueira 100 horas sem parar, dia e noite, só descendo da bike, ainda assim por instantes, para verter água num urinol. 

   Fala-se, as más línguas, que depois da meia noite, quando a população já estava dormindo, um clone o substituia na bike, e ele e amigos iam tomar umas geladas no cabaré de Gaguinho. 

   Tivemos também um guru de alto coturno, o saudoso Sílvio Cachoeira, diria que teria aprendido a arte do resolver tudo, de sanar problemas financeiros e dores de cotovelo, com o também finado Félix Oncinha.

   Mr Cachoeira atendia numa casa que fora de outro finado, Abdon Costa, na Praça Miguel Carneiro, Largo da Usina, ao lado da antiga Comercial Mercês, sendo que, como não tinha telefone, usava o aparelho da Casa Mercês para atender clientes que se espalhavam pelo interior do município e até Brasília.

   Testemunha revela que quando o telefone tocava, Sêo Mercês, também já finado (são
finados demais!) dava bom dia e falava o nome da casa e de suas ferragens e do outro lado da linha alguém dizia: - Eu quero falar é com Sêo Sílvio Cachoeira para resolver meu problema sentimental. 

   Em instantes, Cachoeira era chamado e no telefone receitava: - Meu caro, seu problema será resolvido em breve. Pode aguardar tranquilo que tudo vai dar certo. E aí, lembrava, só para que o cliente ficasse atento, que seus honorários deveriam estar em dia. 

   E o cliente replicava: - O senhor se incomoda em receber como pago duas galinhas e dois perus?

   - De jeito algum. Serão bem vindos.

   Tanto que Cachoeira tinha no seu quintal um monte desse animas, diria, de estimações, mas que, eventualmente iam para as panelas.

   E teve uma professora da Serra que me lembrou, numa conversa que tivemos no Boteco do Teco, que, certa ocasião, no alvorescer do Século XXI, o governo da Bahia comprou um projeto de um guru israelense, vendido como algo cognitivo educacional, ela mesma e outras da região foram treinadas para aplicar o tal modelo israelita na educação, em curso que fizeram na Fundação Luis Eduardo Magalhães, em Salvador, ia tudo bem, receberam um bocado de livros, coisa e tal, e quando mudou o governo, jogaram tudo fora.

   Do projeto de ensino cognitivo de Israel só ficaram as lembranças. Inclusive ela tem uma foto na capital, na LEM, com as colegas.

   Então, faço fé que esse novo projeto contratado pelo governo ao guru Sri Sri, dê certo. 

   Se tiverem algum dúvida, podem me procurar aqui na Serra que oriento, e se eu me senti sem capacidade para tal, levo vocês até dona Zenaide da Rua do Cruzeiro, a qual, em poder advinatório não tem igual.