Esposa do Lobi recomenda aos conselheiros comer um corujão capturado no cemitério do padre
Nos meus 281 anos de idade completados no último abril, posso assegurar que, com minha experiência de vida, maturidade, acompanhando o nascimento e crescimento da Vaquejada de Serrinha, sou favorável as vaquejadas no Nordeste do Brasil. Entendo que o Supremo Tribunal Federal por uma maioria apertada de votos 6x5 errou ao condenar a prática da vaquejada no Ceará e, por tabela no restante do país.
Que eu saiba e são longos anos frequentando a Vaquejada da Serra, hoje mais uma festa de músicas sertaneja, pagode e axé do que qualquer outra coisa, nunca vi nem soube de bois que tenham morrido na arena do circuito e nem vejo esse "circo de horrores" e "barbárie" que comentam algumas pessoas, muito menos maus tratos excessivos aos animais. Algumas dessas pessoas que fazem críticas nas redes sociais, os novos sábios brasis, nunca pisaram os pés numa vaquejada.
Em Serrinha foi assinado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público visando reduzir possíveis sofrimentos, como o próprio nome diz, ajustando alguns procedimentos na montaria dos cavalos e na derrubada dos bois.
Derrubar um garrote numa arena com areia puxando-o pelo rabo é uma prática esportiva inspirava no dia-a-dia do vaqueiro na caatinga quando um boi fujão, um barbatão rebelde se desgarrava do rebando e vaqueiros encourados iam (e ainda vão) à sua perseguição até a captura, inclusive usando ferrões (o que não acontece nas vaquejadas).
Nas vaquejadas, esse ato da derrubada do boi, muito mais brando do que qualquer luta de UFC que passa na TV todos os dias, pode eventualmente machucar um animal, mas, eu mesmo nunca vi um corredor de vaquejada com o rabo de boi arracando do animal nas mãos exibindo como troféu.
No Brasil, hoje, há um patrulhamento de tudo que, aos olhos de alguns, manifesta-se como incorreto. Então, o camarada tem que ser ambientalista, vegetariano, socialista, ter um animal de estimação, ser favorável ao movimento LGBT, andar de bike, criticar a rede Globo (e por tabela Galvão Bueno) - mesmo assistindo todas as novelas desta emissora - , defender as tartarugas marinhas, considerar toda mãe de santo uma sacerdotisa e por aí vai.
O que apareceu de gente depois da decisão do STF para enpinafrar as vaquejadas não está no gibi. Gente que nunca frequentou um parque de vaquejada, nunca acompanhou uma narração de Pio Locutor, um aboio do finado Manoelzinho Aboiador, um rela-e-rola no 'inferno' do antigo parque de Valdete Carneiro e Ernesto Ferreira.
Daí que, com essa polêmica toda em torno das vaquejadas reuni meu Conselho Político no Bar do Teco, uma vez que a representação politica oficial da Serra nada faz, a deputada Moema Gramacho que foi eleita nossa representante em Brasília elegeu-se prefeita de Lauro de Freitas e nunca mais virá sequer na Morena Bela, no Armengue na Praça, pra gente redigir um documento e endereçar ao STF solicitando aos senhores ministros que revejam suas posições, pois, vaquejada é cultura popular, emprego, renda e associativismo. Toda uma cadeia produtiva que vai do peão boiadeiro ao vendedor de adereços em couro e arreios.
Poderia citar vários exemplos dessa engrenagem falando do próprio Pio Locutor que criou toda familia narrando vaquejadas pelo Brasil, é o nosso Galvão Bueno, a uma senhora costureira que arma uma tenda próxima ao parque Maria do Carmo e emprega toda a familia e agregados costumizando peças de participantes do evento. Ganha mais dinheiro no mês da vaquejada do que nos 11 outros meses do ano.
E vem a Corte Suprema da Justiça, que desconhece essa rede cultural e de serviços, e diz que não pode mais vaquejada porque maltrata os bois.
No nosso Conselho começavamos ouvindo Pinguinha, o qual é churrasqueiro e especialista em pingas, o qual apoiou nosso ponto de vista em defesa da vaquejada e criticou um certo ministro que vendeu vacas superfaturas. - Isso, sim, que é crime, acentuou Pinguinha.
- O que não falta é crime neste país - comentou Alírio Vermelho - lembrando a prisão do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e rindo ao citar "que só acharam R$2,10 na conta bancária dele, o que não dá nem pra comprar um litrão de cerveja".
Pedi ponderação aos conselheiros passando a palavra ao edil Reizinho, o qual defendeu a vaquejada e lembrou que em Serrinha já teve três vaquejadas por ano - de Ernesto, de ZéValdo e de Wardinho - e que ele próprio só não fez uma vaquejada no reduto eleitoral dele porque não teve recursos para fazer uma pista.
Teco e Tolentino Caneco astuciavam a conversa para opinar. Primeiro falou Caneco, o qual é também nosso assessor para assuntos jurídicos, e disse que para ele tanto fazia ter como não ter vaquejada, uma vez que não curte essa prática esportiva, mas, sendo defensor da Serra apoiaria nosso movimento em defesa da vaquejada.
Teco, de sua parte, grande vendedor de cervejas, disse que na semana da vaquejada vende mais cerveja do que o representa da skol na cidade e, portanto, também era a favor da vaquejada.
No meio da reunião, demorada, já havíamos consumido 5 litrões da gelada, deu fome. Pinguinha sugeriu assar na trempe que carrega consigo, dois quilos de alcatra. Mas, onde achar a carne bovina?
Foi o próprio Pinguinha que solicitou que eu ligasse para dona Ester Loura, minha esposa, para que ela prividenciasse a carne.
- Dona Ester certamente tem carnes no seu freeser - comentou o churrasaqueiro.
- Tenho dúvidas, pois, doutor Poró recomendou que não comessesmos carnes veremelhas por um tempo - adverti e ligei para Ester.
Fiquei um tempo calado e anunciei: - Olhe, lá em casa, no freeser, só tempos perninhas de morcego congeladas, peitos de rãs e dois corujões caputrados no cemitério do padre, e mais condimentos preparados com alecrim, malva e jurema; e molho baratá.
Os conselheiros me olharam assustados. Teco cochichou no ouvido de Alírio: - Isso vai dar indigestão.
- V. Exa. está pilheriando conosco, aquiesceu Pinguinha, frisando que não assaria um corujão em sua tempre nem que a vaca de doutor Samuel Nogueira tussisse.
- Que há, que tem isso anormal! Umas perninhas de morcego com molho baratá são deliciosas - comentei - e politicamente corretas, porque não são carne de boi, daí que corte máxima alguma poderá incriminarmos.
- E o que contém esse molho baratá? - perguntou Caneco.
- É feito a base de pimentas malaguetas com asas de baratas - anunciei.
Diante de tais narrativas, o Conselho encerrou a reunião, dona Madalena que assistiu ao encontro e era a responsável pela ata fechou o livro, pedimos um litrão de saideira e fomos embora sem preparar o documento a ser enviado ao STF.
Mas, uma coisa ficou certa: todos defendiam a continuidade das vaquejadas e que churrasco só de carne de boi.