Segundo a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, chineses querem importar 1 milhão de jegues ao ano
Estava aparando meus pelos na barbearia de Soté quando chega o edil Reizinho cheio de prosa querendo saber das novidades. Como sou um lobi bem informado disse-lhe que a bola da vez eram os atentados jidahistas que estão acontecendo mundo à fora, especialmente na França.
Aquiesceu o nobre político que, pelo menos, a Serrinha estava fora dese roteiro, até porque ninguém iria invadir o Quiosque de Telebahia ou a Freesom para cometer um atentado terrorista.
- Não teria a mínima repercussão mundial - consenti - também querendo saber o que havia de novo na gloriosa Câmara e no município, exceto a seca.
- A novidade é que tem um grupo chinês erstá querendo importar 1 milhão de jumentos do Brasil, por ano, e o pessoal lá das roças onde tenho reduto ouviu essa noticia na Rádio Continental e está entusiasmado com esse possível negócio, o que pode valorizar o preço dos jegues.
- Taí! É uma boa noticia porque semana passada um primo de Fernando Pedreiro da Chapada negocoiu três jegues por uma bicicleta que nem nova era.
- Olha! compadre! Jegue perdeu valor em nossa terra desde quando Walter do Jegue comprava os jericos, depois, quando acabaram os jumentos, adquiria mulas e burros velhos para virar carne de charque naquele frigorífico de Itaobim, comentou.
- É verdade, agora não tem mais tantos jegues nem aqui na Serrinha; nem na região Nordeste, para atender esse grupo chinês, porque 1 milhão de jegues por ano é jegue que não acaba mais.
- Inclusive - comenta o edil - a ministra Kátia Abreu, da Agricultura, responsável por divulgar essa informação, ela que estava numa missão de negócios na China, disse que 'morria e não conseguia atender uma demanda dessa natureza', frisou.
- Bobagem dessa ministra. Aqui na Serra, se a gente reunisse todo mundo na Associação dos Criadores de Jegues e Burros - ACJEGUE - poderia atender parte dessa demanda, porque temos bons reprodutores, clima e tudo mais.
- Mas isso tem que ser planejado. Porque se a gente embarcar numa dessa com aval desse governo mambembe e depois não dá certo, vamos ficar aqui com milhares de jegues sem ter o que fazer com eles.
- E você pensa que os chineses estão querendo jegues para enfeite, para carregar 'sisal' ou conduzir um novo Jesus Cristo? Os chinas querem jegues para levar à mesa, para comer, porque lá se come carne de cachorro, se come formiga, se come cobra, então jegue pra eles deve ser um prato delicioso - relatei.
- Mas aqui pra nós não. Se ficarmos com um monte de jegues enfuzados ninguém vai querer comprar carne de jegue no açougue, o frigorifico de Sêo Mardinho não vai querer matar os jegues e aí é que um jumento vai valer só 1 real.
- É o que vale hoje - pilheriei - acrescentando que poderíamos montar nosso próprio figorífico e produzir um produto tipo exportação enlatado nos tipos filé, alcatra, carne moida e tutano sexy.
Aí quem pilheriou comigo foi o edil convidando-me para tomar uma gelada assim que terminasse de aparar meus pelos: - É! se existe frango no balde!, café no bule!, essa idéia de jegue na lata pode vingar até porque no mundo tem tanta gente passando fome que se come qualquer coisa, fraseou.
- Qualquer coisa não! - reprimi - nosso jegue será de primeira qualidade. A propósito V.EXa. já comeu uma frigideira de culhão de jegue? Um arrumadinho com carne de charque de jegue em cubos?
- Tô fora. Nem de carneiro eu gosto! Quando mais de jegue, ainda mais dessa parte que o nobre compadre falou.
- Qué que tem. O antigo Restaurante de Nonô fazia moqueca de culhão de boi e a gente comia numa boa em nossas farras de então, depois de sair das festas no Clube.
- Mas agora os tempos são outros. Colesterol alto tá matando mais do que a seca. Se temos que fazer uma empresa para enlatar carne de jegue tem que ser as partes nobres, como sim diz hoje em dia, "algo que seja sustentável e politicamente correto".
- Eu topo a idéia. A gente organiza a Lobi & Reizinho Ltda e manda avisar a doutora Kátia Abreu que ela pode fechar o negócio com os chineses que a gente garante o fornecimento dos jegues - finalizei.
- Jegue na lata ou jegue ao vivo? - questionou o edil.
- Como ela queira.
E aí saímos para tomar uma gelada no Boteco do Teco com o objetivo de comemorar o feito, certo de que, por lá, não haveria um atentado terrorista.
No dia seguinte, já que não temos acesso a doutora Abreu, postamos uma mensagem no Facebook para que ela tomasse conhecimento de nossa empreitada:
- A Lobi & Reizinho Comério y Indústria de Jegeus e Beneficiamento Ltda (LRCIJBL), com sede em Serrinha, comunica a V.Sa. que pode fechar o negócio da exportação de 1 milhão de jegues/ano com os chinese. Desde já nos colocamos à dispoaição para contribuir nesse esforço nacional, precisando apenas de uma contrapartida do BNDES para que a gente possa montar a nossa empresa.