A crise da República passa ao largo da Serra onde o ajuste financeiro é permanente e todo mundo vive numa boa
Ninguém aguenta mais nessa conversa sobre a crise financeira no Brasil a partir do descontrole do governo federal em suas contas e das falcatruas na Petrobras, segundo as investigações da Operação Lava Jato.
Se lá em Brasília está essa situação, um Deus nos acuda, parte da população querendo dar um chute nos fundilhos da presidente e as manifestações do último domingo mostraram isso, aqui na Serra, a paz reina.
Embora, faço a ressalva, onde a gente vai só se fala na crise: no Boteco do Teco, na Barbearia de Soté, na Oficina de Sêo Eliotério, na Tenda de Beijus de dona Danda, na padaria do Crente, tanto que mandei Ester - minha esposa - fazer uma tabuleta impressa no computador que passei a andar no bolso e toda vez que alguém fala em dificuldades, roubaleira não sei onde, aumento da taxa do desemprego, petrolão, mensalão e coisas do gênero, retiro a pequena tabuleta do bolso e mostro as pessoas os dizeres: "Não me fale em crise por favor".
Como pode haver crise se agora mesmo leio nas folhas que o governador do estado dr Costa vai contratar mais 2.000 PMs, os populares 'puliça' e o prefeito da capital Sêo Netinho anuncia a contratação de 500 professores e mais a construção de 2.160 salas de aulas?
Como se fala em crise se um parente nosso lá da familia dos colberzões da Feira só anda comendo carrê de porco na tenda do Ponto do Zequinha acompanhado do bom Malbec de Mendoza?
Como é essa tal de crise se meu compadre lá dos lapões do Quijingue agora adquiriu uma nova fazenda e anda a tomar banho no Jorrinho com umas raparigas?
Como falar nessa tal de crise se dona Ester já comprou um sapato na Carmen Stefanes de dona Pataiba, no Shopping da Serra, por 700 contos e já tá mirando adquirir uma bolsa de 1.000 contos?
Desculpem essa linguagem mas é que sou do tempo antigo e tenho essa manina de falar em contos de reis quando todo mundo sabe que, na atualidade, prevalece o real, moeda introduzida no país pelo topeteiro Itamar Franco.
Então, não me venham falar de crise ainda mais que estamos nos aproximando da semana santa, época em que o povo, ignorante como é, fica criando usanças com nossa raça dizendo que se alguém bater na mãe com um chicote vira lobisomem; que se algúem se espojar onde um jegue ou a mula de Sêo João Devoto se espojou vira lobisomem; que se ficar cabeludo demais e deixar as unhas crescerem e depois tentar abusar de uma menor também vira lobisomem.
Essas crendices bobas, crendices idiotas, quando os mais esclarecidos sabem que somos personagens do folclore brasis, que descendemos da Transilvânia, área da Romênia onde viveu o conde Drácula e é habitada por vampirose seres sobrenaturais, e que chegamos ao Brasil nas naus portuguesas ainda na época da Colônia e estamos aqui até os dias presentes, eu mesmo com 281 anos de idade, porque como não somos humanos puros vivemos mais, quiça como personagens do Antigo Testamento que viviam até 800 anos, daí essa inveja, esses amoldiçoamentos à nossa familia com essas superstições, como se bater na mãe fosse uma novidade assim como coisa do outro mundo quando não é.
Aqui mesmo na Serra tinha um camarada que bebia demais, tomava uns gorós além da conta, dizem que cheirava também um pó branco, que ficava meio alucinado e quando sua mãe ia reclamar com ele, soltava a ripa nas cenelas da velha, na titela da senhora sua mãe e chegou a ser preso pelo então delegado Maneca Paes em duas ocasiões.
De sorte que essa conversa de crise fica restrita lá por Brasília, na em São Paulo que é a terra de gente trabalhadora, aqui na Serra não tem nada disso, o mercado de Sêo Toni anda sempre cheio, o Baratão de Sêo Marcel vende as melhores pingas mineiras das Gerais, o mercadinho de Sêo Eliseu funciona até 9 da noite porque não lhe faltam clientes, o nosso clube o Trem da Alegria vive lotado, já se fala que no Bacalhau da Barrão na Aleluia vai faltar o noruguês diante de tanta gente, daí que essa crise que tanto se fala não me espanta.
Estava, então, assistindo o Faustão no último domingo, programa que gosto muito porque tem aquelas moças bonitas dançando e Sêo Faustão ganha 5 milhões de reais na Globo e usa uns relógios lindos de morrer, quando me liga meu compadre Lapão.
- Já viste a novidade que vem a África do Sul, inquiriu-me pelo telefone numa alegria danada.
- Que novidade compadre. A última notica que tive da África do Sul foi sobre a morte de Mandela.
- Atualize-se, vá no Google, veja canais fechados de TV, os médicos de lá estão fazendo transplante de pênis.
- E daí, que temos nós com isso se Ester anda satisfeita com o que tem.
- Ora, compadre. Ester já falou com Romana (nome da esposa de Lapão) que você não é mais aquele lobi todo que era.
- Ester falou uma miséria dessas, não é possível!
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- Então compadre, a gente pode programar uma viagem para a África do Sul e trocar nossos 'pintos' velhos por 'pintos' novos e, de quebra ainda passear por Joanesburgo e pela Cidade do Cabo.
- Taí compadre essa é uma boa idéia.
Quando comentei com Ester sobre o assunto inclusive fazendo a ressalva que o dólar estava a R$3,50, a crise estava aí, ela foi logo dizendo: - Que crise! Pra isso nós temos nossas reservas malocadas. Eu já estou é arrumando nossas malas.
Essa Ester sabe das coisas.