Só neste 2014, mais de 25 pessoas já foram assassinadas em Serrinha, antes, um local pacato e onde as familias prosavam sentadas em frente das casas
Quando comentei com minha querida esposa dona Ester Loura que gostaria de ir à Holanda, mais precisamente a Wassenar, pra fazer uma arruaça e ser detido (apenas detido) pela policial delegata, louraça como Ester, vi às garras da mulher crescerem, os pelos se eriçarem, os olhos de mel se transformarem em bolas de fogo e presenti o pior, que poderia até ter um duelo entre nós.
Mas, depois de tomar um suco de maracujá que ela havia me servido e comer um pacote de beijus de dona Danda, falei que era brincadeira e ela, ainda irritada, vociferou: - Quer trocar essa loura aqui que você tá casado há quase 200 anos com aquela loura empapuçada é isso? - perguntou.
- Nada, tava só brincando com você porque tava todo mundo comentando na barbearia de Soté sobre essa loura da Holanada, que também vi a foto no Facebook e resolvi lhe arreliar.
- Eu também vi essa foto porque foi a conversa rolante no Salão de Eurides, agora, não me troco por ela de jeito algum.
- Tá bom. Nao está mais aqui quem falou. Apenas os meninos comentaram lá em Soté da eficiência da Policia da Holanda que descobriu o autor de um crime em menos de 24 horas.
- Ah! Holanda! Queria que ele viesse trabalhar era aqui na Serra pra ela ver o que é bom pra tosse. Já contabilizamos mais de 25 homicidios, só neste 2014, e ninguém descobre nada, salvo quando é crime de bandido pé-de-chinelo como os cometidos em duas mortes no Saco do Correio, logo descoberto.
- Não tô defendo a "puliça" (zombei) loura da Holanda, mas, acho que ela fazia bonito aqui na Serra.
- Ela podia fazer bonito só se fosse na Vaquejada montada n'algum cavalo e com a barriga de fora paquerando algum peão. Agora, no combate ao crime, que nada!
- Eu colocaria ela pra desvender o crime de Mário do Judô que já vai completar um ano e a Policia até agora não prendeu ninguém, comentei.
- Esse vai ficar impune porque essa policia da Serra só sabe fazer pose na rua usando máscara ninja e portando fuzis nas mãos, mas, investigar que é bom, necas de Pitiberiba.
- Taí, nesse caso, acho que v tem razão. Outro dia fui comprar uma bola na Loja de Doia e tinha dois soldados da PM na esquina da praça Luiz Nogueira, em pleno dia, parecendo até que iam pra guerra do Iraque, falei.
- É isso...pose eles têm. Agora, descobir o crime de Mário do Judô que é bom nada. Ficam dizendo que tem uma suspeita que mora no povoado da Isabel e pimbas, tudo conversa fiada.
- Então, seria interessante falar com o alcaide Cardosão pra solicitar ao nobre secretário da Segurança e trazer a louraça da Holanda para analisar esse crime.
- Ah! você só pensa nesse diabo dessa loura. Essa mulher iria apenas charlar aqui, não sabe sequer falar serrinhês, e não duvido nada era ela ficar no Bar de Teco tomando cerveja com Pinguinha ou no Bar de Cal jogando dominó.
- Você está subestimando a capacidade dela. Daria uma ajuda sim. Se infiltraria no povoado da Isabel como agente de alguma ONG religiosa estrangeira que iria ajudar os pobres e prenderia a tal da suspeita do crime.
- Ah! Essas ONG só fazem é roubar os pobres, se usufruir da pobeza em nome de alguma instituição religiosa e iria era contrabander crianças adotivas para a Holanda ou pra Itália como já teve muitos casos por aqui.
- Aqueles foram casos que se passaram e garanto a v que os meninos das roças que foram pra Itália graças aquele bondoso pároco estão homens formados e melhores do que os que estão aqui nas roças ou na periferia da Serra fumando maconha.
- Que maconha! Você tá doida!
- É o que se fala lá no salão onde relaxo meu cabelo que tem maconheiros como tais na Santa, na Bomba, nas quebradas da Cidade Nova e assim por diante.
- Se tivesse a Policia já teria reprimido.
- Que Policia! Outro dia furtaram uma bolsa de dona Conceição professora na feira livre, em pleno meio dia. O moleque mostrou foi um canivete pra ela, cortou a alça da bolsa e se empirulitou no meio da feira levando tudo.
- É. Tá demais. No tempo do cabo Júlio Picão não havia nada disso. No tempo do delegado Euvaldo Campos, nosso John Waney, nada disso acontecia.
- Mas agora o tempo é outro. A modernagem tomou conta de tudo. É mulher vestida de homem pilotando moto. É homem vestido de mulher e unha pintada. É gente de fora que a gente não sade donde vem pra feiras da quarta e do sábado, que tudo tá é diferente, sem segurança alguma.
- Por isso mesmo que seria bom trazer a delegata...
Dona Ester nem deixou eu completar a frase: - Se você insistir com essa policia holandesa iremos à luta e vou lhe dar um troco.
Aquetei-me e fui cuidar da fabricação dos maus tachos de cobres. Passei o restante do dia trabalhando feito um louco, suando em bicas. No final da tarde fui comprar o pão na Padaria de Sêo Hamilton, passei em frente ao Pé na Cova pra tomar um trago com meu amigo Pernambuco, comprei um presunto no Chama e segui pra casa.
Dona Ester fez um café de primeira com beijus de coco de dona Danda e um saduiche caprichado. Depois fui assistir a novela Império, que gosto muito.
Lá pras tantas fui dormir e já encontro Ester na cama toda enrolada. Parecia uma múmia.
Seria a vingança contra a loura da Holanda?
- Ester, Ester, falei pra vê se ela acordava.
Nada. A múmia não respondia. Tava enrolada da cabeça aos pés, o ar condicionado ligado e assim ficou a noite toda.
Fazer o que!
Eu é que não vou mais falar do diabo dessa policia loura senão vou ficar o resto dos meus dias dormindo com uma múmia.
Nisso minha neta Sol apareceu pra dar a benção ao vovô e perguntou por Ester.
- Cadê minha avó? - perguntou.
- Tá dormindo. Vá lá acordar ela - respondi.
Em pouco tempo Sol retorna e diz: - Meu vô...ela tá parecendo Tutankamon.