Escritor e jornalista; E-mail: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br
Duas frases antigas sempre me trouxeram o sentimento de respeito, embora fosse difícil quando garoto, entender uma ou outra: “Ser mãe é sofrer no paraíso”. Esta levei longo período para interpretar e hoje acho que seu mais ou menos o que queria dizer nesta tematização de sentimento profundo na ótica do poeta Coelhoi Neto de intenso poder verbal. “Tudo é incerto neste mundo hediondo, mas não o amor de uma mãe”, nos diz outro poetastro de nome James Joyce e fui segundo em frente.
Atualmente e com muito prazer me encontro com a obra da escritora Nardele Gomes, jornalista das mais importantes da Bahia, criadora e mãe que acaba de lançar “Vou te contar como foi para mim”. Livro em que revela no estilo do passo-a-passo, numa crônica doce e acolhedora, num testemunho assaz emocionante, sua experiência de maternidade, sua gravidez, seus amores, expectativas, temores e projeções. Uma longa e essencial ode.
Sua obra que a define como uma escritora realizada e plena é a recomposição do seu fino e refinado sentimento. Palavras assertivas e bem pontuadas e amalgamadas que traduzem sua emoção. Parece que sua história na trilha de ser mãe foi um grande motivo ou justificativa para mostrar a excelente autora que nos brinda com um trabalho pleno, profissional e expressivo. O vocábulo na conta certa. Um livro que pode ser lido por mães, pais, irmãos, qualquer uma, qualquer uma, que vai ser tomado pela sensação infinita ou infinitas sensações, conforme excerto que tiro de uma das suas frases de prefácio. Nardele é uma escritora eficaz. Autora-mãe de espírito e sensibilidade e poder de oração.
“INGRESIA” vem a ser confusão da zorra, putaria das brabas, arranca rabo, barulho do Cão, confusão do cacete e acho que não tem uma palavra que mais sintetize um estado de amor, um estupor coletivo uma nigrinhagem – perdão o politicamenmte incorreto. Mas, politicamente incorreto, corretíssimo, verdadeiríssimo, aplicadíssimo nesta terra de baianos é mesmo o genial livro “Ingresia” que o escritor, frasista e jornalista Franciel Cruz lançou e que segue uma trilha de sucesso. Sucesso por causa da sua visão esculhambatícia e esculhambadora e anarquista do que seria pecado apostrofar.
Franciel escreve neste seu livro de crônicas, que se confunde com verdadeiro contos hiper-realistas ou do realismo mágico, levado por tantos absurdos que ainda grassam neste país e nesta Bahia. O argucioso e emotivo autor escreve como fala e fala como registra. Textos lúcidos, ácidos, escrotos, românticos, emotivos e agridoces, jocosos. Quando ele nos diz dos seus achaques e amores relativos ao Vitória, clube do seu coração e que o trai comumente, é como se estivéssemos ouvindo uma conversa de marinheiro e suas aventuras através de coisas indeléveis.
Franciel Cruz nos mostra uma Bahia mais crua do que nua, onde perpassam histórias e causos de gente de vida simples, políticos, erráticos, malfadados, malfeitores, seus amores e povo do bem. Um livro para ler ajoelhado num genuflexório (tirei de “O sol enganador”). Uma obra cheia de excelentes, verdadeiros e emocionantes paroxismos (expressão-palavra que lhe pertence) e que uso de forma a explicar a agudez da sua ingresia lúcida. Além. Mais que expressionista.