Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

A rudeza no poder ou o glamour da ignorância

Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.nbr
10/04/2019 às 06:00

O Brasil está erodido e mal pago faz tempo. Nunca tivemos muita sorte com a qualidade intelectual da maioria dos presidentes, isso desde o marechal Deodoro da Fonseca, que era homem rude, de origem simples e que se limitou à academia militar e fez carreira grandiosa graças ao seu desemprenho na Guerra do Paraguai. Mas, ao seu lado na primeira presidência republicana estava Ruy Barbosa, o que compensava sua rudeza intelectual. Sua postura ia de encontro ao brilho intelectual do imperador deposto. Dom Pedro II era um homem de letras e artes, um beletrista, civilizado, humanista. Floriano Peixoto, nosso segundo presidente, era basicamente um militar voltado para a carreira. Sem veleidades “poéticas”.

Depois vieram todos os outros com intelecto mediano, mas que pelo menos souberam colocar ao lado, interagir e “sugar” várias sumidades pensadoras, como por exemplo ocorreu com Getúlio Vargas, que era advogado e gostava de escrever. Gostava de arte e usava os intelectuais a seu favor. Tanto que eles foram importantes para difundir o Estado Novo e a ideologia nacionalista do regime.

Infelizmente nunca tivemos um verdadeiro estadista. João Goulart não teve tempo de mostrar se além de bom advogado teria sido um bom presidente e sua condição intelectual. Juscelino Kubitscheck foi um bom médico, mas intelectualmente falando não era considerado preparado. Nem mesmo por seu amigo também médico Pedro Nava, que se tornou um dos maiores memorialistas do país. Mas, JK mais que ninguém soube se cercar de pessoas inteligentes e cultas, como fez Getúlio.

A situação foi perdendo qualidade e com a chegada dos generais militares alcançou-se um patamar aquém pois Castelo Branco não demonstrava interesse por cultura. Mas fomos de vez para o ralo, com perda intelectiva, quando chegamos ao ponto de termos uma junta governativa formada por três generais classificados de rasos. O Brasil parecia que retomaria o rumo com Tancredo Neves, de boa cultura, mas que morreu e deu lugar a José Sarney de cultura mediana, escritor, poeta, mas que não era lá toda essa sumidade. Fernando Collor foi zero à esquerda. A chegada de Fernando Henrique Cardoso deu um alento. Intelectual afamado, reconhecido no seu país e no exterior e aí o Brasil culto se redimiu. Levou a pecha de elitista.

Mas, a seguir, num país com mais de 20 milhões de analfabetos chegou a vez de Lula ser presidente do Brasil e o que era falta de preparo intelectual virou para os intelectuais de esquerda uma espécie de charme. E desde então ocorre a glamourização da ignorância. Lula, por uma questão não-natural, mas consequente do meio, se trata uma pessoa ignorante, embora seja inteligente. O que dizer de Dilma Roussef, economista, oriunda da classe média e que passou para a história como um arremedo da treva intelectiva personificada.

E chegamos a Jair Bolsonaro, que tem demonstrado ser intelectualmente travado. Ao contrário de Lula que disse ter preguiça de ler, Bolsonaro diz que gosta de ler, mas pelo que se tem visto sua leitura é insossa ou ele não apreende o que lê. Alguém até já disse textualmente que ele seria uma espécie de Dilma de calças. Pior é quando ele se deixa levar por afirmações equivocadas do seu ministro das Relações Exteriores ou confusas, do seu mentor Olavo Carvalho. Chato de puxar o assunto é que parece boçalidade do autor. Mas, que jeito! Platão – perdoe a citação -  diria que a ignorância é a raiz de todo o mal do Brasil. Desde o raiar da República. Se bem que Dom João VI e Pedro I não eram lá essas Coca-Colas. É sina?