Mas os venezuelanos estão mesmo destinados à miséria e violência, mesmo aqueles que entram no Brasil pelas fronteiras
“O homem é o lobo do homem”. Cada vez mais se revela a assertiva desta frase exprimida pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, que queria dizer face suas frustrações para com a humanidade, que somos nossos maiores inimigos. Na Bahia sempre se conheceu o axioma popular: “Farinha pouco meu pirão primeiro”, que quer dizer que antes de você, eu. E é o que está acontecendo no Norte do país, região notoriamente paupérrima e que com o agravamento da situação, com a crise econômica brasileira vem recebendo levas de venezuelanos. Irmãos ainda mais pobres, vitimados por Nicolás Maduro.
Mas os venezuelanos estão mesmo destinados à miséria e violência, mesmo aqueles que entram no Brasil pelas fronteiras. No início os brasileiros aceitaram a vinda por seu conhecido “espírito humanitário”, amor pelo próximo, ser receptivo, amigo de fé, irmão, camarada ou como dizia uma velha personagem de programa humorístico da TV Globo “brasileiro é tão bonzinho”, sem entender as armadilhas, as entrelinhas e as segundas intenções do comportamento nacional.
Veja que o presidente Michel Temer acaba de decidir enviar militares para Roraima, onde o faroeste está implantado de vez. No sábado, dia 18, moradores da cidade de Pacaraima destruíram barracas e abrigos dos imigrantes venezuelanos. Atearam fogo, espancaram e botaram para correr (mais de mil imigrantes voltaram às pressas para sua miséria territorial original, com medo de morrer). O motivo teria sido um assalto praticado por venezuelanos contra um comerciante local.
Na realidade – o fato não foi confirmado – foi o estopim de uma situação que meses depois da “invasão” de venezuelanos já incomodava aos moradores das cidades brasileiras que fazem fronteira com os hermanos. O povo que antes dava comida, abrigo, remédio e funções, começou a se queixar que eles estavam roubando os poucos empregos, sujando as ruas, admoestando a população, mendigando, empatando o tráfego, invadindo os postos de saúde e passando doenças. O aumento da prostituição.
Os próprios prefeitos das cidades do estado de Roraima já tentaram barrar a entrada dos vizinhos. A governadora de Roraima, Suely Campos, ajuizou no STF, em abril, uma Ação Civil Originária pedindo à União que feche a fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Mais de 50 mil venezuelanos entraram no país e atitudes deste gênero colocaram mais lenha. Em abril 200 imigrantes foram atacados e expulsos e Pacaraima. Em junho moradores de Mucajaí tocaram fogo no abrigo de imigrantes.
O brasileiro em nada difere de europeus que vêm na imigração uma disputa por emprego e bem-estar social. A ONU já chamou a atenção do Brasil. Recentemente na Bélgica, 28 países da União Europeia, propuseram criar entrepostos fora do continente para selecionar os imigrantes que podem e os que não podem ter acesso às suas fronteiras.
A ideia é separação de refugiados de imigrantes econômicos. A realidade é dificultar. Qualquer uma sabe que uma vez dentro do território é difícil expulsar um imigrante e nem Donald Trump tem conseguido facilidade, pois com o tempo pode ter constituído família. No fim a intenção é cortar o mal pela raiz. Fator humanitário? A agenda política na Europa é tomada por este assunto e ganham força os políticos xenófobos e ultranacionalistas que já anunciaram – como hoje ocorre em Roraima – o fim da tolerância com os imigrantes. Até a Austrália já foi denunciada por violações de direitos humanos.
Em nota na reunião deste dia 19 nossa Presidência da República diz que além de mandar militares para controlar a situação de guerra no Norte, vai enviar grupos médicos e fazer triagem para enviar imigrantes para outros estrados. O problema só vai mudar de endereço e de novas matilhas.
Escritor e jornalista (Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br)