Outro fato é a intolerância que parte também de outros setores evangélicos e de grupos organizados de marginais
Dois fatos chamaram a atenção nestes últimos dias, envolvendo a questão da religiosidade de matriz africana. O vídeo em que o deputado federal irmão Lázaro joga duro contra o Candomblé, falando coisas absurdas, destratando, desqualificando e atacando mais que carcará no Raso da Catarina. Ele querendo fazer média com sua religião, que é a evangélica, fazendo papel de inquisidor e trator sem freio.
Outro fato é a intolerância que parte também de outros setores evangélicos e de grupos organizados de marginais, que agora por aqui na Bahia, como o fazem nas favelas do Rio de Janeiro, querem impedir a manifestação religiosa afro-brasileira. Tolher e aniquilar o culto. Terreiros têm sido alvo de intolerância em Juazeiro, por exemplo.
Um foi o Oyá Gnan no bairro do Quide, onde seus integrantes denunciam que vêm sofrendo ameaças e agressões há mais de três anos, seja com apedrejamento ou pichações. Recentemente outro terreiro, o Abassá Caiangô Macuajô, que fica no bairro Sol Nascente, sofreu agressão com equipamentos do culto destruídos. Os agressores dizem que na próxima vez vão derrubar a casa.
Parece que os agressores estão copiando cena da novela “Malhação” da TV Globo, onde em alguns capítulos anteriores ocorreu a luta de uma família de negros praticantes do Candomblé, que sofreram ameaças, não detorcer e foram vítimas de ações agressivas, inclusive com o terreiro sendo incendiado.
Na Bahia, além de Juazeiro, existem, queixas formalizadas na polícia dando conta de problemas assemelhados em Valença, Ilhéus e no Litoral Norte. Mesmo a Igreja Católica sofre com a intolerância, como aconteceu há algum tempo em que uma igreja de São Francisco, em Arembepe, foi invadida e todos os objetos e imagens quebradas.
Interessante é que, tanto na novela “Malhação” como em outros casos, chama a atenção a participação de afrodescendentes na prática da intolerância, como se ao optar por uma religião a outra ofendesse ou, na boa parte dos casos, são afrodescendentes em que o Candomblé em algum momento fez parte da sua vida, da sua família, dos seus antepassados, fosse por uma questão de autopreservação ou por unicidade da raça.
O Irmão Lázaro, do PSC é negro, tem parentes negros, tem análogos na religião afro-brasileira, mas é intolerante com a própria origem religiosa, pelo que se demonstra. Mas não é só ele. Hoje temos muitos fundamentalistas.
Portanto é preciso vigiar de perto qualquer um, de qualquer religião que não respeite a fé do outro. Nenhuma religião é superior à do vizinho. E olha que quem vos fala é um agnóstico que só não tolera a barbárie entre irmãos. E olha que São Lázaro, Obaluaiê, é protetor dos doentes. Até da cabeça.
Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br