Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

A voz das ruas e a humildade de Cardozão

Jolivaldo Freitas é jornalista e cronista
21/03/2015 às 11:43
Começo a acreditar que Dilma está sendo levada a reboque ou sendo levada na tora pelo tsunami que é o seu partido e seus teóricos e acólitos e está ao Deus dará. Vejo a situação como num filme B. 

Fade in e câmera percorre em uma pan bem longa a Esplanada dos Ministérios, desvia para a esquerda e pega a torre com o sino da igreja de Niemayer e a cena se funde com um sino de bronze sobre a estante da sala de Dilma, no Palácio da Alvorada e um zoom out mostra a presidente atrás de uma pilha de papéis e as linhas da sua central de telefone com todas as luzes piscando feericamente. Dilma concentrada em ler e assinar papéis. Nada percebe ao redor e a câmera mostra o trânsito lá embaixo, no Eixo Central e uma parte do Lago Paranoá.


Corta para sala onde um grupo com impecáveis paletós conversa em frente à mesa do que vem a ser um ministro. Discutem, olham uns para os outros esperando aprovação de alguma frase, se movimentam com tranquilidade nas cadeiras de couro inglês e a autoridade com a atenção toda centralizadas faz gestos de aprovação e todos saem. Fade out.


Mais uma fade in e o grupo segue em, direção ao Congresso Nacional (corta para passos, sapatos, caneta, maleta: alguém carrega uma mochila). Os homens entram no elevador em silêncio, dão boa tarde ao ascensorista e às moças loiras, bonitas, elegantes que entram com pastas no colo. Uma pasta cai e um dos homens abaixa para pegar e confere o sapato Prada (ele ao pegar a pasta deixa à mostra um Rolex que não parece ser original) da moça. Reconhece pela sola vermelha. Entrega para a moça que sorri e agradece e percebe-se algum grau dissimulado de intimidade.


Abre-se a porta do elevador, todos saem, menos uma das mulheres e seguem caminhos distintos. Faz fusão de imagens e a câmera, como se fosse uma câmera de segurança num longo corredor mostra as salas dos deputados e os homens entrando, cada um em uma delas.
                                                         
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Vamos cortar o roteiro aqui pois o resto temos visto nos telejornais e lemos na internet e nos impressos e o final ainda está sendo roteirizado pelo MP e pelo STF.

Pois é isso. Começo a achar que os homens do governo aproveitam que Dilma tem uma longa e pesada agenda cumprir, tem de ler e assinar Medidas Provisórias, autorizar projetos e ainda acompanhar os relatórios do seu serviço de inteligência sobre o que Lula está aprontando contra seu governo e contra ela e aí perpetram todo tipo de absurdo.
Daí que quando ela foi para a TV dizer que o governo conclamava a todos para debater a crise “com toda humildade” eu acreditei em sua proposta. Mas fiquei foi pasmo quando vi o ministro da Justiça Eduardo Cardozo todo humilde falando a mesma coisa e defendendo, como sempre o governo, e falando com humildade dos protestos e em defesa da Democracia. Ele lá na TV meio amarrotado, olheiras, amarfanhado, cabelos desgrenhados. Logo ele que nada tem de humilde, muito pelo contrário é uma boçalidade total e é vaidoso, pois chegamos a sentir seu perfume grassando pela tela plana e do HD.


Se o protesto dos milhares de brasileiros não servir para nada, pelo menos serviu para dar “humildade” ao Eduardo Cardozo, que pela primeira vez falou macio, educadamente, civilizadamente, quase dando dó. Enquanto isso nenhuma dose de humildade chegou à veia do Rui Falcão, presidente do PT. Continua arrogante e cara de pau asseverando que não tem corrupção em lugar nenhum. Mas, lá dentro do peito, com certeza, deve estar se borrando todo. Hora dessas vai aparecer mais humilde que Irmã Dulce. É só esperar um pouco mais.