Sabe aquele conversa, na chuva, é preciso ter cuidado com as cobras . Olho vivo!
Claro que você, sabido, vai dizer que cobra não morde... pica! Vá dizer isso para o pessol que mora em Patamares, um bairro até certo ponto considerado nobre. A chuva caiu feio e foi tanta água que alagou tudo.
Saiba que são as chuvas de abril - embora Tom Jobim tenha dito que "São as águas de março, fechando verão" o que se justifica na região Sudeste do país, pois ao contrário de Salvador, no Rio de Janeiro, onde morava o maestro, chove demais neste mês. Aqui o verão invade o outono e quando a chuva decide cair é mesmo em abril ou atrasadamente, como ocorre agora, em maio.
Na Bahia tem umas coisas interessantes, como por exemplo, a famosa maré de março nunca acontecer no mês que a denomina. E quando coincide esta maré alta com ventos fortes e ressaca maior que a de bebedeira com Old Eight ou Tubaína com vodca, misturado com a chuva, é um salve-se quem puder. Telhados voam, árvores caem, velho se mija de frio e cachorro gane com as orelhas enregeladas. Eu vivi, pasme, um mês de maio em Salvador que bateu 17 graus de temperatura e quando eu digo a alguém tem sempre um que não viu mas diz que usou até casaco de pele e outro que faz cara de dúvida.
O pessoal de Patamares está sentindo frio e molhado. Anda pisando na lama e se queixa de pagar IPTU caro e condomínio maior ainda e quando a chuva cai dá até para pegar onda. Foi tanta água que como diria Lula (o ex-presidente que não sabia do Mensalão, este mesmo), pela primeira vez na história do país os ricos e remediados sentiram na pele o que aquilo que a população pobre sofre toda vez que as nuvens decidem desabar sem pedir licença a São Pedro ou ele erra no controle da torneira.
Mas lá, como no subúrbio, o que viu foi que a natureza sempre se vinga de quem a maltrata. Jogou lixo fora do local adequado. Arremessou de qualquer jeito as latinhas e garrafas plásticas ou sacos e sacolas, uma hora qualquer vai entupir bueiros, rede de esgoto, cloacas e sarjetas. Ou vai desabar sobre a rua.
Até os bichos andam contrariados com a falta de respeito para com a natureza. A chuva veio, a água empoçou, rios e esgotos subiram, invadiram seus habitats e as cobras - que não são gente - saíram nadando, mordendo, picando, arranhando (aí já é exagero, reconheço) e destilaram o seu veneno.
Foi coral, jararacuçu, jiboia, cobra de duas cabeças, cobra cega, minhoca achando que era cobra, papo amarelo, cobra verde, cascavel, cobra espalha-fogo, cainana, pico de jaca, jararaca-d-rabo-branco e até cobra de asa e todas as quase três mil espécies que rastejam pelo mundo.
Cobras peçonhentas e outras sem peçonha, mas ninguém é maluco de ficar olhando se tem a cabeça redonda ou triangular as Bothrops, Crotalus, Lachesis e do gênero Micrurus, pois quando colocam a língua bífida para fora e aparecem os dentões, as presas tipo caninos ou assemelhados, que não sei se cobra tem dente, mas se morde tem dente, sim, é tudo igual.
Ninguém tinha de ideia de haver cobra em bairro nobre, mas tem, pois cobra é igual a político. Quando menos se espera ele sai da toca para dar uma mordidinha. Invariavelmente. Mas estes só mordem na carteira. Claro que a dor é maior e a morte lenta.