Esporte

HISTORIANDO AS COPAS 12: A ITÁLIA É A CAMPEÃ DO MUNDO PELA 3ª VEZ

Historiando as copas é uma série escrita pelo jornalista ZédeJesusBarrêto
ZedeJesusBarrêto ,  Salvador | 01/11/2022 às 09:25
Itália, campeã de 1982
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“Perdemos porque falhamos e porque a Itália soube aproveitar nossas falhas.
 Fizemos um trabalho digno, mas futebol é resultado... e perdemos um jogo que
 não poderíamos perder” 
   (Telê Santana, treinador da Seleção, depois da derrota para a Itália em 1982)   

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 Nunca uma derrota como aquela, nunca a perda de um título foi tão chorada no Brasil como aquele Itália 3 x 2 Brasil, na tarde-noite de uma segunda-feira, 5 de julho de 82, no Estádio Sarriá, em Barcelona. Eram mais que lágrimas, um sentimento de perda profundo, uma frustração sem limites, um país inteiro perplexo e arriado, sem amparo.  Foi algo bem maior até que o ‘maracanazzo’ de 1950, plena era do rádio, porque o desastre de Sarriá foi visto ao vivo e em cores pela tevê do Oiapoque ao Chuí, as lágrimas em uníssono feito uma orquestra em sinfonia fúnebre. 

  Os meios de comunicação do país investiram na cobertura como nunca tínhamos feito, visto, lido e ouvido, equipes em mutirões acompanhando cada passo, cada treino, cada partida, em flashes, noticiários, transmissões emocionadas ao vivo, ruas embandeiradas, chãos e muros pintados de verde e amarelo, um clima de triunfo impregnado na alma brasileira e ... Aconteceu aquilo que ninguém imaginava.
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 O país vivia um momento esperançoso, de mudanças, com o processo de redemocratização do país em marcha, o medo dando lugar à confiança num amanhã diferente e melhor para todos. Aquela seleção de Telê talvez representasse esse sentimento, ou quem sabe carregasse nos ombros, nas chuteiras essa bandeira verde-amarela de esperança reinante. 
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  Sim, tínhamos um bom time e jogávamos bem, encantávamos quando tínhamos a bola nos pés, fazíamos gols, as tramas ofensivas tinham pinceladas de poesia, pura arte. Nossos laterais (Leandro e Junior) avançavam como alas, fluíam; nosso zagueiro Luizinho saía jogando com bola no chão, cabeça erguida; nosso quadrado de meio campo (Cerezzo, Falcão, Sócrates e Zico) era mágico, envolvente. 

  Nosso treinador escalava bem, conhecia os atalhos do campo e as mumunhas da bola, tinha o respeito da equipe. Mas ... tínhamos problemas também, coletivos e individuais. Se éramos eficientes e leves com a bola, sem ela pecávamos na marcação, na recomposição, na pegada frouxa. 

  Nosso goleiro (Valdir Peres) fraquejou algumas vezes; Luizinho avançava melhor do que defendia; nosso centroavante (Serginho) estava muito abaixo do restante da equipe, a vaidade de alguns nos prejudicou e... por questões de personalidade, até de conceitos éticos, Telê vacilou em algumas decisões – trocas, mudanças, substituições, exigências, rigores. 
 
  Assim, naquele fatídico jogo contra a Itália, no Sarriá, jogamos melhor, tão bonito como vínhamos fazendo, mas os italianos foram mais eficientes. A estratégia deles funcionou melhor, possuíam também um bom time e era o dia deles. Vinham fazendo uma competição sem brilho até aquele dia, mas desencantaram em cima do Brasil e terminaram ganhando o título numa final (3 x 1) contra a poderosa Alemanha Ocidental. 
                                     Isso é o futebol. 
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 Momentos tristes esperançados    

  “O melhor e o pior dos tempos”, chegou a se escrever sobre aqueles dias, meses de 1982. A gente começava a destampar a pressão da ‘ditadura militar’, mas o general João Baptista Figueiredo, aquele que disse gostar mais do cheiro dos cavalos do que o cheiro do povo, ainda tinha as rédeas do país e do processo de mudanças – exerceu o mandato de 1979 a 85, administrando crises políticas e econômicas, a nação em ebulição. 

  Nossa inflação chegou a 99% no ano, o dólar no câmbio negro a 430 cruzeiros, a dívida externa estourada. Tínhamos mais de 120 milhões de habitantes, 48% da população com menos de 19 anos, 25% dos adultos analfabetos totais, as cidades inchando e as desigualdades assustando. 

  A liberdade brotava, havíamos superado a censura, a anistia ‘ampla, geral e irrestrita’, tinha sido promulgada em 79, os exilados de volta (Brizola, Gabeira, Betinho e cia... ), apareciam as primeiras denúncias de torturas havidas e torturadores nomeados.  Lula, aos 37 anos, líder operário, começava sua carreira política, surgia a chamada ‘democracia corintiana’, com Sócrates e Vladimir à frente, a cultura em fruição, artes florescendo, o Flamengo campeão do mundo em 1981...  

  Mas Elis Regina morreu, em 19 de janeiro daquele 82 e, no extremo sul do planeta, bem embaixo de nós a Guerra das Malvinas assustava; o general Galtieri, então de plantão na Casa Rosada, decidiu invadir as ilhotas congeladas das Malvinas - as ilhas Falklands dos inglêses. Dona Margareth Tatcher, lá do hemisfério norte, embarcou umas tropas britânicas em navios torpedeiros e acabou, na tora, com a ‘piada’ dos milicos hermanos em dois meses.  

  Oh, tempos! O afro-axé-music, a gravadora WR, a tevê do basco Dom Pedro Irujo pioneira na cobertura ao vivo do carnaval baiano, ACM governador, o verão de Salvador era dos turistas, mas, a despeito dos avanços tecnológicos vigentes, ainda fotografávamos com máquinas analógicas, as digitais apareceram uns seis anos depois.   
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 Arriba España !   

  Os espanhóis, tangidas as más lembranças do Generalíssimo Franco, viviam tempos de unidade e progresso, com sua Monarquia Parlamentar funcionando, e se empenharam em realizar uma Copa do Mundo exemplar. E fizeram, facilitaram, organizaram, acolheram. 
 
  A Espanha fica na Península Ibérica, sul da Europa, colada com Portugal, fronteira norte com a França, Oceano Atlântico na costa oeste e o Mar Mediterrâneo a Leste. É um país com território menor que o estado da Bahia, uma cultura forte e diversificada em função de sua história (Gregos, Romanos, Galeses e Galegos, Celtas, Mouros ou Muçulmanos, Judeus, Catalães, Bascos...), e uma população em torno de 38 milhões de almas à época da Copa. 

  Madri, Barcelona, Sevilha, Valência, Córdoba, Málaga, Bilbao ...  algumas de suas maiores cidades, muita riqueza turística (o que ver) e gastronômica (o de comer).  Real Madrid, Atlético de Madri, Barcelona, Sevilha... os times de maior apelo, os espanhóis amam futebol e touradas. Foram utilizados 17 estádios em 14 cidades diferentes nos jogos da Copa. Publicitários de Sevilha criaram um personagem, mascote da Copa, chamado Naranjito (laranjinha), e o famoso artista catalão Juan Miró y Ferraz, nascido em Barcelona, 90 anos, criou um belo e intrigante cartaz para o evento mundial. 
 Tudo ordenado para um grande espetáculo.
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Tramas de brilho e apagões  

 O mineiro Telê Santana, 51 anos, que foi um aplicado jogador de ponta do Fluminense do Rio nos anos 50/60 e depois um técnico diferenciado, assumiu o comando do escrete em 1980 e passou dois anos definindo equipe e jeito de jogar em amistosos, o Mundialito de Montevidéu e jogos eliminatórios para a Copa, com êxito e muito mais elogios do que críticas ao seu trabalho. A seleção embarcou para a Espanha com 19 jogos de invencibilidade, credibilidade e malas de confiança. Sim, tínhamos craques e um vistoso futebol coletivo, ofensivo. 
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 A estreia foi em Sevilha, dia 14 de junho, uma segunda-feira, nove da noite, num calor de 30 graus. Mais de 50 mil pessoas nas arquibancadas do Estádio Ramón Sánches Pizjuán. Ganhamos de 2 x 1 para a União Soviética do goleiro Dasayev, mas levamos sustos e fomos ajudados pelo apito amigo do espanhol Augusto Castillo, que fez que não viu dois pênaltis claros de Luizinho - segurou pela camisa o atacante Shengelia na área, aos 18 minutos, e cortou uma bola com a mão numa disputa com Blokhin, aos 38 do segundo tempo. Ôba! 

 O time começou bem a partida, envolvente, trocando passes, a URSS recuada, segurando, até que por volta dos 33 minutos o atacante Andryi Bal arriscou um chute de longe, meio despretensioso, e Waldir Peres papou um frangaço. Complicou, e só viramos no segundo tempo, na base do talento individual. Sócrates, aos 30’, livrou-se da marcação de dois e bateu de direita, de fora da área, acertando o ângulo. Aos 42’, Paulo Isidoro fez boa jogada de ponta direita, passou forte e rasteiro para Falcão que abriu as pernas, enganou a marcação e deixou limpa para Éder acertar um foguete, definindo. 

 Telê disse que sofreu mas gostou do que viu em campo, o treinador soviético saiu tão revoltado com a arbitragem que nem foi para a entrevista programada pós-jogo e o ‘soprador de apito’ espanhol foi punido, só escalado como bandeira dali em diante. 
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 O segundo jogo foi uma festa (4 x 1 na Escócia), no dia 18 à noite, no Estádio Benito Villamarin, em Sevilha, cheio. Telê escalava pela primeira vez seu ‘quadrado mágico’ – Cerezzo, Falcão, Sócrates e Zico – de craques. Mas, pra variar, levamos primeiro um gol aos 18 minutos, um chute feliz do meia Narey acertando o ângulo de Valdir Peres. 

  Zico empatou, ainda no primeiro tempo, batendo uma falta indefensável da meia lua, especialidade do ‘Galinho’. O show aconteceu na segunda etapa, com gol de cabeça de Oscar logo aos 3 minutos, um golaço de cobertura com toque sutil de Éder aos 19 minutos e Falcão fechando o placar aos 43’, com chute rasteiro depois de tabelar com Sócrates. Até os escoceses se misturaram aos brasileiros para comemorar nas ruas, a mídia esportiva elogiando o talento individual e o jogo coletivo da seleção. 
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 A Nova Zelândia levou 4 x 0 na noite de quarta-feira, 23 de junho (São João no Brasil), no Estádio Benito Villamarin, 40 mil presentes. Zico marcou duas vezes no primeiro tempo, o segundo de voleio, belíssimo, após cruzamento de Leandro (jogadinha do Flamengo). No segundo tempo, sem que o adversário esboçasse reação, trocando passes, Falcão e Serginho ampliaram aos 19 e 24 minutos, um triunfo irretocável, exibição do quarteto de meio campo apoiado pelos laterais Leandro e Junior. Jogávamos fácil, os gols pareciam acontecer naturalmente, sem ansiedades.
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 Argentinos atormentados batidos   
  
 Nossos maiores rivais latinos eram então os campeões do mundo, mantinham o time-base da Copa de 78 com o acréscimo do gênio Maradona, o mesmo treinador Menotti, mas os atletas pareciam atordoados com as notícias da fatídica Guerra da Malvinas, uma ‘aventura’ mal calculada pelos militares da Casa Rosada, os soldados portenhos sendo massacrados pela marinha britânica.

 Em campo, naquela tarde-noite de 2 de julho, uma sexta-feira, no Estádio Sarriá, já em Barcelona, o Brasil faria, sem dúvida, sua melhor exibição naquela Copa, 3 x1 sobre a Argentina, sem direito a choro ou desculpas. A seleção ‘canarinho’ foi absoluta.

 O primeiro gol saiu aos 12 minutos, com Zico aproveitando um rebote, após cobrança de falta de Éder acertando o travessão de Fillol. Ainda na primeira etapa, Falcão perdeu duas boas chances de ampliar e Zico uma. O show continuou na segunda etapa, com gol de Serginho de cabeça, após cruzamento da direita de Falcão, aos 22 minutos e, aos 30’, um golaço do lateral Junior recebendo em profundidade de Zico e desviando de Fillol, os ‘hermanos’ entregues.

   Apelaram no final, claro. Passarela deu uma entrada violenta que poderia tirar Zico da partida seguinte e Telê, jogo ganho, pôs o apoiador Batista no lugar. Mal tinha pisado em campo, Batista foi solado no tórax pelo irritado Maradona (expulso); depois o astro confessaria que aquele pontapé teria sido melhor no Falcão, ele entregara a encomenda no endereço errado. Milongas. Aos 44’, Diaz aproveitou-se de um vacilo, numa troca de passe displicente entre Leandro e Batista, e diminuiu: 3 x 1. 

  Com aquele resultado, o Brasil precisaria apenas de um empate no próximo jogo contra a Itália (que tinha empatado de 0 x 0 seus três primeiros jogos mas vencera a Argentina por 2 x 1) para chegar às finais.  No entretanto ...  
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 O desastre de Sarriá    
 Os italianos chegaram à Espanha carregando problemas na bagagem, desde 1979, o carma de roubalheira e corrupção envolvendo clubes tradicionais (Milan e Lázio) e atletas de renome com a Totonero – a loteria negra – que manipulava resultados do Campeonato Italiano. O ‘bambino’ Paolo Rossi chegou a ficar meses sem atuar, envolvido. A Itália classificou-se na primeira fase com três empates: ) x 0 contra a Polônia, 1 x 1 contra o Peru e novamente 1 x 1 com Camarões. Rossi completava três anos sem fazer um gol sequer pela ‘Azzurra’. O clima entre os atletas, o treinador Bearzot e a imprensa esportiva italiana era péssimo, sem entrevistas. 

  Mas... já abrindo a segunda fase da competição, a Itália vencera bem a Argentina por 2 x 1 e o vivido ex-treinador Zezé Moreira, olheiro da nossa seleção que viu o jogo, alertou Telê Santana: - “cuidado com esses italianos”. Não se sabe se Telê ouviu, mas os jogadores brasileiros estavam convictos de que passariam pela matreira Azurra sem problemas, senhores de si, presunçosos com a campanha brilhante até então em gramados espanhóis, goleando. Pois bem...  
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  Dia 5 de julho, segunda-feira (dia da volta da Cabocla, em Salvador), boca da noite, o Sarriá de Barcelona com 44 mil nas arquibancadas, o amarelo brasileiro predominante, o israelense Abraham Klein no apito. Ao Brasil bastava apenas um empate para seguir adiante, disputar o título, e o time de Telê começou fogoso, mas, aos 5 minutos, na primeira avançada dos italianos, Leandro ficou observando o cruzamento de longe da esquerda, de Cabrini, a bola atravessando pelo alto a área brasileira, descaindo na quina da pequena área, lado oposto; Valdir ficou plantado, Luizinho espiou e Junior não se deu conta da chegada em velocidade de Rossi, às suas costas, testando forte, enviesado, fazendo 1 x 0. 

  Os brasileiros não se abalaram, avançando, trocando passes, criando duas oportunidades de empatar com Zico e Serginho. Aos 12’, Zico desvencilhou-se do marcador Gentile e acionou Sócrates que passava em velocidade pela direita, pedindo a bola; o Magrão avançou livre e bateu forte, a meia altura, cruzado, entre Zoff e a trave, empatando: 1 x 1.  

  Jogávamos bem, mas aos 25’, um erro outro erro numa saída defensiva dos Canarinhos: o lateral direito Leandro passou para Cerezzo que achou por bem sair tocando pelo meio, atravessando a bola na direção de Falcão, Oscar, Luizinho, Falcão, Junior... mas Rossi foi mais esperto, antecipou-se, e tamancou da entrada da área na cara de Valdir Peres, que aceitou: 2 x 1 Itália. Os rodados italianos deram a bola ao Brasil mas mastigaram o resto do primeiro tempo, de boa, fechadinhos atrás.

  O time de Bearzot voltou para a segunda etapa dificultando, só arriscava subir no contragolpe, e a moçada de Telê em cima, tentando furar o bloqueio. Falcão conseguiu o empate aos 23 minutos, ao receber de Junior e acertar o canto de Zoff com um chute forte, da meia lua: 2 x 2. Era o suficiente, e Telê pôs o lépido e guerreiro Paulo Isidoro em campo no lugar do inócuo centroavante Serginho, tudo sob controle. Mas quá! Por volta dos 30’, Luizinho foi atrasar uma bola boba de cabeça para Valdir Peres e cedeu o escanteio, cobrado da direita do ataque italiano.

  Bola alçada, Sócrates subiu e afastou de testa, sem força, Tardelli conseguiu pegar o rebote de primeira, da linha da grande área, sem muita convicção; a defensiva brasileira tinha avançado quase inteira, Graziani e Rossi pareciam perdidos e em posição de impedimento na pequena área, a um metro de Valdir Peres.Só que Júnior, meio que distraído, guarnecia o poste esquerdo do gol e restou ali plantado, dando condições de jogo aos italianos. A bola de Tardelli, caprichosa, foi na direção de Rossi que desviou de Valdir e desempatou: 3 x 2.  
 
  Daí por diante foi o desespero. Os brasileiros lançaram-se todos à frente, Zico sofreu um pênalti de Gentile, que rasgou sua camisa, mas o árbitro não deu e os italianos, no contragolpe, perderam uma chance incrível (Rossi, sempre ele, cara a cara com o goleiro chutou rente à trave). Cinco minutos depois, aos 42’, o árbitro de Israel, atendendo o bandeira, anulou um gol legítimo de Antonioni (não houve impedimento) e Oscar, antes do apito final, testou de cima pra baixo, no canto, uma falta alçada por Éder mas Zoff fez uma defesa espetacular, salvando em cima da linha o gol de empate. O timaço do Brasil estava fora da copa. 
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  O clima de velório 

  Choro e desolação no vestiário brasileiro, jogadores, comissão técnica, radialistas, árbitros, jornalistas brasileiros e estrangeiros, perus, amigos...era como se ‘o futebol tivesse morrido’.
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“Estávamos todos ali, juntos, mas ninguém conseguia falar, o que poderia ser dito? Apenas sentamos e choramos. Ninguém acreditava que tínhamos perdido o jogo, não dava para acreditar que tinha acabado”  - confessou o ponteiro Éder.    
     
“A tristeza era muito grande. Todos estávamos chorando. Foi provavelmente o pior momento de minha vida e de minha carreira. Eu pensava nas pessoas, nos brasileiros, na minha família. Eu sabia quanta felicidade estávamos trazendo para todos com nossas vitórias e aquela derrota foi muito pesada” – disse o zagueiro Luizinho

  O árbitro Klein relatou que Sócrates foi cumprimentá-lo na porta dos vestiários, em pranto: “Nunca esquecerei dele apertando minha mão, de pé, na porta e de cabeça baixa, é como se fosse ontem”, relatou em entrevista, depois.  

 O jornalista inglês Patrick Barclay, presente, escreveu anos depois: “Foi uma comoção internacional. Nós britânicos e todos os colegas compartilhávamos uma excitação com aquele time. No fim da partida uma sensação de desespero tomou conta, quase como se o futebol tivesse morrido. Estávamos de luto”. 
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 Um depoimento do ‘doutor’ Sócrates, escrito como se fosse um diário da copa, a pedido do jornalista Juca Kfouri, sobre aquele 5 de julho de 82:

 -“Cheguei ao estádio confiante. Tinha na cabeça uma coisa óbvia: nosso time era o melhor do mundo. Pela manhã, em conversas na concentração, essa era a tônica. Enfrentaríamos um time retrancado, que jogava no contra-ataque, e que seria um jogo duro pelo que a Itália mostrou contra os argentinos. Sabia da determinação deles porque assim é o futebol. Saímos da copa apesar de sermos o time que melhor jogou.
Estou profundamente triste, sem forças para explicar nada. Saí do estádio direto para o ônibus. Vi o amigo cantor Fagner no corredor, dei um abraço comovido nele e segui. Dentro, uma frustração intensa, talvez a maior da minha vida, por não conquistar o título que eu, no íntimo, alimentava tanto. Obrigado torcida, somos campeões!”
  Reconhecimento 

  Mesmo decepcionado, devastado por dentro, abraçando e enxugando as lágrimas dos atletas, Telê manteve a serenidade e foi encarar os jornalistas na Sala de Imprensa, uma hora depois do final do jogo. Foi recebido de pé, sala lotada com mais 300 profissionais do mundo inteiro, sob aplausos. Respondeu tranquilo todas as perguntas, sem levantar a voz, firme, reconheceu erros, orgulhou-se do trabalho feito, como um grande comandante. Saiu da sala, de novo, sob palmas, agradecido e agradecendo. Exemplar.  
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 - Do treinador italiano Enzo Bearzot, após o triunfo, feliz, óbvio, mas lamentando a ausência do Brasil na final do torneio: “Eu preciso dizer que eles mostraram o melhor futebol neste mundial. Lamento por eles”. 
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 O grupo de Telê (apelidos)
 - Valdir Peres ‘babão’, Carlos ‘ganso’ e Paulo Sérgio ‘bocão’ (goleiros); Leandro ‘favela’, Junior ‘capacete’, Edevaldo ‘cavalo’ e Pedrinho (laterais); Oscar ‘belo’, Luizinho ‘dorminhoco’, Edinho ‘carão’ e Juninho ‘pateta’ (zagueiros); Cerezzo ‘tereza’, Falcão ‘cabelo de anjo’, Batista ‘barney’, Paulo Isidoro ‘tiziu’, Sócrates ‘monstro’ e Dirceu (meio-campistas); Serginho ‘chulapa’, Zico ‘coxinha’, Éder ‘dentão’, Renato, Roberto ’dinamite’ e Careca – cortado por lesão (atacantes) 
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 Restos de amarguras:

 - O vitorioso treinador Telê Santana, um mestre, nos deixou em 21 de abril de 2006, aos 74 anos. Uma multidão no seu velório, em Belo Horizonte/MG.  
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-  Paolo Rossi, Il Bambino d’Oro, morreu em 9 de dezembro de 2020, aos 64 anos, em decorrência de um câncer nos pulmões. O velório foi em Vicenza, Italia. O ex-craque    Falcão, sempre elegante dentro e fora de campo, o homenageou, assim: “O Brasil já chorou por causa dele, agora chora por ele”. 
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- O Estádio Sarriá, que pertencia ao clube Espanyol, foi vendido para pagar dívidas e demolido em 1997. No local, hoje, um empreendimento residencial. 
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A Itália campeã pela terceira vez 

A final, no domingo à noite, dia 11 de julho, no Estádio Santiago Bernabeu, em Madrid, foi italiana, já cheia de confiança, 3 x 1 sobre a Alemanha Ocidental, com arbitragem do brasileiro Arnaldo Cesar Coelho – que marcou um pênalti discutível em favor da Itália no morno primeiro tempo, mas Cabrini chutou pra fora. 
 
A partida só começou pra valer depois do gol de cabeça do baixinho mas esperto Rossi, aos 12’ minutos, antecipando-se à zaga num cruzamento de falta cobrada por Gentile; tinha o tempo certo da bola. Com 1 x 0 no placar, os italianos passaram a jogar do jeito que gostam, atrás, num ferrolho- uma linha de quatro zagueiros e mais um líbero na cobertura, Scirea -, explorando os contragolpes em velocidade. Os alemães buscavam o empate e se abriram na defesa. 
 
 Tardelli fez 2 x 0 aos 24 minutos, numa arrancada surpreendente do líbero Scirea, pegando a defensiva germânica desprevenida. Aos 40’, Altobelli concluiu, driblando goleiro e quase entrando com bola e tudo, depois de um contragolpe em alta velocidade de Conti pela direita. Antes do apito final, Breitner fez o gol de honra alemão, aproveitando-se da única rebatida em falso da defesa italiana em todo jogo.

A Itália, que fora campeã em 34 e 38, nos tempos de Mussolini, levava o título pela terceira vez, com seu estilo defensivo e pragmático. Uma escola de futebol. Jogam assim até hoje e sempre. Quando tentam mudar se dão mal. A equipe de 82 era boa, bem treinada, alguns talentos individuais fizeram a diferença.    
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Equipe Campeã 
- Zoff, Bergomi, Cabrini, Gentile, Colovatti, Scirea, Orialli, Tardelli, Conti, Graziani, Altobelli, Causio e Rossi.  Mais Galli, Baresi, Antognioni, Dossena, Massaro ...

 Como treinador, Enzo Bearzot. 

Paolo Rossi foi eleito ‘O Craque da Copa’, e também artilheiro – com seis gols fundamentais para a conquista. 

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 Lições do poeta 

... “E chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória, estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo.
  Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe do apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos, começar de novo”
 Carlos Drummond de Andrade, “Perder, Ganhar, Viver”, artigo publicado no Caderno de Esportes do Jornal do Brasil, edição de 6 de julho de 1982)