Bahia foi campeão da Copa do Brasil, em 1959, com o argentino Volante
ZédeJesusBarrêto , Salvador |
22/08/2021 às 19:01
Diego Dabove
Foto: REP
O torcedor do Bahia, surrado e meio desesperançado, joga suas derradeiras fichas no jovem treinador argentino Dabove, 47 ANOS, que assume o comando técnico da equipe esta semana, depois da derrota em Porto Alegre (2 x 0) diante do Grêmio, que o recém contratado treinador assistiu de cima, ao lado de seus auxiliares e dirigentes do clube. Tem sete dias limpos até o jogo contra o Fluminense, no Rio, próxima rodada.
A derrota no Sul foi mais uma, nos mesmos moldes, com o manjado gol de cabeça na costas do lateral Nino, e a equipe em campo abatida, desarrumada, passiva, desfibrada, perdendo as divididas, o corpo-a-corpo, os rebotes e alguns atletas (?) se arrastando em campo por falta de pernas e/ou de vontade. Um time sem tesão de vencer, o que deixa o torcedor tiririca da vida.
Dabove, que foi goleiro, e seus auxiliares terão muito trabalho. Soubemos que ele é exigente, gosta de uma equipe combativa, guerreira, competitiva e que mantenha ritmo e intensidade de jogo até o apito final. Aliás, como é historicamente o futebol argentino, uruguaio e como, faz tempo, foi o Bahia de Marito e Biriba, de Baiaco e Roberto Rebouças, de Zé Carlos, Gil, Paulo Rodrigues ... Debove, implantou linha dura no Argentino Juniors e no San Lorenzo de Almagro, equipes que dirigiu antes.
Espera-se que o argentino tenha autonomia e coragem de renovar a equipe, de separar as ‘ervas daninhas’, derrubar as panelinhas, detectar quem quer de fato trabalhar, dar duro, entrar em forma e quem gosta de chinelinho e celular, apenas.
É preciso injetar ânimo, sangue novo, fôlego, vontade ao grupo, usar mais a garotada que quer correr, aparecer, e mudar de uma vez por todas o jeito burrocrático (com dois erres mesmo) que o time vem jogando faz tempo, de muito totó e passes laterais, sem profundidade, sem agressividade ofensiva.
Se o meio campo não marca, não pega, nenhuma defesa aguenta atrás o repuxo. Todos precisam morder, cercar, caçar para retomar a bola e, de posse, fazê-la chegar o mais rápido possível na área adversária, finalizando. O grande mestre Evaristo assim ensinava.
E todo cuidado é pouco para que não comecem a derrubar o Debove (como Debofe) antes mesmo de ele sentar praça. Já conhecemos esse filme. Quando chega um treinador que exige, que quer tirar a turma ‘que lidera e comanda’ do conforto, logo se cria um clima, com apoio de parte da mídia esportiva ‘mui amiga’ de alguns jogadores, insuflando a derrubada, o boicote. Quem viveu e conviveu um pouco no ambiente de treinos, concentrações e vestiários sabe bem do que estou falando.
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Volante, lembra?
O Bahia conquistou seu título de Primeiro (e único) Campeão Brasileiro, na Copa do Brasil de 1959, com um argentino, Carlos Volante, no comando técnico. Volante foi jogador meio-campista marcador no Flamengo e tinha sido campeão baiano treinando o Vitória (1957), quando Osório o convidou às pressas para comandar o Bahia que ia decidir o título brasileiro contra o Santos de Pelé, no auge.
Aquele super time (de Nadinho, Leone/Beto, Henrique, Vicente e Nenzinho; Flávio e Mário /Ari, Bombeiro; Marito, Alencar, Leo e Biriba) foi na verdade montado e armado por Geninho (Eugênio Bahiense), um carioca malandro e paizão, que era funcionário público e teve de deixar a equipe no fim do ano de 1959, depois dos dois primeiros confrontos com o Santos (Bahia 3 x 2 na Vila, e Santos 2 x 0 na Fonte Nova).
Volante foi o treinador, escalou o time na partida final contra o Santos no Maracanã, em março de 1960 (Bahia 3 x 1) e manteve a equipe de Geninho.
O argentino Volante era extremamente exigente, controlador e chato. Não admitia fumantes e nem palavrões perto dele. “Era um arrogante”, diziam alguns jogadores, como Biriba, por exemplo, que mal o cumprimentava. Título conquistado pelos jogadores, caiu em desgraça. Tanto que numa excursão à Europa, naquele mesmo ano, sob pressão dos jogadores que ameaçaram até sair na mão com ele, Volante foi derrubado; Osório não aguentou o jeito intransigente do ‘gringo’ e a corda esticada pelos atletas.
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Se bem que os tempos são bem outros. Mas...
Que o Bahia precisa de uma sacudidela, de uma chacoalhada... precisa, e urgente,
Uma equipe com mais malícia, milonga, malandragem e força. Um time em campo que consiga transpirar o velho fundamento do grande futebol argentino, o “toco y me voy”; ou como ensinava noutra linguagem o velho Gentil Casrdoso: “Quem se desloca, recebe; quem pede tem preferência”. É preciso perna e vontade, pra isso acontecer.
Seja benvindo, Dabove. Pouco papo e ... mucho trabajo, hermano.