Ex-jogador do Botafogo, Palmeiras, Bahia e Seleção vende roupas usadas em feira e diz ter perdido dinheiro com uma mulher, carros e maus investimentos: 'Fiz tudo errado'
Tasso Franco , da redação em Salvador |
20/11/2013 às 23:24
À la Bob Marley, Perivaldo vende casacos e outras roupas usadas para sobreviver em Lisboa
Foto: Infoesporte
Bob Marley pelo visual, Peri pelo nome. E brasuca pela origem. É assim que Perivaldo Lúcio Dantas, 60 anos, é conhecido pelos vendedores da Feira da Ladra, em Lisboa. É no tradicional mercado da capital portuguesa que o ex-jogador da Seleção, do Botafogo, Bahia, Palmeiras e Bangu vende roupas e objetos usados para se sustentar. Perivaldo vive em Lisboa há 23 anos e perdeu o contato com quase toda a família no Brasil. Só não perdeu a boa disposição e a alegria de viver.
Como lateral-direito, para ele, só Carlos Alberto Torres e Toninho Baiano foram superiores. Mas, se em campo, era capaz de acertar cruzamentos na medida, como o para Mendonça em vitória sobre o Fla por 3 a 1 nas semifinais do Brasileiro de 1981 (assista ao vídeo acima), na vida disse ter cometido erros capitais. Desde os amigos aos conselhos ruins responsáveis pela mudança do rumo da sua vida. Uma mulher, carros e maus investimentos foram os grandes problemas, segundo o baiano, que afirmou não ser alcoólatra mas parou para beber uma cachaça. E ele se assumiu como grande culpado pela situação difícil em que se encontra.
- O erro foi meu. Vim para cá, fiz tudo errado, foi a morte do artista. Eu tinha um Rolex de ouro que valia 50 mil dólares e tinha diamante. Vendi, gastei tudo. Comprei carros, vendi também, fui gastando tudo o que tinha e depois não consegui recuperar. Emprestei dinheiro a amigos, dei dólares a um cara para comprar umas ações para mim e ele desapareceu com o dinheiro. Se eu tivesse juízo, até tive um bom trabalho quando cheguei em Portugal. Em 1992, trabalhava como cozinheiro em Porto Santo (Madeira), ganhava um dinheiro bom naquela época, uns 4 mil dólares por mês. Mas conheci uma pessoa em Lisboa, uma portuguesa, que nem vale a pena falar, dos olivais sul, larguei tudo por ela...
As melhores mulheres da minha vida foram a sul-coreana, que me ajudou muito, e a minha esposa, que está em São Paulo e ainda me ajuda - revelou em tom emocionado o Rei da Pituba, que não quis se alongar sobre seu passado e família (assista ao vídeo abaixo com outros depoimentos).
Perivaldo considera a forma como chegou a Lisboa outro erro capital para a situação em que se encontra - o ex-jogador disse no último sábado à reportagem do GloboEsporte.com que aluga vaga em quarto de albergue, graças ao faturamento na feira e à ajuda mensal dada pela ex-exposa, que confirmou a informação, apesar de as câmeras do "Fantástico" o terem flagrado como morador de rua. E foi, segundo ele, na saída da Coreia do Sul, onde atuou por três anos, que sua vida começou a mudar para pior.
Antes de terminar o contrato, disse ter resolvido voltar ao Rio para tentar a sorte e depois ter ido para Lisboa sem qualquer garantia, aconselhado por alguns amigos.
- Foi uma das maiores besteiras da minha vida. Eu tinha um contrato de 100 mil dólares lá em Seul. Ganhava bem, uns 9 mil dólares por mês, era muito dinheiro. Mas rescindi o meu contrato, voltei para o Rio e me disseram para vir para cá, para Lisboa, que ia aparecer um clube. Nunca apareceu nenhuma proposta boa e eu fui ficando, fui me acomodando e trabalhando aqui e ali.
O ex-jogador disse que jamais usou drogas nem foi alcoólatra. Mas parou durante a reportagem para beber uma cachaça e disse que a mulher, por telefone. reconhece quando bebeu.
- Bom, eu não tenho vícios, não uso droga. Eu tomo assim uma bebidazinha ou outra, mas não tomo muito, porque a minha mulher não gosta e ela diz que sente o cheiro da bebida por telefone. você não sabe o que significa sentir o cheiro da bebida por telefone, significa que a voz, que a língua, já não é igual.
Perivaldo montagem (Foto: Infoesporte)
Camisas, camisetas, casacos, celulares e fones são alguns dos objetos que ele vende, mas sem muito sucesso com a clientela. A feira da Ladra é a mais antiga de Lisboa e é conhecida por vender todo tipo de produtos e de todas as qualidades. Todas as terças-feiras e sábados de manhã, Perivaldo chega na área carregando uma mala com tudo aquilo que reuniu durante a semana para ganhar uma grana. Mas, às vezes, sai de bolso vazio.
- O Perivaldo? O ex-jogador de futebol? Ele está por aí, deve estar na praça central porque ele nunca falha numa feira - comentava um vendedor de discos do mercado indicando para o largo principal, onde se encontrava o Peri da Pituba, como era chamado carinhosamente nos clubes por onde atuou no futebol brasileiro.
O vendedor
Já passava das 11h30m da manhã de sábado quando a reportagem do GloboEsporte.com encontrou Perivaldo chegando à feira.
- Você sabe que acordar cedo para mim é um problema - disse, brincando.
Depois, sempre se desculpava com um sorriso nos lábios enquanto arrumava suas coisas em cima de um plástico no chão.
- Eu vendo aquilo que pinta, roupa minha, coisas que me deram, celular, é isso aí. Às vezes venho para cá e ganho uns 300 euros, outras vezes não dá nem para ganhar um - explicou.
Enquanto negociava um casaco com um senhor que reclamava da sujeira do tecido, Peri da Pituba tentava ganhar o cliente.
- É só limpar, é só limpar - dizia Perivaldo, tentando convencê-lo, sem sucesso.
Sem contato com filhos e netos
Longe da família, o baiano diz ter mais amigos do que dinheiro e por isso escolheu vender na feira, para passar o tempo e jogar conversa fora.
- Vim aqui fazer compras uma vez e fui gostando, isso é mais uma 'higiene mental', serve para passar o tempo. Eu gosto de estar aqui. Todo mundo me conhece. Perivaldo daqui e brasuca dali, e o cara vai curtindo, sem chatice, fujo do estresse e é isso. Pronto! Eu gosto disso! Mas eu agora queria ver se voltava para o Brasil, queria muito assistir à Copa do Mundo, tenho lá os meus netos que nunca vi - relatou o baiano, que vive em Lisboa há 23 anos e diz nunca ter retornado à sua terra nesse período.
Convocado para a Seleção por Telê Santana em 1981, Perivaldo disse que vive em um quarto alugado no Centro da cidade e que paga o aluguel com algum dinheiro recebido da primeira esposa, que vive no interior de São Paulo e com quem retomou contato há 12 anos. Para o resto, afirma que se arranja como pode com algum dinheiro que vai ganhando na feira e também recebe um salário da Coreia do Sul, onde jogou futebol no fim da carreira, conheceu sua segunda esposa e teve um filho.
- Tenho 12 filhos. Tenho filho em Seul, em El Salvador, em São Paulo, na Bahia, no Rio de Janeiro no Ceará. Em todo o mundo. Eu não tenho filho, eu fiz filho - contou, sorrindo.