O ouro no Pan de 1987 é a imagem mais marcante da carreira de Ary Vidal, mas outros grandes momentos se enfileiraram desde 1959
Globo , Rio |
28/01/2013 às 17:00
Ary Vidal agachado no canto direito da foto
Foto: Globo
Histórias de técnicos que mudam o jogo no intervalo se espalham por todos os esportes, mas, trocando a ordem das palavras, técnicos que mudam a história do esporte no intervalo são raros. Quando a seleção brasileira de basquete foi para o vestiário na metade da decisão dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987, carregava o peso de uma derrota por 14 pontos.
As palavras do treinador Ary Vidal a portas fechadas para seus comandados, ainda que tenham sido apenas "voltem lá e joguem", mudaram a trajetória da bola laranja no Brasil. Oscar, Marcel & Cia voltaram, jogaram, reagiram e arrancaram uma medalha de ouro memorável no quintal dos americanos. Não foi o maior feito do basquete verde-amarelo, mas foi o mais emblemático.
Lembrado até hoje pelos torcedores, 25 anos depois, o triunfo ganhou uma nota triste nesta segunda-feira. Aos 77 anos, Vidal morreu em sua casa no Rio de Janeiro e transformou em memória mais de meio século de dedicação à modalidade que amava. O enterro será nesta terça-feira, no Cemitério do Caju, na zona norte do Rio de Janeiro.
Portador de problemas renais e cardíacos crônicos, Ary Vidal apresentou um quadro agudo e foi internado em estado grave no dia 23 de outubro do ano passado no Hospital São Lucas. No dia 28 de dezembro, quando completou 77 anos, deixou o CTI e foi transferido para o quarto.
- É um momento muito triste para o esporte brasileiro, e muito mais difícil para mim, que sou amigo pessoal dele. O Ary foi um dos melhores profissionais que o basquete já teve, um técnico que deixou sua marca por onde trabalho - declarou o presidente da Confederação Brasileira de Basketball, Carlos Nunes.
O ouro no Pan de 1987 é a imagem mais marcante da carreira de Ary Vidal, mas outros grandes momentos se enfileiraram desde 1959, quando iniciou os trabalhos de técnico ao assumir o Tijuca Tênis Clube, no Rio. Passou por diversos clubes, incluindo Flamengo, Vasco, Fluminense, Minas e Corinthians de Santa Cruz do Sul, pelo qual foi campeão brasileiro em 1994.
Pela seleção brasileira, o treinador chegou a comandar a equipe feminina, mas por um período curto - em 11 partidas, venceu oito e perdeu três. Na masculina, construiu uma trajetória muito mais sólida, com 124 jogos.
O ponto alto foi a consagração em Indianápolis. Naquela época, os Estados Unidos ainda não usavam os astros da NBA em competições internacionais. Mas o time universitário que defendeu o país em 1987 tinha craques do nível de David Robinson, que mais tarde se tornaria um dos maiores pivôs da liga profissional.
Os donos da casa massacraram o Brasil no primeiro tempo, chegaram a abrir 22 pontos e foram para o intervalo com 14 de vantagem. Àquela altura, a torcida não imaginava que o ouro podia escapar. Mas o time de Vidal voltou endiabrado para a segunda etapa e conseguiu uma virada improvável, quase impossível. Inspirado, Oscar Schmidt foi o cestinha da final com 46 pontos, seguido pelos 31 de Marcel. A choradeira na quadra após a vitória por 120 a 115 está até hoje no imaginário do torcedor brasileiro.