Reprodução de matéria publicada em A Tarde
Da Redação , Salvador |
25/03/2024 às 19:42
Buracão
Foto: Bernardo Rego
Como boa parte da população de Salvador, o publicitário Marcelo Chaves vem acompanhando, nos últimos meses, a polêmica em torno da construção de novos edifícios na Praia do Buracão, no Rio Vermelho. Frequentador do local há 30 anos, Chaves tem especial interesse nos desdobramentos da história – mas notou que havia muita desinformação circulando nas redes sociais, que acabavam repercutindo na imprensa.
“Tinha muita coisa diferente sendo dita, então fui procurar a empresa para entender direito o que eles queriam fazer”, conta. “A partir dessa conversa, dois pontos se destacaram para mim. O primeiro, sobre o sombreamento do qual tanto falam: ele já existe hoje. E segundo, que o projeto prevê a requalificação de toda aquela área.”
A obra é da incorporadora OR Empreendimentos (Grupo Novonor) e seu projeto prevê a construção de dois prédios habitacionais, de 15 e 16 andares, distantes cerca de 40 metros um do outro, na Rua Barro Vermelho, totalizando 47 apartamentos. É uma configuração consideravelmente diferente do que a que circula nas redes sociais, que mostra três torres de 18 andares, bastante próximas entre si, com mais de 100 unidades habitacionais no total.
As obras devem começar entre o final de 2025 e início de 2026 e também preveem a revitalização de todo o entorno dos empreendimentos, englobando o acesso propriamente dito à Praia do Buracão e iluminação noturna da praia – reivindicação antiga de moradores e frequentadores.
Para Marcelo Chaves, o empreendimento e as requalificações previstas tendem a aumentar a segurança da área – de acordo com ele, motivo de frequente preocupação. “Enquanto o objetivo de muitas pessoas ali é o lazer, há aquelas com segundas intenções”, relata. “Pequenos furtos começaram a acontecer, assim como roubos de carro, por exemplo. Ficou perigoso e você não pode ir em qualquer dia ou horário, por isso acredito que essa revitalização do entorno vai fazer com que ela seja melhor frequentada nesse sentido.”
Requalificação
De acordo com o projeto da OR, essa requalificação urbana custará R$ 4 milhões e cobrirá uma área de 6,6 mil m², com ações nas Ruas Barro Vermelho e Mirante. Além da reconstrução da escada de acesso à praia, o projeto prevê a instalação de dois postos salva-vidas, de duchas públicas e de postes de iluminação no calçadão da faixa de areia da praia. Nas duas ruas, que receberão nova pavimentação, as áreas de estacionamento serão ampliadas e mais bem demarcadas, a calçada e a iluminação serão melhoradas, um mirante será construído e, ao longo de toda a área, haverá novo mobiliário urbano – itens como bancos, bicicletários e lixeiras.
Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Claudio Cunha ressalta a importância dessa requalificação do entorno e a legalidade do empreendimento. “É importante que empreendimentos assim tragam melhorias para a sua volta, é uma questão de sustentabilidade”, avalia. “A Ademi defende e preza muito pela segurança jurídica e legalidade das coisas, em especial a obediência da lei no que diz respeito à sustentabilidade. Essa reurbanização é algo que beneficia não apenas essa área, mas toda a cidade.”
Muitos desses detalhes do empreendimento eram desconhecidos pela população em geral – até porque o projeto ainda não está totalmente concluído –, mas quando a história dos espigões veio à tona e as especulações começaram, a OR resolveu conversar pessoalmente com alguns moradores para explicar seu projeto.
Um desses moradores foi o engenheiro civil Arthur Velloso, que mora há cinco anos no Edifício Magistrale, na orla da Praia do Buracão. Para ele, esse esclarecimento foi essencial para entender o que está sendo planejado. “Não costumo emitir nenhum tipo de opinião em função de especulações e achismos, então a conversa com a OR foi bastante esclarecedora”, conta.
Um dos pontos importantes desse encontro, ressalta Velloso, foi a abertura que a empresa deu para que os moradores sugerissem melhorias que podem ser incluídas no projeto. “Lembro que falamos sobre a rede elétrica, porque há muita falta de energia na área por causa das intempéries, e sugerimos que a OR aterrasse a rede elétrica”, conta. “O porta-voz se mostrou favorável à sugestão e afirmou que realizaria estudos para tentar viabilizar isso.”
Vizinho de Arthur, o empresário Rodrigo Palhares, que mora a três anos na área, lembra que recebeu informações sobre os novos empreendimentos de diferentes maneiras. “Escutei muitas coisas ruins e poucas coisas boas, mas sempre fui a favor da evolução, então deixei minha cabeça aberta, aguardando as cenas dos próximos capítulos”, relata. “E essa conversa com o porta-voz da OR foi muito esclarecedora. Além de uma explicação muito embasada, pautada em dados e números, senti eles bem receptivos em aceitar sugestões que fizemos.”
Interlocução
Quem vem tendo essas conversas com os moradores da região é o próprio diretor-superintendente da OR na Bahia, Daniel Sampaio. De acordo com ele, a demora para que a empresa se posicionasse publicamente em relação aos ataques que o empreendimento vem sofrendo se deu porque a OR não queria falar sobre um projeto que ainda não tem registro. “Mas o clima esquentou e decidimos nos posicionar para trazer à tona a verdade sobre o que estamos planejando: um empreendimento legal, dentro do PDDU e Lei do Solo da cidade, gabaritando o que a legislação pede”, afirma.
Em novembro de 2023, o prefeito Bruno Reis afirmou que a Prefeitura de Salvador tinha uma “posição clara” sobre o assunto. “Se os requisitos legais forem preenchidos, terá autorização”, afirmou. “A gente vê muita conversa, muita discussão e, objetivamente, falta de coisas concretas.” A Prefeitura foi procurada por A TARDE para uma declaração atualizada, mas até o fechamento da edição, não obteve retorno.
No momento, segundo Daniel Sampaio, o esforço da OR é para tentar mostrar a moradores e frequentadores as intervenções que serão feitas na região e os resultados dos muitos estudos técnicos realizados no local. Para facilitar o entendimento, Sampaio vem mostrando, aos interlocutores, um vídeo com perspectivas da região após as intervenções do empreendimento – ao qual A TARDE teve acesso (veja no QRCode abaixo).
“Entre as várias pautas que os grupos contrários levantam, há a questão sombreamento, por exemplo, e fizemos um estudo longo e aprofundado sobre isso e ficou constatado que os prédios hoje existentes já sombreiam a praia e os nossos vão acrescentar apenas 7% de sombra e só no inverno, quando o clima é mais chuvoso – ou seja, é um impacto irrelevante”, destaca. “É para esclarecer esse tipo de dúvida que estamos procurando pessoas com abertura para ouvir. Essas discussões são benéficas e legítimas, e devem ser respeitadas.”
BOX COMPARATIVO
O QUE SE ESPECULA
“Serão construídos três espigões de 18 andares cada.”
O QUE DIZ O PROJETO
Serão construídas duas torres, uma com 15 e a outra com 16 andares.
O QUE SE ESPECULA
“As três torres vão formar uma barreira contra a circulação dos ventos, aumentando a temperatura na região.”
O QUE DIZ O PROJETO
Os dois edifícios estarão em terrenos independentes, afastados cerca de 40 metros um do outro, o que permite que a ventilação natural seja mantida.
O QUE SE ESPECULA
“O empreendimento causará problemas de tráfego na rua.”
O QUE DIZ O PROJETO
Serão 47 unidades com as duas torres somadas. Na análise das projeções de tráfego para 2029 e 2034, o acréscimo de tráfego gerado pelo empreendimento será insignificante.
O QUE SE ESPECULA
“A empresa sequer realizou estudo de sombreamento para desenvolver o projeto.”
O QUE DIZ O PROJETO
Estudos de sombreamento foram realizados – e não foram encontrados impactos relevantes em nenhum deles.
O QUE SE ESPECULA
“É um grave desrespeito ao PDDU da cidade.”
O QUE DIZ O PROJETO
O projeto está pautado nos parâmetros estabelecidos pela Lei Nº 9.148/2016, que dispõe do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador.
COORDENADA
Sustentabilidade pauta atuação da Ademi-BA
A sustentabilidade já se tornou um fator intrínseco dentro do setor imobiliário. Na capital baiana, a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), em conjunto com a Prefeitura de Salvador, desenvolve, discute e implementa ações sustentáveis desde antes de as práticas ESG (Governança Socioeconômica e Ambiental) virarem padrão. Salvador, por exemplo, foi a primeira cidade do País a implantar o IPTU Verde, em 2013.
“É importante que o setor imobiliário tome decisões que minimizem o impacto e levem conforto e sustentabilidade durante todas as fases de seus empreendimentos – e nossos associados entendem isso”, afirma o presidente da Ademi-BA, Claudio Cunha. E, para isso, é imprescindível que sejam feitos estudos de impacto ambiental e do bioma, e que sejam criados meios, por exemplo, de reutilizar materiais usados na obra.