Economia

EMPREENDEDORES INVISÍVEIS DE RUAS EM SALVADOR 2 : O ARTESÃO DA SÉ

Obá Dias fabrica peças em madeira nobre e as vende na praça da Sé, em Salvador da Bahia
Tasso Franco , Salvador | 27/04/2023 às 11:46
Obá Dias e as mortos e carros de madeira
Foto: BJÁ
     Em sequência a série de matérias sobre empreendedores que trabalham nas ruas de Salvador, considerados invisíveis, e que tiram o sustento de suas familias vendendo objetos de toda natureza e dão uma contribuição (ainda que indireta) ao desenvolvimento economico e social do país narro a luta pela sobrevivência de Obá Dias, 67 anos de idade, artesão e vendedor de peças de arte fabricadas na madeira em tende instalada na Praça da Sé, Salvador.

  "Aqui é meu mundo, minha vida, de domingo a domigo, no coração da cidade. Neste pequeno torno na minha tenda em frente ao Centro de Cultura Palácio da Sé, antigo Palácio Arquipiscopal, produzo meus carrinhos de madeira, motos, helicópteros, ônibus, moveis em miniatura e vivo disso", cofessa Obá na sua primeira fala.

  Obá nasceu em São Paulo diz que foi criado no Paraná e chegou a Bahia numa viagem de visita ao seu pai, o qual exercia as funções pastorais numa igreja evangélica em Santo Amaro da Purificação. "Vim visitá-lo e me apaixonei pela Bahia e decidi vir morar em Salvador", confessa.

  Você, então, já era artesão?

  "Sim. Comecei a trabalhar na arte da madeira há 53 anos, era ainda um adolescente e nunca mais parei. É o que sei fazer até hoje e vivo disso".

  O senhor tem família constituida?

  "Sim. Sou casado há 19 anos com uma baiana e vivo com ela, mas não temos filhos. Estamos muito satisfeitos com a vida que levamos".

  O senhor pensa em expandir sua arte, se organizar melhor?

  "Já estou organizado. Tenho tudo legalizado com meu cnpj da Obá Fobica Artesanatos, pago licença da Prefeitura de Salvador, uso as novas tecnologias com a Getnet, tenho pix, tenho meu cadastro de autônomo, cuido da aposentadoria, enfim, sou um cidadão normal".

  Então, não se acha invisível?

  "Nada. Dou minha contribuição - pequena que é - ao meu país, sou um cidadão digno, honrado, cumpridor de minhas obrigações e isso me dá conforto espiritual, também".

  Obá chega cedo na Praça da Sé e fica até o início das noites. Nos momentos de algum evento no centro histórico permanece mais tempo. Seus clientes - ele admite que a maioria, mas não sabe precisar qual percentual - são mais os turistas e ele adora quando ancoram Cruzeiros no porto de Salvador, pois, "eles compram bem". Em média, as suas peças em madeira, custam R$50,00 cada e são de boa qualidade.

   Como o senhor produz essas peças?

  "Tenho um fornecedor da muiracatiara - madeira nobre e dura de cor avermelhada com veios rajados que já me fornece a madeira planeada, lisa, em tiras, e aqui dou forma aos objetos. Como já sei de cor e salteado como fazer um carro, uma moto, etc, vou cortando as tiras, moldando-as, fazendo as rodas, os eixos, a cabine, e fica pronta. Dou uma lixada em algumas parte e depois passo um verniz. Em seguida empenduro no mostruário da tenda e vendo-as".

  Tem seguidores, pretende ensinar esta arte a alguém?
  
  "Eu mesmo não. Teve uma época que atuei como professor, mas vi que meu negócio era o artesanato, que gosto, tá na raiz da pessoa. Meu pai quando colocou meu nome de Obá tirou-o do Velho Testamento, é um designo. Eu adoro fazer essas peças".

  O senhor já recebeu a visita de alguém do Sebrae?

  "Até agora, não. Sei que eles orientam alguma coisa, mas não quero mudar nada. O senhor é jornalista, deve saber fazer jornalismo; e eu sou artesão".

  Um mestre?

  "Tem gente que fala isso quando aprecia minhas peças".

  Enquanto estavamos conversando chegou o vendedor de cafezinho que atende os artesãos da Sé e Obá perguntou se eu queria um café. Declinei e observei que o vendedor do café nada lhe cobrou e seguiu adiante. Perguntei: - O café é gratuito?

  "Pago por mês. Tomo um cafezinho pela manhã (eram 11 hs quando o entrevistei) e outro à tarde. No final do mês pago tudo. Aqui, na Sé, somos uma grande familia. Coheço outras pessoas:o varredor, o guarda, a baiana, artesãos e vamos vivendo como numa comunidade. O rapaz do café conhece todo mundo e vende fiado, mas recebe".

  E o almoço?

  "Todo mundo almoça por aqui - há uma feirinha de artesanato permanente na Praça da Sé - traz suas marmitas e come. Também como bananas e ovos todos os dias que são a fonte da juventude".

  Não temes o colesterol?

  "Quando posso como uma dúzia de bananas e 4 ovos por dia que é a recieta para enfrentar a velhice".

  Como o senhor vê o mundo nos dias atuais, invasões de escolas, agressões a professores v que diz ter sido professor?

  "Está uma balbúrdia. Essa geração dos jovens está confusa a inbternet encheu a cabeça dos meninos e meninas de muita coisa, esses jogos violentos, então não sei nem explicar direito. O certo é que tenho meu mundo, acho o correto, não ofendo ninguém e vivo em paz".