Derrota da seleção brasileira abala uma enorme cadeia produtiva que vai do turismo a tecnologia
Tasso Franco , Salvador |
19/12/2022 às 10:16
Rosário, a terra de Messi, vai se encher de turistas
Foto: DIV
O futebol é a atividade esportiva mais valorosa e apaixonante do planeta movimentando uma cadeia produtiva de negócios envolvendo bilhões de euros, em quase todos os países a Ocidente e a Oriente. Houve uma época em que a Ásia estava fora desse circuito e a África era uma coadjuvante distante, assim como os Estados Unidos e o Canadá. Mais recentemente, todas essas regiões estão integradas a essa grande indústria e veja que, a próxima Copa, em 2026, será disputada com 48 seleções em 11 cidades dos Estados Unidos, 4 do Canadá e 3 do México.
O Brasil, que já foi protagonista de uma Copa, em 2014, e esteve no topo das seleções por 5 vezes vive momento de baixa com a mais enfadonha seleção que já se apresentou numa competição e perdeu bilhões em negócios, em 2022, quer seja na valorização dos seus atletas da seleção e outros; quer seja das empresas envolvidas nessa cadeia produtiva - de alimentos, confecções, marketing, serviços, tecnologia, turismo e outros. Deixou-se de ganhar muitos recursos e investimentos o que pode ser considerado uma perda imensurável.
Após vencer a França nos pênaltis, depois de 3 a 3 no tempo normal e na prorrogação, e conquistar o tricampeonato da Copa do Mundo, a Argentina receberá da Fifa cerca de R$ 223 milhões como premiação pelo título, com a maior parte desse valor indo para os jogadores. Derrotados na decisão, os franceses ficarão com R$ 160 milhões. A Croácia receberá R$134 milhões e o Marrocos R$122 milhões. No total, a Fifa vai desembolsar mais de R$ 2 bilhões em premiações, 10% a mais do que na Copa da Rússia. Quartas: US$ 17 milhões (R$ 90 mi); Oitavas: US$ 13 milhões (R$ 69 mi); Fase de grupos: US$ 9 milhões (R$ 47 mi).
Mas essa é só uma parte do bolo mais visível de imediato. Quanto será a valorização dos atletas da Argentina e da França, da Croácia e do Marrocos - os 4 primeiros colocados - neste pós Copa? Estima-se em bilhões de euros. Um jogador como Enzo Fernandes, a revelação da Copa que atua no Benfica de Portugal, subiu mais de 400%. Messi, hoje, se for comercializado pelo PSG passa de 1 bilhão de reais e deve ultrapassar a cotação de Cristiano Ronaldo.
Veja, portanto, o impacto de uma Copa do Mundo nos negócios. A Argentina poderá se beneficiar no turismo e a cidade de Rosário - a terra de Messi - já faz investimentos em roteiros da vida do craque da Copa, em hotéis e pontos de atração que certamente serão lotados de novos turistas. Isso se dará também em Buenos Aires e outras localidades e a Federação de Futebol Argentina poderá angariar - como faz o Barcelona - milhares de sócios em todo o mundo graças a conquista de sua seleção e do craque Messi. Isso também acontecerá no Marrocos e na Croácia.
Infelizmente, o Brasil nunca soube capitalizar esses ativos, não cultua seus ídolos - nem Pelé - e como disse recentemente Cacá o "Ronaldo Fenômeno nas ruas do Brasil é apenas um gordo enquanto no resto do mundo um ídolo". Nosso melhor jogador dos últimos anos Neymar Jr é enxovalhado; Romário - outro grande craque - é visto como um reacionário; Garrincha um bêbado; Gerson um fumante e aproveitador que queria levar vantagem em tudo; Tostão um médico; Zagalo um broco e assim por diante.
Onde comprar uma imagem do Pelé numa loja de souvenir no Brasil? Não existe. Onde comprar uma flâmula da seleção de 1958? Não existe. Vá a Buenos Aires ou qualquer cidade da Argentina e veja o que acontece com Maradona. Tem todo tipo de objetos com a efígie de Maradona (e agora com a de Messi) à venda nas lojas e nas bancas de revistas.
Passei uma temporada de 2022 morando em Paris - maio a julho - e vi várias lojas no Halles, no La Defense, na Rivoli, etc, com imagens de Neymar Jr como garoto propaganda e filas nas portas nas vendas de tênis; o que também já tinha presenciado em Barcelona, no ano de 2005, com Ronaldinho Gaúcho.
A Copa do Mundo do Catar - grande sucesso em organização e difusão - passa pelo Brasil sem que o país, penta campeão de futebol mundial, tire proveito disso. Também, com um governo mambembe e caindo pelas tabelas, saínte; e um entrante que só fala em gastança para atender bolsas de toda natureza, não se pode esperar nada de alvissareiro. Continuaremos a ser o país em que as oportunidades passam à nossa frente e não sabemos tirar proveito delas. (TF)